Folha de S. Paulo
Presidente não busca urna segura, mas um
pretexto para não entregar a faixa em 2022
Jair Bolsonaro dedicou os últimos dias à
preparação do golpe que pretende liderar em outubro do ano que vem. Ao longo da
semana, ele repetiu suspeitas vazias de fraude nas urnas eletrônicas, insinuou
que pode se recusar a deixar o cargo e pediu apoio para um levante caso a
esquerda vença a eleição.
O presidente tenta adicionar novos
elementos à teoria que serve de base para sua conspiração. Com o objetivo de
instigar bolsonaristas mais radicais, ele inventou a existência de um conluio
entre partidos políticos e ministros do STF para reabilitar o ex-presidente
Lula, fraudar a disputa de 2022 e dar a vitória ao petista.
"Vamos ter problemas no ano que vem. Como está aí, a fraude está escancarada", disse, na quinta (1º). "Tiraram o Lula da cadeia, tornaram ele elegível para ele ser presidente na fraude. E isso não vai acontecer."
Bolsonaro inaugurou uma nova fase de seu
plano depois que uma articulação política enterrou
a proposta do voto impresso na urna eletrônica. Ao perder esse joguete e
observar a vantagem de seu principal adversário nas pesquisas eleitorais, o
presidente decidiu falar com mais clareza na possibilidade de um golpe.
"Eu
entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na
urna de forma limpa. Na fraude, não", afirmou. "Não vou admitir um
sistema fraudável de eleições."
O presidente nunca apresentou o menor
indício de fraude e já sabe que o sistema de votação não deve mudar até o ano
que vem. Bolsonaro não quer contestar a segurança das urnas, mas encontrar um
pretexto para não entregar a faixa em 2022.
Pela segunda vez, o presidente indicou que
tem medo de ir para a cadeia se a esquerda voltar ao poder. Na quinta, ele
citou a prisão
da ex-presidente boliviana Jeanine Añez,
acusada de conspirar contra a democracia. "Estão sentindo alguma
semelhança com o Brasil?", perguntou.
Em seguida, Bolsonaro pediu apoio aos que
cobram "medidas drásticas" do governo. "Eu não vou chutar o pau
da barraca. Mas, se chutarem, a força é muito maior do nosso lado."
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