Folha de S. Paulo
Com tantas denúncias no MEC, Ciro Nogueira
virou especialista no tema
Herdeiro de uma família de larga tradição
política no Piauí e tendo apoiado todos os governos (FHC, Lula, Dilma, Temer)
desde que chegou a Brasília pela primeira vez para atuar como deputado federal,
em 1995, Ciro Nogueira
é especialista em corrupção. Entenda-se: como um cientista em seu
laboratório, ele consegue distinguir e classificar os milhares de tipos da
doença que sufoca o país.
Segundo Nogueira, todo-poderoso ministro da Casa Civil, a corrupção sob
Bolsonaro é "virtual". Ou seja: ela não é real nem pode
ser simulada; sua existência ocorre apenas em teoria; é o resultado de uma
demonstração ou de uma "narrativa" –para usar essa palavra mágica,
capaz de explicar tudo nos dias de hoje.
Ciro Nogueira diz que, no esquema dos
pastores lobistas, íntimos do
Planalto, que exigiam pagamento em
barras de ouro e Bíblias para a liberação de verbas do MEC para
prefeituras, não há prova de que os recursos tenham sido desviados: "É
igual à questão das vacinas, é corrupção que não existiu".
Muitas pessoas, as que estão sempre ao lado de Bolsonaro, não importando o crime
e o desrespeito que ele cometa ou a besteira que diga, têm fé cega, nada
científica, nas conclusões de Nogueira; outras consideram suas palavras um
escárnio; e algumas estão finalmente caindo no virtual, digo, na real. Discurso
anticorrupção partindo de um governo que come na mão do centrão e ao mesmo
tempo lhe dá de comer é balela.
Há novas suspeitas de corrupção para a análise de Ciro, o Sábio. A maioria
delas envolve o FNDE, que está sob comando de um afilhado político do cacique
do PP. Em lugares onde falta até água encanada, o método é superfaturar
com a compra de laptops, kits de robótica, ônibus escolares,
caminhões frigoríficos. Nenhum dos casos, no entanto, supera a autorização para
"construir" 2.000 escolas fake, enquanto existem 3.500 obras
paralisadas por falta de verba. Mais que virtual, é surreal.
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