Geralmente, cada eleição tem um vetor claro de continuidade ou mudança. O momento brasileiro não é nada confortável. A instabilidade é grande; as desigualdades aumentaram na pandemia; a inflação, os juros e o desemprego são altos; as principais políticas públicas estão à deriva e a avaliação do governo é negativa. Tudo indicaria um cenário tranquilo para a vitória das oposições. No entanto, Bolsonaro tem se mostrado resiliente e eclipsado os temas centrais com uma permanente cruzada ideológica contra um impensável “fantasma do comunismo”.
Polarização é da essência da dinâmica
política. No Brasil, nos EUA de Biden e Trump ou na França de Macron e Le Pen.
O problema é o fechamento dos espaços de diálogo, o crescimento da
intolerância, o não reconhecimento da legitimidade dos adversários e as ameaças
permanentes de quebra das regras democráticas. A atual polarização reflete uma
luta entre o presente e o passado, pouco diz ao futuro.
Diante deste quadro, era natural o
surgimento de uma forte terceira via que simbolizasse inovação, ousadia,
criatividade, modernidade e equilíbrio para a construção de um futuro marcado pelo
desenvolvimento sustentável, inclusivo e democrático. No entanto, as forças
políticas do centro democrático têm patinado. Segundo a série de pesquisas GENIAL-QUAEST,
os brasileiros que gostariam que o futuro presidente não fosse Lula nem
Bolsonaro eram 31%, em julho de 2021, mas caíram agora, em abril, para 19%. Há
uma evidente fadiga da espera de um nome que encarne uma alternativa aos
candidatos da direita e da esquerda. Quem quer derrotar Bolsonaro vai se
acomodando com Lula, e vice-versa. Diante desta realidade, os dirigentes do
PSDB, União Brasil, MDB e Cidadania cravaram 18 de maio como o dia D da
terceira via para o anúncio da chapa das forças democráticas. A construção do
consenso não será fácil, os partidos envolvidos estão divididos. Mas é uma
necessidade histórica.
Pelo menos quatro pontos balizam a identidade
deste campo ideológico não contemplados por Lula e Bolsonaro. A democracia como
valor universal e permanente aqui ou em qualquer lugar do planeta. Um novo
modelo de crescimento, com rumo claro, responsabilidade fiscal e credibilidade.
Redistribuição de renda e combate radical às desigualdades sociais sem populismos
e visando a emancipação do cidadão. E, a defesa da sustentabilidade ambiental
para além do maniqueísmo que contrapõe atividade econômica e causas ambientais.
Se houver desprendimento e privilégio ao
interesse público e nacional, surgirá uma forte alternativa a partir dos nomes colocados
de Eduardo Leite, João Dória, Luciano Bivar e Simone Tebet, que oferecerá à
sociedade brasileira uma visão diferente sobre o Brasil e seu futuro.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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