Correio Braziliense / Estado de Minas
Caso Eduardo Leite permaneça no PSDB, é bom
João Doria pôr suas barbas de molho. Dirigentes tucanos e aliados já estão
dispostos a pedir que desista da candidatura
Na semana em que se intensifica o
troca-troca de partidos políticos, em razão da montagem de chapas majoritárias
e proporcionais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, deve definir
o rumo que pretende tomar: primeiro, se permanece no cargo ou se
desincompatibiliza; segundo, se troca o PSDB pelo PSD, ou não. São decisões
difíceis e muito estratégicas, que envolvem alianças políticas locais e
nacionais e o alcance de suas ambições políticas.
Dependendo do que decidir, será um fato
político novo num cenário eleitoral polarizado, que está se cristalizando,
entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de
opinião, e o presidente Jair Bolsonaro, que concorre à reeleição com a vantagem
estratégica de permanecer no cargo.
Como todo cenário complexo, a melhor maneira de tratar o assunto é desagregar suas variáveis. Comecemos pelo Rio Grande do Sul. Desde sua campanha ao governo gaúcho, Leite anunciou que não disputaria a reeleição, como já havia feito na Prefeitura de Pelotas. Esse é um compromisso de campanha que corrobora a superstição de que existe uma maldição no Palácio Piratini, que impede a reeleição de qualquer governador.
Seu desempenho administrativo é considerado
muito bom, mas a crise fiscal gaúcha é uma das mais graves do país, rivaliza com
as do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Leite cancelou uma viagem que faria a
Buenos Aires e marcou uma entrevista para amanhã, às 14h, na qual deve anunciar
sua saída do governo.
A desincompatibilização pauta um problema
na retaguarda de Leite: a escolha do candidato das forças que o apoiam ao
governo do Rio Grande do Sul, que estava congelada. O deputado estadual Gabriel
Souza (MDB) é o nome preferido de Leite, mas não unifica sua coalizão política.
A briga começa dentro do próprio MDB, no
qual o atual secretário de Planejamento de Porto Alegre, Cezar Schirmer,
resolveu se lançar candidato e pretende disputar a convenção do partido, neste
domingo. Gabriel, porém, tem apoio do ex-governador José Ivo Sartori e
conseguiu remover da disputa o deputado Alceu Moreira.
A disputa dentro do MDB favoreceu uma
candidatura própria do PSDB. O vice-governador Ranolfo Vieira Jr., que assumirá
o cargo no lugar de Leite, pretende concorrer à reeleição. Secretário de
Segurança do estado, já trabalha com a expectativa de poder para ganhar a
convenção tucana.
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas,
que pleiteava a indicação, não conseguiu apoio suficiente na legenda. Eduardo
Leite terá muitas dificuldades para demover Ranolfo e garantir apoio ao seu
candidato do MDB, Gabriel Souza, ainda mais porque o MDB está dividido.
O cenário eleitoral gaúcho passa, também,
pela disputa à Presidência da República. A indefinição de Leite dificulta a
vida de seus aliados e facilita a dos adversários locais: Luís Carlos Heinze
(PP) e Onyx Lorenzoni (PL) buscam o apoio do presidente Jair Bolsonaro,
enquanto Beto Albuquerque (PSB) e Edegar Pretto (PT) querem ser o candidato do
ex-presidente Lula. Caso a candidatura de Leite se confirme, porém, essa
polarização pode ser quebrada, porque haverá um deslocamento natural de
eleitores gaúchos para o tucano.
Ficar ou sair, eis a questão
Na sexta-feira, Eduardo Leite foi novamente
assediado pelo presidente do PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab, para se filiar
ao partido. Dessa vez, teve todas as garantias de que terá legenda e recursos
para sua campanha. Resolvida a desincompatibilização, essa é a segunda decisão
estratégica. Se optar pelo PSD de Kassab, cria um fato novo no cenário
político, viabiliza mais sua candidatura sem depender da conspiração para
remover João Doria, que o derrotou nas prévias do PSDB.
Nesse caso, sua prioridade, agora, seria
atrair o União Brasil, o que lhe garantiria ainda mais capilaridade. O segundo
movimento seria atrair o MDB, convencendo Simone Tebet (MS) a aceitar ser vice
na chapa. Ela é a noiva dos sonhos de todos os candidatos da terceira via, mas
já disse que não pretende renunciar à candidatura para ser vice de outro
candidato.
Resta o cenário mais difícil e, ao mesmo
tempo, mais instigante: permanecer no PSDB e aguardar em Pelotas o desfecho da
conspiração tucana para remover a candidatura de João Doria. Hoje, deve ser
efetivada a federação do PSDB com o Cidadania. Apesar de vitoriosa nas prévias,
a candidatura de Doria precisa ser homologada pela convenção.
A cúpula da federação é majoritariamente
tucana, mas a correlação de forças pode se alterar em favor de Leite, em razão
da divisão do PSDB e dos representantes do Cidadania, que serão uma espécie de
fiel da balança. Caso Eduardo Leite permaneça no PSDB, é bom João Doria pôr
suas barbas de molho. Cidadania, MDB e União Brasil estão dispostos a pedir que
Doria desista em favor de Eduardo Leite.
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