Folha de S. Paulo
Assim se configura o que é tido como
governo Bolsonaro
Quando não é milícia,
é máfia. Assim se configura o que é tido como governo
Bolsonaro. Assim são as forças operativas e extrativas instaladas no poder
por efeito de deturpação eleitoral, com fraudulências judiciais, e de
ingerência do comando do Exército no processo eletivo.
Se as motivações para a eleição deturpada
eram diferentes, seus objetivos foram antidemocraticamente os mesmos.
A ideia de que esse governo despreza o
caráter laico do Estado, associando-o outra vez à religião, não é errada, mas é
imprecisa. Bolsonaro abriu o poder e os cofres
públicos a uma corrente de pastores
evangélicos que não é mais nem menos do que máfia de falsos pastores
infiltrada no evangelismo.
É a bandidagem que multiplica alegadas igrejas para enriquecer, pela exploração criminosa da ingenuidade e do desamparo –e, esta a inovação de Bolsonaro, pela exploração das instituições oficiais e dos vários meios e cofres do governo.
Já na corrupção comprovada pela CPI
da Covid, esse ramal dos falsos pastores evangélicos apareceu nas negociatas
que Augusto
Aras, o nominal procurador-geral da República, não quer sob inquérito.
O braço da máfia agora flagrado no assalto
ao cofre da Educação, aberto "a pedido especial" de Bolsonaro como
dito pelo próprio ministro Milton
Ribeiro, está presente no Planalto e no Alvorada.
Se o ar cândido de Michelle
Bolsonaro é autêntico ou enganoso, ainda não está claro, o que
invalida as acusações e as defesas que suscita. Mas aí está, sobrepondo-se às
inexplicadas somas recebidas do miliciano Fabrício
Queiroz, o seu comprometimento como protetora do ministro e dos pastores
mafiosos que têm manejado, em proveito próprio, altas verbas da Educação.
Não só Milton Ribeiro se tornou ministro
por intermédio de Michelle. Bolsonaro não nomeou novos ministros do Supremo,
apenas plantou lá dois guarda-costas. Ao menos um deles, por insistência
de Michelle:
o pastor
André Mendonça, que já exibe o seu propósito lá. O outro atendeu a
vários interesses, entre os quais consta a bênção de Michelle em troca do
compromisso pró-André.
O agradecimento público deste segundo
e sua
exuberante comemoração com Michelle selaram, para todos os fins, a
busca de anexação até da mais alta instituição de justiça pelo evangelismo de
bandidagem.
Não foi só a Saúde nem é só a Educação. É o
governo todo.
Quem o diz é o próprio Bolsonaro, por
exemplo, em recente reunião
com as cúpulas evangélicas no Alvorada: "Eu dirijo a nação para o lado
que os senhores assim desejarem". Ressalve-se que era meia verdade: ele
dirige a nação para o lado desejado pela corrente mafiosa entre os evangélicos,
entre os empresários, entre os políticos e entre os militares.
O pedido de inquérito feito por Augusto
Aras e a anunciada investigação
da Polícia Federal sobre os pastores de verbas tanto podem ser úteis
como servirem para evitar investigações de fato e CPI. Por ora, e considerados
os proponentes, estão longe de confiáveis.
O amigo Putin
Os felizes beneficiários da guerra
na Ucrânia são Joe Biden e Boris Johnson (ex-jornalista
e americano, como se o aspecto não nos fosse o bastante).
Biden viu sua difícil situação ceder na
opinião pública à guerra
que incentiva sem cessar. O outro, reproduzindo Biden, atropelou com
tanques russos o risco iminente de destituição, pelas festas algo orgíacas na
residência-escritório de primeiro-ministro, durante a proibição de reuniões na
pandemia.
A atitude de Biden, de características
adequadas à autoimagem americana, reproduz contra a Rússia a guerra-relâmpago
de eliminação econômica, política, cultural e social para destruir Cuba, Estado
e povo.
Fidel Castro venceu
a guerra, estendida por mais de meio século, contra o extermínio pela maior das
potências, mas o povo
cubano e Cuba tornaram-se ruínas do seu talento e de suas
peculiaridades tão admiradas.
Cuba vivia do açúcar, do fumo e do turismo.
Perdeu-os. A Rússia
tem riquezas e, em torno delas, um arsenal
nuclear talvez maior ou mais moderno que o americano. Ambos têm
lideranças que não demonstram lucidez à altura do momento que criaram.
Golpismo sempre
Aécio
Neves é o golpista pleno: financeiro, político, institucional e
administrativo. A solução a que se dedica para o impasse
do PSDB só poderia ser uma: golpe. A proposta de anulação da prévia
partidária, que escolheu João Doria,
pela convenção do partido é golpe.
Servir-se desse expediente seria um mau
começo para Eduardo
Leite: pôr-se ao lado, entre os pretendentes à Presidência, do também
golpista Sergio
Moro.
Os aderentes ao golpe argumentam que Eduardo Leite seria o candidato natural do eleitorado íntimo das chamadas questões de gênero. Sobre ser duvidoso, isso não nega que beneficiário de golpe, golpista é. E não desconfia de que o esperto João Doria, calado ainda, de repente apareça com uma novidade.
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