Correio Braziliense
As pesquisas estão mostrando
que o espaço para uma candidatura nem Lula nem Bolsonaro está se reduzindo.
Essa candidatura, mesmo não rompendo a polarização, decidiria o pleito no
segundo turno
O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi
(SP), pretende cobrar uma definição dos demais partidos da chamada terceira via
— PSDB-Cidadania e União Brasil — na próxima reunião de cúpula do grupo,
marcada para 18 de maio, com objetivo de escolher um candidato único. “Não dá
para adiar, ninguém aguenta mais essa indefinição”, desabafou, ontem, em
conversa no cafezinho da Câmara. Segundo ele, há três candidaturas na mesa de
negociação: Simone Tebet (MDB), João Doria (PSDB) e Luciano Bivar (União
Brasil). “Uma delas deve ser escolhida”, afirmou.
Rossi descartou o ex-governador gaúcho
Eduardo Leite, que trabalha para ser candidato de união: “O candidato indicado
pelo PSDB é o Doria”. Faz sentido, para além da formalidade, porque o propósito
do MDB é consolidar o nome de Tebet. A senadora por Mato Grosso do Sul se
destacou na CPI da Covid e é respeitada pelos pares por sua atuação à frente da
Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Ela é formada em direito pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em direito do Estado
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Simone Tebet, natural de Três Lagoas (MS), não é uma cristã nova na política. Aprendeu o jogo do poder com o pai, Ramez Tebet, que foi governador do Mato Grosso do Sul, prefeito de Três Lagoas e senador da República. Atuou por 12 anos como professora universitária e foi consultora e diretora legislativa da Assembleia Legislativa do estado. Foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas por dois mandatos e vice-governadora no governo Puccinelli, cargo no qual permaneceu até 2015, quando assumir o mandato de senadora. Aos 52 anos, tem cancha de político profissional.
Essa experiência está fazendo a diferença
no jogo de bastidores da terceira via, pela forma firme e suave com que lida
com as disputas políticas, como aconteceu no episódio do jantar dos setores do
MDB do Nordeste com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tratada como a
noiva desejada pelos outros candidatos, já disse que não pretende ser vice de
ninguém; caso não seja candidata à Presidência, pretende disputar a renovação
de seu mandato de senadora. Pela conversa de Baleia Rossi, a maioria dos
diretórios do MDB deseja a candidatura de Tebet.
Bombeiros no ninho
O tucano Eduardo Leite, que se movimenta
pelo país em busca de apoio para ser candidato, mesmo após perder as prévias do
PSDB, farejou o perigo em razão do famoso áudio da conversa privada do
presidente do PSDB, Bruno Araújo (PSDB), no qual o então coordenado da campanha
de João Doria admitiu as articulações para unificar a terceira via em torno de
Tebet e não, como se esperava, do ex-governador gaúcho. Araújo acabou afastado
do comando da campanha por Doria e viajou para os Estados Unidos, onde a filha
vai estudar, para deixar a poeira baixar. Leite resolveu procurar Doria para
apagar o fogaréu no ninho tucano. A conversa entre os dois foi ontem, em São
Paulo.
Nos bastidores do PSDB, a avaliação é de
que a movimentação de Leite contra Doria e as inconfidências de Araújo criaram
uma situação implosiva para a legenda. O ex-governador paulista mandou recado
de que não vai retirar a candidatura nem aceita que as prévias da sigla, que
venceu, sejam desrespeitadas. Caso seja removido a fórceps pela cúpula da
federação PSDB-Cidadania, Doria recorrerá à Justiça. Judicialização da campanha
é tudo o que os defensores da terceira via, que apostam na racionalidade de
Doria, não querem. A desistência do ex-gestor paulista seria uma construção
política, que o próprio candidato protagonizaria, e não uma humilhante derrota
por antecipação.
O tempo é curto para a unificação da
terceira via, porque as pesquisas estão mostrando que o espaço para uma
candidatura nem Lula nem Bolsonaro está se reduzindo. Essa candidatura, mesmo
não rompendo a polarização, cumpriria o papel de atrair uma parcela de
eleitores que poderá decidir o pleito no segundo turno. Além disso, também
garantiria a eleição de uma parcela expressiva de cadeiras na Câmara e no
Senado. O problema é que essa avaliação, tipo o importante é competir, favorece
a manutenção das candidaturas de Doria e Tebet.
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