O Estado de S. Paulo
A expressão alemã, que vale políticos e
carros, diz que é preciso um contraste para se ganhar um perfil
Ao fim da era petista, Lula era o líder
popular que desperdiçou uma chance histórica (o ciclo das commodities),
presidiu o maior esquema de corrupção da história brasileira e apontou uma
sucessora inepta que levou o Brasil à maior recessão enfrentada por um país que
não estava em guerra. Hoje, recuperou de maneira formidável a imagem e é tido
por ex-adversários como salvador da democracia.
Esse perfil vem pelo contraste com o seu principal adversário, Jair Bolsonaro. Lula nunca foi um radical e continua não sendo. Nunca foi um político de grandes ideias, seu “movimento” político é ele mesmo e mais ninguém. O lulismo (como o varguismo, o peronismo) é a figura de quem lhe empresta o nome, e não deixa sucessores. Sua “genial” jogada política de conquistar um ex-adversário para ter “o centro” a bordo é apenas o óbvio de quem sabe que, sozinho, não ganha.
A “fortuna” de Lula, no sentido que Maquiavel deu à expressão, é Bolsonaro. O atual presidente desperdiçou uma rara onda disruptiva, em boa parte nascida do antipetismo, que expressava um profundo desejo de mudança. Sem saber fazer política, além de vociferar boçalidades para seguidores nos cercadinhos físicos (porta do palácio) e mentais, ressaltou o patrimonialismo, cedeu instrumentos de poder do Executivo para o Legislativo e deixa o País governado por aqueles que estavam envolvidos com Lula nos piores momentos da “política”.
Vale a pena repetir: o Centrão, e o que ele
possa significar (moralmente, inclusive), está perfeitamente à vontade com Lula
ou com Bolsonaro. Seus caciques estão empenhados em garantir seu próprio poder,
o que significa formar bancadas nutridas sem as quais nenhum dos dois líderes
das pesquisas será capaz de governar.
Nesse sentido, para citar o sociólogo
Bolívar Lamounier, a “armadilha da renda média” na qual o Brasil se encontra,
com produtividade e crescimento estagnados há décadas, é a armadilha perfeita.
Ela gerou um sistema político e de governo que sustenta e é sustentado pelo
patrimonialismo que não tem noção de nação ou sequer da urgência de se combater
desigualdade e injustiças sociais – as mazelas de sempre, da qual falamos
sempre.
De novo parece estar se fechando uma janela
de oportunidade para se livrar do que Lula e Bolsonaro representam. Ao se
fechar, ela favorece Lula em duas medidas importantes. A inflação é o arrasto
que torna Bolsonaro um favorito a perdedor. E a guerra lá fora dá ao Brasil,
paradoxalmente, algumas vantagens típicas de um país isolado.
A fortuna está com Lula.
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