O Globo
A minha passagem pelo jornal Ultima Hora,
na década de 50, sob a liderança esportiva de Augusto Falcão Rodrigues,
trouxe-me a alegria de uma bela amizade com o repórter e compositor Ronaldo
Bôscoli. Foi ele que me ajudou a comprar as alianças do meu sólido
relacionamento com a minha querida Ruth, que dura até hoje.
Na festa dos 15 anos da Vera Bloch, filha de um dos meus patrões, no Edifício Chopin, em Copacabana, fui levado pelo Ronaldo para ouvir a jovem cantora Nara leão, que depois se tornaria sua namorada. Foi a cantora da Bossa Nova, da MPB, do show "Opinião", e de tantos outros êxitos, que marcaram a sua carreira na cultura brasileira. Graças ao milagre da televisão (Globoplay), podemos agora recordar a vitoriosa carreira da irmã de Danuza Leão que morreu precocemente em 1989, vítima de um tumor na cabeça.
O atual e competente trabalho é devido a
Isabel Diegues, filha do casamento de Nara com o escritor e acadêmico Cacá
Diegues, além do diretor Renato Terra. Foram lembrados os espetáculos
apresentados no apartamento do Posto 4, habitado pela família Leão. Isso serviu
de base para o documentário, sintetizado no título “O canto livre de Nara
leão”, em que desfilam momentos especiais da grande cantora, como nos
movimentos da Bossa Nova (com João Gilberto), samba de morro com Zé Kéti, MPB
com Chico Buarque, tropicália e iê-iê-iê.
Nara cantou com grandes nomes da nossa
música, como Caetano, Chico Buarque, Carlos Lyra, fez um disco com Erasmo e
Roberto Carlos, brilhou em várias parcerias com Roberto Menescal, apresentou-se
com Maria Bethânia, mas confessou que tinha uma especial predileção por
Gilberto Gil, que acaba de ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ela
foi representante da Bossa Nova e criticou duramente o regime militar. Defendia
ardorosamente a democracia e utilizava a música para emitir a sua opinião. Fez
isso sempre, de forma corajosa.
Participou de diversos festivais, num dos
quais apresentou-se cantando a famosa “A banda”, de Chico Buarque, que ganhou
uma incrível notoriedade. Em diversos momentos, alinhou-se aos tropicalistas,
mas logo voltava à Bossa Nova. Segundo Paulinho da Viola, ela era uma ponte,
unindo mundos diferentes e rompendo preconceitos. Ela e o seu violão.
Mais teria feito, diz a sua filha Isabel
Diegues, se o câncer na cabeça não lhe tivesse tirado a vida, antes do tempo.
Grande e inesquecível Nara Leão!
*Jornalista e professor
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