Folha de S. Paulo
Com voto valorativo, candidato que
recebesse pontuações médias teria alguma chance
A esta altura, só um milagre viabilizaria
a chamada
terceira via. Como bom ateu, não acredito em milagres.
Viúvas da terceira via, porém, acertam em alguma coisa ao apontar que há algo
de paradoxal no fato de os dois candidatos mais detestados pelos eleitores
serem os que mais chances têm de conquistar a Presidência. O bom Jean-Jacques
Rousseau nos convenceu de que, para chegar ao nirvana político, bastaria seguir
a vontade geral. Talvez, mas aferir essa tal de "volonté générale"
não é tão simples.
Se há algo que a matemática nos garante é que todos os sistemas de votação são
ruins. O que utilizamos no Brasil, o escrutínio majoritário uninominal (cada
eleitor vota em um candidato e vence quem recebe mais sufrágios), pode levar a
situações como a que vivemos, em que os campeões da rejeição não só se tornam
os favoritos como também conseguem bloquear o surgimento de alternativas.
Recorrendo a matemáticas um pouco mais
sofisticadas, é possível criar sistemas de votação que escapam a essa
armadilha. Uma forma de considerar ao mesmo tempo os votos e os vetos, isto é,
os apoios e as rejeições, é recorrer aos modelos de voto valorativo. Neles, o
cidadão dá pontos aos candidatos. Seu favorito recebe, digamos, cem pontos, e o
que ele mais odeia fica com zero.
Aí, somam-se os pontos de todos os postulantes. Num sistema desses, a terceira
via, isto é, um candidato que receba pontuações médias de todos os eleitores,
teria alguma chance. Mas é claro que esses modelos também têm suas próprias
vulnerabilidades. Há provas matemáticas disso nos teoremas de Arrow e Gibbard.
Não sou contra aperfeiçoar o sistema de votação. Urnas
eletrônicas computadorizadas, afinal, permitem que tentemos coisas
que eram impraticáveis tempos atrás. Receio, porém, que, ao fim e ao cabo,
todos os sistemas sejam variações em torno da escolha do mal menor, que nossos
cérebros já fazem sem dificuldade.
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