- Folha de S. Paulo
Combate à epidemia se reduz a evitar UTI
lotada; CPI não resolve desgoverno
O combate à epidemia limita-se no momento a
evitar que as UTIs
lotem, que um excesso de pessoas morra asfixiada e que não aconteça
escândalo maior por causa desses horrores. É o que se pode dizer, com
desassombro temperado de resignação deprimida. Deve ser assim até o fim da
epidemia.
Quando não há lotação de UTIs, falta
de oxigênio nos hospitais ou novos “picos recordes”, leva-se a vida,
nos governos ou nas ruas, morram 500, 1 mil, 2 mil ou 3 mil pessoas por dia,
seja qual for o “platô” da temporada. Os estados, na prática, jogaram a toalha.
Governo federal não há.
Haveria como remediar essa situação, e
pouco, se Bolsonaro evaporasse. Não vai acontecer em tempo hábil, se tanto.
A CPI da Covid é necessária, claro. Talvez
a CPI encaminhe (para quem?) medidas judiciais contra Jair Bolsonaro (hum...)
ou Eduardo Pazuello, daqui uns meses, semanas ou até daqui a pouco, como o tal
“relatório
parcial”, o que é necessário, claro. E daí?
A administração federal da epidemia continua quase tal e qual descrita pelo general Pesadello: Bolsonaro sabota as medidas sanitárias dos “idiotas” e o ministro da Saúde tenta fingir que não é com ele. Marcelo Queiroga talvez não consiga ser tão incapaz quanto o brucutu mendaz que é Pesadello. Mas produz o quê?
O controle da epidemia depende, bidu, de
antecipar mais vacinas. Não há mais vacinas, não há aceleração do cronograma. A
partir de meados de junho, talvez faltem até as doses previstas nos planos mais
realistas. O problema crucial é o atraso das importações de matéria prima da
China, que talvez fosse atenuado por uma conversa
séria de um governo do Brasil com o da China (hahaha). É o assunto
central da vida, da educação, da fome, da sanidade, da economia. A gente não
trata a coisa assim. Discute o ignóbil Pesadello.
Queiroga diz que Bolsonaro tem “excelente
relação” com a China. Disse também essa outra sabujice repulsiva e marqueteira,
segundo registro da Agência Brasil: “É importante passar uma mensagem positiva
para a sociedade brasileira, e não essa cantilena de que está faltando [matéria
prima importada de vacina]. O Brasil precisa de tranquilidade para superarmos
juntos essa dificuldade sanitária”.
Controlar os riscos da epidemia depende de
coordenação nacional. Graças à descoordenação, a Bolsonaro, a variante
de Manaus se espalhou pelo país, causando a desgraça maior sabida. Em
breve, talvez ocorra desastre semelhante com uma possível variante
indiana assassina.
Monitorar de modo consequente, prático, a
epidemia, depende de testagem em massa e de estudo nacional e coordenado das
variantes do vírus. No domingo, o lépido e antenado Queiroga disse que está “em
estudo” uma campanha de testagem. Já, Queiroga? Que rápido.
Arrumar mais vacinas depende de trabalho
para facilitar a aprovação de novos imunizantes. O que o governo faz para
acelerar, segundo critérios técnicos, a compra de vacina russa, indiana ou inca
venusiana? Não há sentido algum de emergência.
Os estados relaxam as restrições de
movimento e negócios, pois não têm mais força ou ânimo políticos para impô-las,
de resto sabotadas, vamos repetir, por Bolsonaro. Tentam agora apenas evitar o
colapso das UTIs.
Se não houver nova variante assassina, a epidemia vai morrer de morte morrida, depois que uma quantidade grande de gente tenha sido morta ou infectada e outro tanto tenha sido vacinada, daqui a alguns meses. É praticamente o plano Bolsonaro 2 (o plano 1 não tinha nem vacina, era pura morte de rebanho): deixa morrer.
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