O Globo
Por inapetência, incompetência e
conveniência dos partidos do tal “centro democrático”, vamos nos encaminhando
para as eleições de outubro com a perspectiva (funesta) de um encontro marcado,
no segundo turno, com um ex e um futuro presidiário.
A pesquisa Genial/Quaest (2 mil entrevistas
feitas entre 1º e 3 de abril) mostra, na intenção de votos (espontânea) para
presidente, que 28% preferem Lula, 22% vão de Bolsonaro e 46% estão
“indecisos”.
Talvez haja aí uma sutil questão de nomenclatura —e esses “indecisos”, longe de não saberem em quem votar, estejam duplamente decididos. Seriam os “eles-não”, aqueles a quem ainda não foi oferecida uma alternativa razoável. E que acabarão por votar em branco ou nulo (e seja o que o capiroto quiser) —ou respirar fundo e escolher pelo avesso, conformando-se com o menos pior.
Como é que, depois dos desastres dos
governos do PT e de Bolsonaro, retornamos a 2018 para nos colocar diante da
mesma encruzilhada, cair de novo na mesma armadilha?
Essa é a pergunta de R$ 4,9 bilhões (valor
do fundo eleitoral), de cerca de R$ 1 bilhão (valor do fundo partidário) ou de
montante inestimável (valor da reeleição). Por esse butim, os partidos fazem o
diabo. Garantir palanques para aumentar a bancada (leia-se, a arrecadação)
importa mais que quaisquer princípios.
O Centro Espírita Elio Gaspari poderia
providenciar uma mesa (branca) redonda com José Bonifácio, Joaquim Nabuco,
Prudente de Moraes, Campos Salles, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves para
debater onde foi que erramos. Em que momento os partidos políticos,
fundamentais numa democracia representativa, deixaram de nos representar. Por
que cargas d’água a palavra “liberal” foi parar numa agremiação comandada por
Valdemar Costa Neto, que tem Jair Bolsonaro em seus quadros. A troco do que um
partido conservador teve a ideia de se chamar “Avante”, um sucedâneo da finada
Arena se travestiu de “Progressistas”, e “Liberdade” foi fazer presença VIP no
PSOL. Como um partido ligado à Igreja Universal, que deu sustentação a Lula,
Temer e Bolsonaro — com interesses nada republicanos — batizou-se de...
“Republicanos”. Se não é ironia o principal desagregador da terceira via se
intitular “União Brasil”. Sem falar naquele que mais desviou o dinheiro dos
nossos impostos se arvorar em ser o partido dos trabalhadores.
O que esperar desse balaio de gatos (sem
nenhuma ofensa aos felinos), senão a política nada franciscana do “é dando que
se recebe”?
Até outubro, tudo pode acontecer. Nomes
saírem da sombra, outros dizerem a que vieram. E, todos juntos, entenderem que
projetos pessoais não deveriam se sobrepor à construção de uma alternativa à
dicotomia que só interessa a petistas, bolsonaristas e gigolôs partidários.
É pensamento mágico? Pode ser. Só que mais
vale acreditar numa utopia e teimar para que mudanças aconteçam (elegendo
parlamentares mais dignos, evitando partidos de aluguel, investindo nas
convergências) que se acomodar a uma distopia, tomando-a como fato consumado.
Os “indecisos” ainda podem decidir este
jogo.
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