- Revista Veja
Chama atenção, e até surpreende, a rejeição
ao nome de João Doria nas internas dos partidos envolvidos nas articulações do
chamado centro
As forças políticas que procuram se posicionar como alternativa às candidaturas de Luiz Inácio da Silva e Jair Bolsonaro não se impressionam com o retrato das pesquisas em que os dois aparecem como os preferidos do público.
Seguem na construção de um projeto
unitário. Embora ainda falte o candidato que querem, surge entre eles um
consenso ainda não exposto de público sobre o nome que não querem: o do
governador João Doria. Antes de entrar no relato sobre a reprovação ao mais
vistoso oponente do presidente da República, vamos à atualização do contexto de
atuação do grupo.
O chamado centro considera que a predileção
nas pesquisas reflete grau de conhecimento, não necessariamente faz um retrato
fiel do quadro eleitoral para 2022. Portanto, os cerca de 50% que dizem
preferir não votar em Lula nem em Bolsonaro sinalizam a existência de espaço
para opções a essa dicotomia. Diante disso, o dito polo democrático prossegue
no esforço e já delineia as próximas etapas.
São duas, de imediato. Manifestações
públicas de diversas lideranças em prol da viabilidade eleitoral do projeto
alternativo são um passo. O outro, a produção de fatos políticos para estimular
a ideia de que um caminho do meio é possível e atrair o contingente de
eleitores que não se enquadram nem entre os adeptos do petismo nem entre os do
bolsonarismo.
A ansiedade geral é para a apresentação de
um nome que materialize, vocalize e capitalize esse sentimento existente, mas
ainda claramente difuso. Isso não existe no momento nem deverá existir antes da
entrada das eleições na cena da vida real dos brasileiros. Vale dizer, no
início de 2022. A despeito dessa indefinição, dirigentes, parlamentares,
governantes e pretendentes de partidos como PSDB, DEM, Cidadania, Podemos, MDB
e PSD já conversam em torno de um cenário de candidaturas.
Consideram que Luciano Huck e Sergio Moro já pularam fora desse barco. O apresentador e o ex-juiz, segundo essas análises, não concorrerão, mas podem ter papel importante como apoiadores devido à popularidade de ambos. João Amoêdo, na interpretação deles, não tem viabilidade eleitoral.
“O centro se move para isolar Doria, vê
Huck e Moro fora do jogo e acha que Ciro seguirá em faixa própria”
Não contam mais com Ciro Gomes, pois é
candidato consolidado no PDT, corre em faixa própria na montagem interna e na
apresentação externa da campanha. Contratou marqueteiro e iniciou a divulgação
de vídeos em que aparece com a imagem suavizada, num sinal claro de que não
desiste. Isso fere um dos pré-requisitos da articulação do centro, que é a
disposição individual de se curvar à decisão coletiva.
O governador de São Paulo é um capítulo à
parte. Não só por não ter conseguido ainda transformar em ativo eleitoral o
êxito no fornecimento da vacina que atende a maioria dos brasileiros. Chama
atenção, e até surpreende, a rejeição ao nome de João Doria nas internas dos
partidos envolvidos nas articulações.
Ao menos três altos dirigentes dessas
legendas afirmam com clareza que a ideia é isolar Doria de maneira que ele, se
insistir na candidatura, tenha de caminhar sem apoio do grupo. Um deles diz o
seguinte: “Ninguém quer o Doria, só ele não vê isso”. Outro o chama de “Bolsonaro
envernizado”.
A conferir se a objeção resiste a um
eventual crescimento do governador na preferência do eleitorado quando a
campanha realmente começar, mas o quadro de hoje é adverso. A razão é resumida
numa palavra (“estilo”) e detalhada em alguns adjetivos: desleal, obstinado em
excesso, impositivo e açodado.
A resistência começa em casa. No PSDB,
Doria não é tido como candidato natural, justamente para conter o ímpeto dele é
que foram postos à mesa os nomes de Tasso Jereissati, Eduardo Leite e Arthur Virgílio
Neto. Note-se, com a anuência da bancada federal e da maioria dos diretórios.
Mesmo em São Paulo, não há unanimidade no apoio ao governador.
João Doria quer a realização de prévias
para escolher o candidato em outubro próximo, abertas ao 1,1 milhão de
filiados, sendo mais da metade de São Paulo. Seus adversários querem adiar e
restringir o colégio com proporcionalidade e peso nos votos.
Isso será decidido nos próximos dez dias,
mais exatamente em 31 de maio, quando, então, ficará exposta a força ou a
fragilidade de Doria dentro do PSDB, com repercussão sobre o plano dos partidos
empenhados na busca de um denominador comum para enfrentar Bolsonaro e quem
vier do PT em 2022.
Publicado em VEJA de 26 de maio de 2021, edição nº 2739
Um comentário:
Apoio o programa da Rede da Marina Silva e admiro o conhecimento e pó governo de Flávio Dino.
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