O Globo
A PEC dos Combustíveis é o item prioritário na volta dos trabalhos do Congresso na próxima terça-feira. O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem dito a aliados que a ideia do fundo de estabilização está descartada, mas que haverá uma reunião de líderes esta semana para debater o assunto. No Senado, Rodrigo Pacheco também sinalizou que a discussão do projeto será inevitável, embora ninguém saiba ainda sobre qual texto trabalhar. Lira ainda pretende conversar com Pacheco sobre dar andamento à reforma tributária, buscando pontos de consenso entre as duas Casas, mas, por enquanto, o que está acordado no Senado é o início da tramitação da PEC 110, de relatoria do senador Roberto Rocha (PSDB-MA), na CCJ, e não a reforma do Imposto de Renda, já aprovada na Câmara. Nos bastidores, entretanto, deputados e senadores só pensam nas eleições de outubro, o que dificultará a aprovação de qualquer reforma relevante este ano.
Risco Bolsonaro
A denúncia da Polícia Federal de que
Bolsonaro cometeu crime de quebra de sigilo e o novo embate com o Supremo
Tribunal Federal reforçam a visão de economistas no mercado financeiro de que o
presidente virou um “pato manco” em seu último ano de mandato. Segundo o
economista-chefe de um grande banco, o presidente já perdeu o mercado desde a
PEC dos precatórios e as notícias da última sexta-feira só reforçam que a
preocupação dos investidores neste momento está em desvendar o projeto
econômico de Lula, que lidera as pesquisas. Sérgio Vale, economista-chefe da MB
Associados, também avalia que o enfraquecimento político de Bolsonaro pode
elevar o risco fiscal no país. “Precisamos perceber o grau de estrago fiscal
adicional que o governo pode fazer para tentar ganhar popularidade e um
presidente emparedado pode tentar correr para uma piora fiscal eleitoreira”,
afirmou.
Mundo paralelo
Em um discurso de mais de 35 minutos para
apresentar o resultado fiscal do país, o ministro Paulo Guedes chamou de
“extraordinário” o déficit primário de 0,4% do PIB do governo federal este ano,
ou R$ 35 bilhões. Além de causar espanto o ministro comemorar um número
negativo, a projeção contida no Orçamento de 2022 é de aumento do déficit, para
R$ 79 bilhões, sem contabilizar várias promessas eleitorais do presidente
Bolsonaro, como a PEC dos Combustíveis. Por isso, o rombo deste ano deve passar
de R$ 100 bilhões. Apesar de ter estudado em Chicago, o ministro mostrou
novamente que é pouco afeito aos números. Disse que a inflação no governo Dilma
chegou a 15%, quando na verdade a taxa do governo Bolsonaro superou a do
governo petista (10,74% contra 10,71%). Enquanto Guedes dá ares de propaganda à
divulgação de qualquer indicador, a realidade da economia é a redução gradativa
dos principais índices de confiança, como mostrou a Fundação Getúlio Vargas
(Ibre/FGV). Veja no gráfico as quedas da indústria, do comércio e dos serviços
nos últimos meses.
Indicadores de confiança da indústria, do comércio e dos serviços estão em baixa Foto: Editoria de Arte
Demanda por crédito
A demanda por crédito dos consumidores subiu 6% em 2021, segundo indicador da Boa Vista Investimentos antecipado pela coluna. Um dado que chamou atenção no índice é a forte discrepância entre o crédito financeiro, concedido pelos bancos (18,1%), e o não financeiro (2,2%), como os crediários de lojas e cartões de grandes redes do comércio. Segundo o economista-chefe da Boa Vista, Flávio Calife, essa diferença reflete o fechamento do varejo na pandemia e tem impacto maior nos consumidores de baixa renda, que utilizam mais esse tipo de produto financeiro: “Além disso, os bancos têm maior capacidade para avaliar riscos em épocas de crise e aumento da inadimplência”, explicou.
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