sexta-feira, 13 de maio de 2022

Bernardo Mello Franco: A cabeça de Sachsida

O Globo

Novo ministro imita Bolsonaro e estreia com factoide sobre Petrobras

O novo ministro de Minas e Energia pode não entender de combustíveis, mas domina a arte de produzir factoides. No primeiro dia no cargo, Adolfo Sachsida ignorou o debate sobre a alta da gasolina. Preferiu distrair a plateia com a promessa de vender a Petrobras.

Em pronunciamento para a TV, Sachsida anunciou que solicitará o “início dos estudos tendentes às alterações legislativas necessárias à desestatização da Petrobras”. Em seguida, informou que pedirá a “inclusão da PPSA no PND”. No dialeto da burocracia, isso significa que ele também gostaria de privatizar a estatal que cuida do pré-sal.

As duas propostas são puro teatro. Faltam menos de cinco meses para o primeiro turno das eleições. O governo não tem tempo nem condições políticas para vender a maior empresa brasileira, responsável por 4% do Produto Interno Bruto.

Privatizar a Petrobras é um velho fetiche dos fundamentalistas de mercado, mas nem eles parecem ter acreditado na bravata de Sachsida. Ainda assim, o economista alcançou seu objetivo. Fabricou uma polêmica tola e se esquivou de apresentar um plano para conter a disparada dos combustíveis. O problema derrubou seu antecessor e ameaça a reeleição de Jair Bolsonaro.

O novo ministro comprou as ações do capitão na baixa. Começou a cortejá-lo em 2017, quando Paulo Guedes ainda oferecia seus serviços a outros presidenciáveis. Até a semana passada, batia ponto no segundo escalão do Ministério da Economia. Agora é premiado com a promoção no fim do governo.

Sachsida se diz liberal, mas milita ao lado de extremistas. No último 7 de Setembro, participou de manifestação a favor de Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal. Na primeira fala no novo cargo, ele imitou o chefe ao apelar para o discurso religioso. Citou o nome de Deus e se exibiu com uma imagem de Nossa Senhora na lapela.

Vídeos que circularam ontem ajudam a entender a cabeça do ministro. Numa fala discriminatória, ele defendeu os empresários que pagam salários menores às mulheres. Alegou que os homens vão menos ao médico e não engravidam. “Pode me chamar de machista à vontade”, provocou.

Em outra gravação, Sachsida disse que os ditadores Adolf Hitler e Augusto Pinochet eram esquerdistas. Se ele transportar seus conhecimentos de História para a economia, ainda sentiremos saudade da gasolina a R$ 8.

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