Folha de S. Paulo
Presidente se especializou em desrespeitar
a lei para obter ganhos políticos
A Polícia Federal acrescentou mais um crime
à ficha de Jair Bolsonaro. A delegada Denisse Ribeiro afirma que o presidente
participou, em agosto passado, do vazamento
de um inquérito sobre a invasão de sistemas do Tribunal Superior
Eleitoral. Além dele, foram enquadrados o deputado Filipe Barros e um ajudante
de ordens do Planalto.
O episódio desenhou mais uma peça da máquina de infrações montada pelo presidente e seus aliados. Segundo a polícia, Barros usou o posto de relator da PEC do voto impresso para pedir acesso à papelada sobre o ataque feito ao TSE em 2018. Em seguida, Bolsonaro e o deputado divulgaram numa rádio o conteúdo do inquérito sigiloso.
A violação identificada pela PF foi
cometida para municiar outra investida criminosa do presidente. Embora aquela
invasão ao sistema do TSE não tenha provocado prejuízos à votação ou à contagem
de votos, Bolsonaro distorceu o conteúdo dos documentos para reforçar seu
ataque às urnas eletrônicas.
O presidente passou meses espalhando
mentiras sobre o sistema de votação no país, com o intuito de fabricar
desconfiança sobre as eleições de 2022. O objetivo final era abrir caminho para
um terceiro crime: desestabilizar o processo de escolha de um novo governo e
arranjar uma maneira de permanecer no poder em caso de derrota nas urnas.
Bolsonaro se especializou em desrespeitar a
lei para obter ganhos políticos. A PF e o Supremo até provocaram dores de
cabeça nos últimos tempos, mas o presidente apostou na
boa vontade da Procuradoria-Geral da República, do comando da Câmara e da
estrutura de um governo que opera para acobertá-lo.
Com a impunidade garantida, Bolsonaro deu
sequência à série e aproveitou para descumprir uma ordem judicial. Na sexta
(28), ele faltou
ao depoimento que deveria dar à PF para explicar o vazamento do
inquérito sobre o ataque hacker ao TSE. O drible pode configurar crime de
responsabilidade, mas o presidente sabe que não será incomodado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário