- Folha de S. Paulo
Receio que Bolsonaro já tenha cometido
tantos despautérios que anestesiou a sensibilidade pública
A seguir nessa toada, bastarão um cabo e um
soldado da PM munidos de ordem judicial para apear Jair Bolsonaro da
Presidência. O governo enfrenta batalhas em vários fronts —e está perdendo
todas.
O teatro de operações mais vistoso é a CPI
da Covid. Os depoimentos vêm não apenas escancarando o completo despreparo do
governo para lidar com a crise como o seu descaso para com o que se
convencionou chamar de verdade. Para proteger o presidente, ex-ministros não
hesitam em cair em contradições flagrantes e sustentar o insustentável.
O campeão foi o ex-ministro Eduardo Pazuello. Para tentar conciliar as declarações do presidente sobre a Coronavac com a tese de que ele não atrapalhou a política do Ministério da Saúde de aquisição de vacinas, Pazuello basicamente defendeu que o que Bolsonaro diz não pode ser levado a sério.
Outra esfera em que o governo vem sofrendo
desgastes é a da corrupção. A operação da PF no Ministério do Meio Ambiente,
autorizada pelo STF, mostra que há indícios fortes de corrupção nos altos
escalões da administração.
Igualmente comprometedor é o chamado "tratoraço",
o esquema, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, pelo qual o governo
Bolsonaro compraria apoio parlamentar liberando emendas num orçamento paralelo
e superfaturado. O brocardo bolsonarista "pelo menos não tem
corrupção" fica cada vez mais insustentável.
Só o que pesa a favor do governo é que a
economia sofreu menos do que se esperava com a segunda onda da epidemia. Mesmo
assim, inflação e desemprego seguem em alta.
Não sei se o cabo e o soldado serão
chamados a agir. Razões jurídicas e morais para fazê-lo não faltam. O que falta
é romper a inércia política. Mas receio que Bolsonaro já tenha cometido tantos
despautérios que anestesiou a sensibilidade pública. Nada mais que ele faça vai
parecer chocante o bastante para motivar as pessoas a exigir sua destituição.
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