Folha de S. Paulo
Descaso com ações de Bolsonaro para
armamento é ameaçador para o futuro
O incompreensível descaso com as medidas
de Bolsonaro para armar parte da população, sendo tantas as implicações
nocivas daí advindas, é tão ameaçador para o futuro próximo quanto a própria
ação armadora de Bolsonaro.
Recente descoberta no Rio indica que armas
de combate, modernas e caríssimas, estão entrando em alta quantidade e tomando
destinos imprecisos. Chegam em importações dadas como legais, amparadas
nos atos a respeito, repletos de lacunas, emitidos por Bolsonaro.
Com permissões para colecionadores,
atiradores e outros, um casal jovem importava lotes volumosos de armas, dezenas
de fuzis modernos e ainda metralhadoras, pistolas, revólveres e projéteis aos
muitos milhares. Dispensadas, agora, as autorizações e a vigilância do
Exército. O casal associava operações em Goiás e no Rio, onde foi localizada
uma casa cheia de armas em bairro residencial.
As alternativas permitidas pelas liberações de Bolsonaro são tantas —registros pessoais e comerciais sem limite, importações sucessivas, inexistência de fiscalização, entre outras— que um só operador pode armar para combate todo um contingente. É o que está acontecendo. Com quantidades ignoradas de importadores, de armas, munições e de financiadores. Certo é não haver motivo, muito ao contrário, para supor exclusividade do casal no fornecimento de armas bélicas.
A quem, é a questão mais importante. Aos
bandos conhecidos e à milícia, veio pronta a afirmação na única e precária
notícia policial (em O Globo de 26.jan) sobre o arsenal encontrado. Provável
final de um lote importante, os 26 fuzis e até metralhadora de chão, além de
outras armas e muita munição, indicam custo além do conveniente para aquela
freguesia, cliente dos preços no contrabando, solidários e sem impostos.
"Se não tiver voto impresso, não vai
ter eleição" pode ser uma frase simbólica dos tantos avisos públicos de um
propósito anti-eleitoral. Reforçado no que as atuais sondagens do eleitorado
sugerem. E já sonorizado na volta à mentira de fraude nas eleições de 2018. Tal
propósito não se consumaria no grito, nem deve contar com a sabotagem eleitoral
de outro Sergio Moro e de procuradores bolsonaristas à disposição de Augusto
Aras. Armas potentes, porém, se ajustam bem ao propósito.
As medidas de Bolsonaro para o armamento de
civis obedeceram a um plano. Mostrou-o a escalada em que se deram. Primeiro, a
posse doméstica, depois facilidades para o porte. Então os primeiros incentivos
à compra e às munições, com possível importação, e aí a posse ampliada. Até
chegar à compra de 60 armas por cabeça e mil projéteis por arma/ano. Sem
restrição a várias importações. Para atenuar o comprometimento do silencioso
Exército nesse plano sinistro, suas obrigações ligadas à posse de armas foram extintas
quase todas.
Essas medidas não vieram do nada para o à
toa. São uma denúncia de si mesmas e de suas finalidades criminosas. Fuzis
e metralhadoras não se prestam ao alegado "direito do cidadão de se
defender", argumento da má-fé de quem, assaltado, entregou sua arma, a
moto e a falsa valentia ao jovem assaltante.
As importações de fuzis e metralhadoras não
são suspeitas: são, com toda a certeza, armas para o crime. Contra pessoas,
grupos, instituições constitucionais e o regime de liberdades democráticas.
Estamos já no ano eleitoral. É preciso
identificar e comprovar o destino das armas de uso bélico importadas, em
quantidade, por decorrência de medidas programadas e impostas por Bolsonaro,
sem resistência institucional, dos meios de comunicação ou dos setores civis
influentes. Do contrário, quem puder, e tiver tempo, saia da frente dessas armas.
BOM ENCONTRO
O charlatanismo de Marcelo Queiroga vai
encontrar nos próximos dias a indignação da medicina honesta.
Mais de uma corrente de médicos e a própria
Academia Brasileira de Medicina discutem reações aos ultrajes de Queiroga à
medicina e à defesa científica da população. Queiroga tem pretensões eleitorais
na Paraíba. Sua eleição seria uma vergonha irreparável para o estado.
FONTE E PONTE
O interesse por saber os ganhos de Sergio
Moro através do escritório americano Alvarez & Marsal lembra outras investigações
no gênero. A constatação depende menos das contas pessoais do que de
investigação na empresa pagadora.
É comum que escritórios de advocacia e
consultorias sirvam ao repasse, como remunerações suas, de pagamentos em que o
pagador não pode aparecer, sob pena de causar escândalo ou incorrer em crime
junto com o recebedor.
No caso de Moro, se tal investigação fosse
desejada pelos que o questionam, precisaria ser feita nos Estados Unidos. O que
é impensável.
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