Folha de S. Paulo
Um livro a ser feito com urgência -fica a
sugestão
Uma ideia jogada ao acaso nesta coluna
na quinta última (24) foi recebida com entusiasmo por alguns leitores:
a de um Dicionário Brasileiro da Corrupção. Nunca foi feito, e não por falta de
material. Mesmo ignorando a Colônia e o Império, que tinham costumes próprios,
o que se poderá levantar de sujeira a partir da República, em 1889, encherá
volumes. Afinal, é uma das grandes especialidades do Brasil: o uso da República
para práticas não republicanas, como roubar, desviar, desfalcar, falsificar,
sonegar, subornar, aliciar, perverter —em suma, corromper.
Uns mais, outros menos, todos os governos desde Deodoro caíram na farra, com destaque para os autoritários e para os que se elegeram como vestais. Os primeiros, pelo motivo óbvio: quanto mais ditadura, mais censura e menos controle pelas leis, pela sociedade e pela imprensa, donde mais corrupção. O famoso mar de lama em que o governo constitucional de Getulio Vargas se afundou em 1954 não passou de um filete diante do que se roubou de 1964 a 1985 sob os militares —que, não por acaso, tomaram o poder para, entre outras, "combater a corrupção".
E aí temos a segunda categoria: a dos
governos que, quanto mais "puros", mais sujos. Jair Bolsonaro
atualiza mensalmente sua bravata: "Três anos e três meses de governo, três
anos e três meses sem corrupção". Certo —desde que você não conte a
destruição da Amazônia para venda ilegal, a importação das vacinas fantasmas, o
comércio da morte pela cloroquina, os ministérios reduzidos
a balcões, a rachadinha, o patrimônio imobiliário da família, os cheques para a
primeira-dama, as mamatas para os amigos, o suborno de militares e outros usos
e abusos de bilhões.
Que não passam de ninharia diante da
entrega do cofre
para o centrão. Isso, sim, consagrará Bolsonaro e lhe garantirá a capa do
Dicionário.
Deixo de graça a sugestão. Convidem-me para o lançamento.
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