Valor Econômico
Nosso potencial de crescimento é baixo
porque somos muito ineficientes
não compartilha do movimento que grandes
bancos estão fazendo nas projeções de crescimento do país. Quem está aumentando
os prognósticos do PIB para a faixa de 1% para este ano está reduzindo os de
2023, observa. “Continuo com 0,6% para este ano e 0,7% para o ano que vem e não
pretendo mudar essas previsões tão cedo.” Silvia chama a atenção para um dado
curioso: a economia voltou a crescer, mas trata-se de uma normalização das
atividades no pós-pandemia. Não voltou para o nível de tendência de crescimento
que havia antes da pandemia, de cerca de 1,4%.
“O país não consegue voltar à tendência de
avanço pré-pandemia. Mesmo com dados melhores no curto prazo, devemos rever
nosso PIB do primeiro trimestre para um valor acima de 0,4%. A normalização
mais rápida da economia, porém, não altera a perspectiva para o ano como um
todo”, observa.
Ela faz, também, um alerta de que, talvez, estejamos em uma fase da economia global que traga junto com a recuperação mais inflação de forma mais persistente. Durante um bom tempo a China exportou inflação baixa de bens industrializados. Agora, em cenário com conflitos e um processo contra a globalização, é um mundo em que talvez não se tenha mesmo inflação baixa de bens industrializados.
O Brasil tem as commodities agrícolas e
minerais, o petróleo, energia, que estão dando algum fôlego à recuperação, mas
são setores que também geram muita inflação. Isso se junta com a liberação do
FGTS e com a antecipação do pagamento do 13º para os aposentados, dentre outras
medidas oficiais, que reforçam a ajuda ao processo de recuperação que ela está
convencida de que não se sustenta no tempo.
“Minha visão é de que vamos ver ainda no
segundo trimestre uma desaceleração nos indicadores de emprego do Caged”.,
adiantou. Parte do consumo das famílias está voltada para a área de serviços,
mas isso não se configura uma aceleração. É uma normalização do consumo, depois
de dois anos de clausura por causa da pandemia.
A inflação está muito alta, disseminada e
resistente. Estamos, provavelmente, no pico da inflação e a expectativa é que a
taxa caia dos 12,13% nos 12 meses até abril para algo abaixo de 10% este ano.
São choques em cima de choques. Há guerra na Ucrânia, covid-19 na China, que
atrapalhou a logística e desorganizou o processo produtivo, gerando ainda mais
inflação.
“Estou com a previsão de inflação de pouco
mais de 8% para este ano, mas esse é um número que muda praticamente todos os
dias”, disse Silvia. Para 2023, a expectativa é que o IPCA caia para a casa dos
4%
Há fatores externos, que são inegáveis, e
tem fatores internos. “A dificuldade de controlar a inflação gera mais inércia
e o Banco Central tem de puxar mais o freio de mão e ficar com juros mais altos
por mais tempo”, prevê. A taxa de câmbio, que poderia jogar a favor, com uma
apreciação, não sai do patamar de mais de R$ 5. Temos, à frente, uma eleição
que não deixará o câmbio mais valorizado. Isso compromete o investimento.
O país vai ter que voltar a conviver com
taxas de juros elevadas por mais tempo. O BC só vai começar a reduzir a Selic
quando tiver garantia de desinflação. Trata-se de um período inflacionário
diferente, tem choques de oferta sobre choques de oferta. Assim é muito difícil
combater a inflação. Tarefa que será melhor executada no ano que vem, acredita.
São vários desafios para o novo governo que
sairá das urnas em outubro. Estamos falando de juros reais mais altos no ano
que vem, algo superior a 4% ao ano, o que leva a uma alta nos custos do serviço
da dívida interna, pressionando a relação dívida/PIB que é o principal
indicador de solvência do país.
“Um gol de placa que não vingou foi a
reforma tributária. A indústria é intensiva em capital e sofre com a estrutura
de impostos”, salientou Silvia. O Brasil, que é um superprodutor de soja, não
consegue ter uma indústria de óleo de soja próxima ao centro produto. Esta foi
se instalar na Argentina, cita ela. “Não conseguimos ofertar energia barata”,
acrescentou. O setor do gás faria uma revolução na reindustrialização do país,
segundo o ministro Paulo Guedes.
Não dá pra culpar os fatores externos pelo
nosso baixo crescimento. O potencial de crescimento do país é baixo porque
somos muito ineficientes. No último trimestre de 2021 a produtividade estava
abaixo da de 2019. “Não dá para comemorar um crescimento sem ganhos de
produtividade. Ele não se sustenta”, disse Silvia.
Aumenta-se a produtividade do trabalho com
investimentos em capital humano. Uma educação de melhor qualidade é o básico. E
a reforma tributária seria muito bem-vinda para melhorar a produtividade do
capital.
O legado do governo Bolsonaro para a
economia será mais inflação, mais juros e menos crescimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário