O Globo
Toda vez que algo arranha a imagem de um
governante, um partido ou um político, a primeira explicação é que o problema
está na comunicação. Não falha, basta o sujeito se ver em maus lençóis. De
diferentes maneiras, é assim que os dois principais candidatos à Presidência da
República, Lula e Jair Bolsonaro, têm justificado suas contradições a respeito
da questão mais importante para o jogo eleitoral no momento: a Petrobras e a
alta dos combustíveis.
Foi assim que Bolsonaro explicou, nas
conversas secretas com o economista Adriano Pires, por que precisava trocar o
presidente da Petrobras. Segundo ele, era preciso alguém que soubesse se
comunicar com a sociedade e com a imprensa. Não é que ele quisesse interferir
no preço dos combustíveis, o problema é que a Petrobras “comunica mal”.
E Pires, embora não tenha nenhuma
experiência como executivo, nem sequer como conselheiro de empresas, sempre
esteve disponível aos jornalistas, dando entrevistas em linguagem acessível
sobre petróleo, gás e energia. Ou seja: na visão do presidente, comunica bem.
É curioso que o presidente da República fale em “comunicar mal”. Foi ele mesmo quem reclamou que a Petrobras não tinha “qualquer sensibilidade com a população”. Contou, ainda, que o Congresso havia feito um pedido à Petrobras para atrasar em um dia o anúncio do reajuste do diesel.
Antes, seria aprovado o projeto de lei que
zerou impostos federais sobre os combustíveis que poderia neutralizar o efeito
negativo sobre sua campanha. Indignado, Bolsonaro desabafou: “É Petrobras
Futebol Clube, e o resto que se exploda”. Dias depois, arrematou: “Não tenho
ingerência sobre ela, o que a gente puder fazer, a gente faz”.
Ou o presidente acha que a população tem
problemas cognitivos, ou espera que acreditem em história da carochinha. Está
claro que Bolsonaro gostaria, sim, de interferir na presidência da Petrobras
para segurar o preço dos combustíveis. Como não consegue, tenta subterfúgios.
Um deles é criar uma versão alternativa dos fatos para ver se cola.
Agora, vejamos Luiz Inácio Lula da Silva,
que esteve na sede da Federação Única dos Petroleiros (FUP) nesta semana, num
evento cheio de simbolismos. Falando a uma plateia escolhida a dedo, que vestia
os jalecos laranja famosos em sua gestão, obviamente culpou Bolsonaro pela alta
dos combustíveis.
Só que, para Lula, as mazelas atuais da
companhia decorrem de um único motivo: a elite brasileira teria construído uma
mentira sobre os desvios na Petrobras para tirar o PT do governo, porque não
queria vê-la “ligada ao desenvolvimento nacional, à ciência e tecnologia e à
inovação”. Comparando a Petrobras a Jesus Cristo, Lula disse que a companhia
foi crucificada porque usava seu lucro para melhorar a vida dos mais pobres.
Para o petista, em última instância, o
preço dos combustíveis está aumentando porque inventaram-se os bilhões
devolvidos pelos delatores, os bilhões gastos com refinarias que nunca ficaram
prontas e os outros bilhões em dívidas que quebraram a empresa para, entre
outras coisas, segurar o preço da gasolina.
O curioso é que Lula está na frente nas
pesquisas e tem larga vantagem sobre Bolsonaro entre os mais pobres. Usando sua
lógica, portanto, é possível concluir que o mesmo povo que comprou uma mentira
em 2018 agora a esqueceu — ou descobriu a verdade, com a revisão das decisões
da Lava-Jato — e votará nele.
Ainda assim, o ex-presidente se queixou de
que o PT está falando apenas para sua própria base e pediu ao partido que
“construa uma narrativa”, ou melhor, “construa a verdadeira história do que
está se passando na Petrobras”.
No fundo, Bolsonaro e Lula querem a mesma
coisa, e não falo de interferir no preço dos combustíveis. O que eles querem é
resolver no gogó seus pontos fracos na campanha. Mexer na comunicação para não
precisar mexer nos fatos é o que todo candidato quer, mas já era de esperar que
dois políticos tão tarimbados como eles tivessem entendido que nem sempre um
bom meme ou uma falácia bem construída são suficientes para ganhar a eleição.
Parece não ocorrer a eles que o eleitor
possa entender perfeitamente o problema dos combustíveis e não gostar das
soluções apresentadas — ou não acreditar em tudo o que eles falam. Foi o
próprio Lula quem disse, na FUP:
"Quando a gente fala uma vez e as
pessoas não entendem, é porque as pessoas são burras. Quando você fala a segunda
vez e as pessoas não entendem, as pessoas continuam sendo burras. Mas, se você
fala a terceira vez e as pessoas não entendem, burro é quem está falando".
Agora só falta seguir a lição.
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