domingo, 27 de março de 2022

Janio de Freitas: Todo poder aos milicianos e mafiosos

Folha de S. Paulo

Assim se configura o que é tido como governo Bolsonaro

Quando não é milícia, é máfia. Assim se configura o que é tido como governo Bolsonaro. Assim são as forças operativas e extrativas instaladas no poder por efeito de deturpação eleitoral, com fraudulências judiciais, e de ingerência do comando do Exército no processo eletivo.

Se as motivações para a eleição deturpada eram diferentes, seus objetivos foram antidemocraticamente os mesmos.

A ideia de que esse governo despreza o caráter laico do Estado, associando-o outra vez à religião, não é errada, mas é imprecisa. Bolsonaro abriu o poder e os cofres públicos a uma corrente de pastores evangélicos que não é mais nem menos do que máfia de falsos pastores infiltrada no evangelismo.

É a bandidagem que multiplica alegadas igrejas para enriquecer, pela exploração criminosa da ingenuidade e do desamparo –e, esta a inovação de Bolsonaro, pela exploração das instituições oficiais e dos vários meios e cofres do governo.

Já na corrupção comprovada pela CPI da Covid, esse ramal dos falsos pastores evangélicos apareceu nas negociatas que Augusto Aras, o nominal procurador-geral da República, não quer sob inquérito.

O braço da máfia agora flagrado no assalto ao cofre da Educação, aberto "a pedido especial" de Bolsonaro como dito pelo próprio ministro Milton Ribeiro, está presente no Planalto e no Alvorada.

Se o ar cândido de Michelle Bolsonaro é autêntico ou enganoso, ainda não está claro, o que invalida as acusações e as defesas que suscita. Mas aí está, sobrepondo-se às inexplicadas somas recebidas do miliciano Fabrício Queiroz, o seu comprometimento como protetora do ministro e dos pastores mafiosos que têm manejado, em proveito próprio, altas verbas da Educação.

Não só Milton Ribeiro se tornou ministro por intermédio de Michelle. Bolsonaro não nomeou novos ministros do Supremo, apenas plantou lá dois guarda-costas. Ao menos um deles, por insistência de Michelle: o pastor André Mendonça, que já exibe o seu propósito lá. O outro atendeu a vários interesses, entre os quais consta a bênção de Michelle em troca do compromisso pró-André.

O agradecimento público deste segundo e sua exuberante comemoração com Michelle selaram, para todos os fins, a busca de anexação até da mais alta instituição de justiça pelo evangelismo de bandidagem.

Não foi só a Saúde nem é só a Educação. É o governo todo.

Quem o diz é o próprio Bolsonaro, por exemplo, em recente reunião com as cúpulas evangélicas no Alvorada: "Eu dirijo a nação para o lado que os senhores assim desejarem". Ressalve-se que era meia verdade: ele dirige a nação para o lado desejado pela corrente mafiosa entre os evangélicos, entre os empresários, entre os políticos e entre os militares.

O pedido de inquérito feito por Augusto Aras e a anunciada investigação da Polícia Federal sobre os pastores de verbas tanto podem ser úteis como servirem para evitar investigações de fato e CPI. Por ora, e considerados os proponentes, estão longe de confiáveis.

O amigo Putin

Os felizes beneficiários da guerra na Ucrânia são Joe Biden e Boris Johnson (ex-jornalista e americano, como se o aspecto não nos fosse o bastante).

Biden viu sua difícil situação ceder na opinião pública à guerra que incentiva sem cessar. O outro, reproduzindo Biden, atropelou com tanques russos o risco iminente de destituição, pelas festas algo orgíacas na residência-escritório de primeiro-ministro, durante a proibição de reuniões na pandemia.

A atitude de Biden, de características adequadas à autoimagem americana, reproduz contra a Rússia a guerra-relâmpago de eliminação econômica, política, cultural e social para destruir Cuba, Estado e povo.

Fidel Castro venceu a guerra, estendida por mais de meio século, contra o extermínio pela maior das potências, mas o povo cubano e Cuba tornaram-se ruínas do seu talento e de suas peculiaridades tão admiradas.

Cuba vivia do açúcar, do fumo e do turismo. Perdeu-os. A Rússia tem riquezas e, em torno delas, um arsenal nuclear talvez maior ou mais moderno que o americano. Ambos têm lideranças que não demonstram lucidez à altura do momento que criaram.

Golpismo sempre

Aécio Neves é o golpista pleno: financeiro, político, institucional e administrativo. A solução a que se dedica para o impasse do PSDB só poderia ser uma: golpe. A proposta de anulação da prévia partidária, que escolheu João Doria, pela convenção do partido é golpe.

Servir-se desse expediente seria um mau começo para Eduardo Leite: pôr-se ao lado, entre os pretendentes à Presidência, do também golpista Sergio Moro.

Os aderentes ao golpe argumentam que Eduardo Leite seria o candidato natural do eleitorado íntimo das chamadas questões de gênero. Sobre ser duvidoso, isso não nega que beneficiário de golpe, golpista é. E não desconfia de que o esperto João Doria, calado ainda, de repente apareça com uma novidade.

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