- Folha de S. Paulo
Quem não sabe fazer perguntas não tem
chance contra respostas que não querem dizer nada
O general Eduardo Pazuello, quem diria,
hein? Promovido da chefia do serviço de rodos e vassouras dos quartéis ao posto
de ministro da Morte por Jair Bolsonaro, botou no bolso seus inquiridores
na CPI da Covid apenas por vencê-los numa arte que se julgava extinta:
a oratória. Resposta após resposta, quase se podia ver seu sorriso sob a
máscara, ao ouvir sua voz ressoar triunfalmente no auditório sem ser intimado a
detalhar ou fundamentar suas declarações.
Se alguém se limitasse ao áudio dos interrogatórios de Pazuello, só escutaria a sua voz —firme, sonora, em alto volume, temperada em anos de ordens na caserna a soldados, cabos e sargentos, com eventuais humilhações a um ou outro ao obrigá-lo a se fazer de mula e puxar carroça na frente da tropa. Em contraposição, tínhamos a elocução tíbia, raquítica, titubeante e súplice dos senadores encarregados de lhe fazer perguntas.
Perguntas essas que só vinham à tona depois
de 15 minutos de discurso por parte de cada senador —talvez de grande valia
para os anais da CPI, mas de eficácia zero para fazer o inquirido falar.
Pazuello foi brilhante ao enrolar, tergiversar, dar voltas e adiar cada
resposta de modo a que, ao fim desta, ninguém mais se lembrasse da pergunta.
Foi também eficiente ao interromper, transferir culpas, mentir e
desmentir antigas declarações e mesmo as que tinha acabado de pronunciar e
repetir com tanta ênfase essas negações que parecia até acreditar no que estava
dizendo.
Mas o ponto alto era quando Pazonaro, digo
Bolsuello, recebia certas perguntas dos senadores e as analisava, criticava,
aferia seu grau de precisão e orientava o relator e o presidente da CPI sobre
como elas deveriam ser feitas e como ele pretendia respondê-las. "Eu vou
explicar de novo e os senhores vão entender", dizia, soberanamente.
Está certo. Quem não sabe perguntar precisa de alguém que lhe ensine.
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