Folha de S. Paulo
Após escolha de Alckmin, campanha petista
hesita sobre concessões à direita
Aliados de Lula reconhecem há tempos que
uma vitória neste ano depende da
expansão de sua base em direção ao centro. O ex-presidente emitiu sinais
precoces a esse eleitorado e venceu resistências para escolher um vice
notadamente conservador. Em conversas internas, também admitiu que não pretende
fazer um governo só do PT.
Ao lançar essas cartas na mesa tão cedo, o petista frustrou quem esperava uma espécie de troca completa de figurino ainda na fase inicial da disputa. Depois do compromisso firmado com Geraldo Alckmin, a campanha do ex-presidente demonstra uma certa hesitação sobre a amplitude dos movimentos que devem ser feitos para conquistar os votos necessários fora da esquerda.
A cúpula petista descreve a
escolha do ex-tucano para a chapa como um passo largo e defende medir
os próximos movimentos com cautela. Ainda que haja cobranças por concessões na
campanha e no programa de governo, dirigentes dizem que esses acenos serão
controlados.
Um dos argumentos é que Lula já teria
conquistado uma fatia do centro antes mesmo da largada. Entre os
pouco mais de 40% de brasileiros que declaram apoio ao ex-presidente,
haveria um bocado de eleitores não petistas, segundo aliados. Alguns deles
acreditam que seria arriscado fazer movimentos à direita antes que esteja clara
a quantidade de votos adicionais nesse campo de que ele precisa para vencer.
Para contornar a incerteza, os petistas
direcionam a esse grupo uma mensagem apoiada num conhecido tripé: alegam que
Lula não fez maluquices quando esteve no cargo, destacam resultados de seu
governo para esses eleitores e ponderam que quem está do outro lado da disputa
é Jair Bolsonaro.
A ideia, por enquanto, é buscar esses votos
por um atalho paralelo ao eixo direita-esquerda, ligado à economia. "Eu
não tenho que ser um presidente mais à esquerda, direita ou ao centro",
disse Lula, no fim de abril. "Tenho que conhecer a realidade e o que
precisa ser feito."
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