Folha de S. Paulo
Petróleo em alta, quebra de safra no
Brasil, luz cara e até perigo de guerra e ômicron atrapalham
A safra
de grãos do Brasil seria recorde. O preço do petróleo subiria apenas
um pouquinho mais. Com sorte, os reservatórios
das hidrelétricas encheriam ao menos a ponto de se evitar racionamento
ou aumentos
extras da conta de luz.
Faz uma semana, se escrevia nestas colunas
que o gato
da inflação começava a espiar o telhado. Agora, meros sete dias depois, o
bicho começou a subir a escada.
Sabia-se que a safra de grãos não seria recorde. As notícias pioraram. O preço do milho sobe. A safra de soja vai pior do que o esperado. É seca num lugar, chuva em excesso noutro. Rações animais e óleos, pois, ficam mais caros; falta pasto. O feijão vai ficar caro.
O preço da arroba do boi está nas alturas
históricas a que chegou no ano passado (na média do último mês, 21% mais cara
que no início de 2021). Segundo pesquisadores do Cepea, a volta das vendas para
a China sustenta os preços da carne. O Cepea é o Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura da USP.
A inflação no atacado volta a subir em
janeiro, engordada especialmente de minério de ferro e soja. Há ainda o risco
de interrupções em fábricas e portos na China, por causa da ômicron,
adiarem a volta ao normal do abastecimento de peças e insumos para a indústria.
Como se não bastasse, há o petróleo.
O preço
do barril (tipo Brent) passou dos US$ 88 nesta terça-feira (18). Tinha
havido um refresco no final do ano passado, quando o Brent raspou nos US$ 70.
Desde o início do ano, subiu mais de 12% e passou do valor mais alto em 2021.
O problema de fundo é restrição de oferta,
acompanhada de recuperação da economia mundial, que continua (mas não mais no
Brasil).
A Opep, com apoio da Rússia e de outros
amigos, aumenta a produção de modo comedido; alguns países nem conseguem
produzir a "cota" do cartel. Talvez o rumor de confusão
na Ucrânia ajude a elevar o preço do barril.
Seja qual for o motivo, o problema de base
é cartel, é política. Alguém pode imaginar Vladimir Putin se comovendo com as
queixas de Joe Biden sobre a inflação mundial?
Sim, a chuva também levou mais água para os
reservatórios das hidrelétricas do centro-sul. A esta altura do ano, não
estavam tão cheios desde 2016. Não é lá grande coisa, mas a hipótese de crise
desastrosa, racionamento, passou e bem. No entanto, o custo da luz está nas
alturas, e ainda haverá aumentos por anos, pois a conta da escassez do ano
passado, entre outros problemas, está represada.
O ano está no comecinho, e parte desses
prejuízos pode ser compensada, em tese. Mas a hipótese de baixa mais rápida da
taxa de inflação (que ainda seria de uns 5% no final deste 2022) está indo
rápido para o vinagre. A alta terrível de juros e a estagnação econômica vão
segurar preços. Obviamente, não é um consolo.
A conversa fiada e as mentiras sobre os
preços dos combustíveis voltaram ao noticiário político, mesmo durante as
férias da turma. Jair
Bolsonaro mente mais ainda: voltou a dizer que a carestia é causada
pelo ICMS e, patranha ainda mais descarada e ignara, por casa da roubalheira na
Petrobras.
Gasolina e diesel estão caros porque a
Petrobras cobra preços do mercado mundial, traduzidos pelo preço do dólar no
Brasil. Ponto. Na média de dezembro, o dólar fechou em nível próximo dos picos
de 2021 e 2020. Antes disso, real tão desvalorizado apenas se vira no rescaldo
da crise da eleição de Lula 1, em 2003.
O dólar vai ficar mais barato, de modo
relevante? Improvável, pois Bolsonaro está no poder, avacalhando o governo e
uma eleição que já seria tumultuada, com o capital estacionado fora do país,
esperando que bicho vai sair das urnas.
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