O Globo
Após o fim da ditadura, as Forças Armadas
dedicaram três décadas à tentativa de recauchutar sua imagem pública. Bastaram
três anos de governo Bolsonaro para jogar esse esforço por água abaixo.
O primeiro mito a cair foi o da eficiência
fardada. Os oficiais venderam a ideia de que sua formação rígida, baseada em
hierarquia e disciplina, produziria superquadros para funções civis. Então
Bolsonaro nomeou Eduardo Pazuello para comandar o Ministério da Saúde em plena
pandemia.
O general confessou que “nem sabia o que era o SUS” quando assumiu a pasta. Sua gestão ficou marcada pela letargia, pela incompetência e pela submissão ao negacionismo presidencial. Sob intervenção fardada, o ministério atrasou a compra de vacinas e deixou faltar oxigênio em hospitais. Pazuello foi apresentado como especialista em logística. Num episódio inesquecível, imunizantes reservados para o Amazonas foram parar no Amapá.
Os militares também fracassaram ao tentar
substituir o Ibama no combate ao desmatamento. O Ministério da Defesa torrou
mais de R$ 500 milhões em operações batizadas com o nome pomposo de “Verde
Brasil”. Apesar da gastança, a destruição da Amazônia aumentou a cada ano desde
a posse de Bolsonaro.
O governo do capitão demoliu um segundo
mito construído nos quartéis: o de que os militares seriam mais honestos que os
civis. Um relatório do TCU apontou “robustos indícios de fraude” na compra de
insumos para a produção de cloroquina no laboratório do Exército. Outra
auditoria revelou que o Ministério da Defesa usou verbas de combate à Covid-19
para comprar picanha e filé-mignon.
Agora o tribunal abriu processo para apurar
se houve superfaturamento na compra de 35 mil comprimidos de remédio indicado
para a impotência sexual. A Marinha alegou que os azuizinhos seriam destinados
ao tratamento da hipertensão arterial pulmonar. Coube ao general Hamilton
Mourão desmoralizar a versão meia bomba: “Eu não posso usar meu Viagra, pô?”.
Como se não bastassem os vexames do
presente, os militares insistem em fazer piada com os crimes do passado. Na
segunda-feira, o vice-presidente ironizou apelos para investigar e punir
torturadores da ditadura. Aos risos, perguntou: “Vai trazer os caras do
túmulo?”
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