O Estado de S. Paulo.
Presidente da perpétua república da corrupção impune se concretizará, se polarização se confirmar na reeleição
Há seis anos a república da impunidade reinante no Brasil sofreu profundo abalo com a consequência prática produzida pela adesão do País, governado em sequência por Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e, até certo ponto, Michel Temer, a acordos internacionais de combate à corrupção. A atuação de procuradores da Operação Lava Jato, juízes federais como Sérgio Moro e Marcelo Bretas e do Tribunal Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre, levou a consequências inusitadas, como a prisão de um empresário tope (e torpe), a condenação do mais popular ex-presidente da República e penas de 400 anos para um ex-governador. A adoção da delação premiada, a permissão de condenação de réus, após a segunda instância, e uma onda de popularidade de agentes do Estado envolvidos nessa ação, contudo, não impediram a sabotagem de chefões partidários e funcionários dos altos escalões de polícias e tribunais superiores as destroçarem em três anos do desgoverno da extrema direita deficiente e delinquente. Hoje, a elite dirigente política nacional suspeita, processada, condenada e aprisionada pisa nos destroços desses esforços abandonados pela cúpula dos Três Poderes da República aviltada.
O ápice da vitória consagradora dos réus
acusados e condenados em dois grandes processos julgados no Supremo Tribunal
Federal (STF) é o processo eleitoral em trâmite das eleições gerais deste ano,
em que se elegerá o sucessor no poder máximo. A julgar pelo que contam as
pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente por dois
mandatos e grande inspirador da titular eleita para mais dois, mas que perdeu
metade do segundo num processo de impeachment baseado em mágicas fiscais de
fazerem Houdini e Paulo Maluf corarem de vergonha por nunca terem chegado a
tanto. O segundo candidato à reeleição propriamente dita, Jair Bolsonaro, como
o oponente provável no segundo turno previsto pelas pesquisas, escapou de
carregar capivara e prontuário na campanha, que promete ter nível abaixo da
crítica, mercê do foro privilegiado propiciado pelo mandato presidencial. Assim
como os filhos zero-zero-um, o Flávio, e zero-zero-dois, o Carlos. Mas, segundo
revelou seu ex-segurança e tesoureiro, hoje deputado federal, Julian Lemos, no
Nêumanne entrevista, publicado no sábado, 14 de janeiro, no Blog do Nêumanne no
portal do Estadão, está longe de ter ser uma vestal grega.
Certo é que ambos estão cometendo crimes de
várias espécies na disputa do pleito presidencial, a serem julgados na Justiça
Eleitoral, embora seus doutos membros não pareçam muito dispostos a punir, em
campanhas descaradas. Lula, por exemplo, recebeu apoiadores em jantar na semana
passada, no qual um grande criminalista paulistano, o célebre Antônio Cláudio
Mariz de Oliveira, repetiu, só que agora de forma mais explícita e em tom mais
candente, o lema que bem pode servir de base teórica, não apenas para a disputa
atual, mas também para a terceira gestão dele e sexta do partido na república
perpétua da corrupção legalizada: “O crime já aconteceu, de que adianta punir?
(...) Que não se ache que a punição irá (sic) combater a corrupção”.
O interessante é que essa afirmação
coincidiu com outra, feita pelo candidato oposto, Jair Bolsonaro, que
acrescentou a suas mentiras proferidas em quantidade astronômica uma que pode
ser encontrada em qualquer arquivo analógico: a de que jamais prometeu combater
a corrupção. Como se houvesse outra explicação razoável para a escolha do
ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, para seu governo, agora prestes a ter
expelido outro apêndice, o discípulo do tirano chileno Pinochet, que anda por
aí enrolando farialimers, para usar termo da moda no noticiário político e
econômico da campanha, Paulo Guedes, ex-posto Ipiranga, atual calo do
liberalismo fake, no qual o sindicalista do soldo de caserna jamais foi sequer
vendedor de feira livre.
O interessante nessas coincidências que
fazem do bolsolulismo o produto em voga do mercado eleiçoeiro da república da
corrupção perpétua é que a frase aplaudida com entusiasmo no palanque-banquete
da prosperidade própria em nome do socialismo dos militontos também tem
usufruto a peso de ouro nas motociatas abandonadas do fascismo de botequim da
direita estupefaciente, cujo mito/minto nunca passou de um capitão-terrorista.
As palavras do jurista favorito dos garantistas do STF, muito ao gosto do
lulismo de militantos, cabem muito bem nos votos de solta-solta do general
Gilmar, do extinto tucanismo de longo bico e ventre gordo, assegurando, em
teoria, a passagem pelo segundo turno da polarização conveniente para a
concessão quadrienal de indulgências plenas do reino do venha a nós e o resto
que se dane, em cujo trono um se senta e o outro fica esperando a vez e ocupar.
Urge compreender que a corrupção da
república perpétua só tem a oferecer fome, miséria e ruínas a quem não é
convidado nem para lamber as migalhas do banquete exclusivo das elites
dirigentes, do qual são excluídos aqueles que os carcarás perpétuos do “pega,
mata e come” renegam desde sempre. E assim não seja mais!
*Jornalista, poeta e escritor
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