Folha de S. Paulo
Bolsonaro quer jogar a conta da inflação da
energia no colo de alguém a fim de se salvar na eleição
"Nós já saímos do inferno [da
inflação]", disse Paulo
Guedes nesta quinta-feira (19). A carestia está feia mesmo é
na Holanda e
na Inglaterra,
afirmou o ministro da Economia.
Parece que Jair
Bolsonaro e seus cúmplices no Congresso não
pensam assim. Em desespero, a cada dia aparecem com ideias alopradas de meter a
mão em preços, empresas ou na receita dos estados a fim de evitar aumentos de
eletricidade e combustíveis pelo menos até a eleição.
Não vai dar certo, a baderna da economia
vai aumentar, com prejuízos gerais, e os reajustes podem ser ainda maiores
depois da eleição. É uma mistura de estelionato eleitoral, burrice e
incompetência até na demagogia.
Na quarta-feira, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, disse que o Congresso vai suspender o reajuste da conta de luz se o governo não arrumar uma solução para os aumentos, que na média nacional devem ficar em torno de uns 19%. Nesta quinta-feira, Lira disse que vai colocar em votação na semana que vem um projeto que define telecomunicações, energia, combustíveis e transportes como "essências". Assim, a alíquota de ICMS desses serviços não poderia passar de 17% ou 18%, a depender do estado.
O governo foi
ao Supremo para mudar a alíquota que os estados pretendem
cobrar sobre o diesel a partir de julho. Nesta quinta, tentou convencer os
governadores a cobrar menos ICMS sobre o diesel, seguindo uma regra de
transição (que dura até o final do ano) da lei recém-aprovada que unifica esse
imposto no país.
Ainda que consiga dobrar os governadores,
vai conseguir uma redução de centavos no imposto do diesel, de R$ 0,10 a R$
0,20 , se tanto, levando em consideração uma média simples dos impostos
estaduais (isso se a redução de imposto chegar ao consumidor, o que é incerto,
e se não causar aumento de imposto, dada a tolice que levaram ao STF). O litro
do diesel custa R$ 6,78, na média nacional.
Baixar o preço do diesel em 10% (67
centavos), por decreto, custaria uns R$ 42 bilhões em um ano. Equivale a 40% do lucro
da Petrobras em 2021 ou a 5% da receita de impostos de todos os
estados em um ano.
Obviamente nada disso vai prestar.
Gente de governo e mercado diz que os
estados ganharam muito dinheiro com a alta dos combustíveis, quase 41% de
receita extra (comparado o primeiro trimestre deste ano com o de 2021). Mas,
descontada a inflação, o ganho real foi de 27%. De resto, aumentou também o
consumo de gasolina (12,5%) e de diesel (3,6%), mesmo com a paulada nos preços.
A receita total de ICMS no trimestre cresceu apenas 3%, em termos reais; a
receita tributária total, 1,6%. Não é bem uma farra de dinheiro.
Resumo da ópera, querem jogar a conta no
colo dos estados com números exagerados, por assim dizer.
Reduzir o ICMS de energia, comunicação etc.
pode resultar em alguma queda de preços. No ano passado, o STF decidiu que não
se pode cobrar alíquota de ICMS (além da básica) sobre esses serviços. Como os
estados reclamaram que perderiam dezenas de bilhões, a decisão passaria a valer
apenas em 2024.
Na prática, o Congresso quer antecipar a
decisão do STF. Mas vai ter buraco na conta dos estados. Vários deles não
merecem piedade, pois estão quebrados por irresponsabilidade e incompetência.
Ainda assim, no curto prazo vai ter rombo, coisa de que Bolsonaro e o Congresso
não querem saber (têm aprovado aumento de despesa estadual a rodo, como de
costume).
Bolsonaro e governistas vadiaram e barbarizaram por quase quatro anos. Agora querem jogar a conta da inflação da energia no colo de alguém a fim de se salvarem na eleição, mesmo que causem baderna ainda mais explosiva na ordem econômica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário