O Estado de S. Paulo
Troca de canal: sai guerra ao TSE, entram demissão de militares e privatização da Petrobras
O presidente Jair Bolsonaro parou de
crescer nas pesquisas e enfrenta rejeição alta, preço do diesel e da gasolina
aumentando e inflação disparando. Como ele reage, entre uma motociata e outra?
Atacando Supremo, TSE e urnas eletrônicas, dizendo que o lucro da Petrobras é
um “estupro”, fritando ministros e presidentes da estatal em lives e lançando a
ideia de privatização da mais importante e simbólica empresa brasileira.
Já demitiu o economista Roberto Castello
Branco e o general Joaquim Silva e Luna e está indócil com o terceiro
presidente da Petrobras, o químico industrial e ex-militar José Mauro Coelho.
Mudam os nomes, não muda nada. Com perfis diferentes, os três concordam no
principal: reprimir o preço dos combustíveis na marra é burrice, porque o
efeito, bumerangue, seria contra o próprio interesse público.
Como derrubar os presidentes da Petrobras não funcionou, Bolsonaro subiu o tom e o status, demitindo o próprio ministro de Minas e Energia, almirante de esquadra Bento Albuquerque. E aí, vai mudar alguma coisa? Na prática, nada, mas o discurso já começou a entortar.
No primeiro pronunciamento, sem direito a
perguntas, o novo ministro, Adolfo Sachsida, advogado com doutorado em
Economia, só fez enrolar, distrair a plateia. Citou Deus, família e Bolsonaro,
enalteceu a iniciativa privada e falou que o Brasil é um “porto seguro” para
investimentos das “democracias ocidentais” – essas que, convenhamos, andam
assustadas com o que ocorre por aqui.
E combustíveis? Inflação? Saídas possíveis? E a rede privada de gasodutos do “rei do gás”, com R$ 100 bilhões dos cofres públicos? Nenhuma palavra. Em vez disso, Sachsida, bolsonarista desde criancinha, aderiu às manobras diversionistas do chefe e lançou a privatização da Petrobras. Se a água está suja, joga o bebê fora. Mas, a cinco meses da eleição, a sete do fim do governo, qualquer bobinho sabe que é para enganar o bobo na casca do ovo.
Tem-se, assim, um respiro na guerra de
Bolsonaro e sua tropa do Ministério da Defesa contra o TSE, mudando o canal
para distrair o País com a ficção da privatização da Petrobras e mais um
episódio da série de como jogar almirantes ao mar, brigadeiros no ar e generais
na terra crua.
A reação se resume a muxoxos nos grupos de WhatsApp de oficiais da Marinha, deixando a desagradável sensação de que os militares estão anestesiados por salários, privilégios e a falsa sensação de poder. Quem manda, afinal? Ora, ora, o Centrão – que, ao contrário dos militares, defende as eleições e as urnas eletrônicas. Tá vendo? Para tudo há um consolo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário