O Globo
Diz a sabedoria popular que o bolso é a
região mais sensível do corpo humano. Quando esvazia, experimentamos
imediatamente a perda de autoestima, o medo do futuro, a fome. A ausência de
uma fonte de renda é um nervo exposto.
Claro que inclusão social não se faz apenas
pela renda. A noção de cidadania engloba as esferas de saúde, educação, lazer,
moradia, combate ao racismo e à desigualdade de gênero. Sem isso tudo, formamos
meros consumidores, não cidadãos.
Mas a renda é o primeiro passo para a inclusão social. Pense num jogo de boliche: a bola lançada na pista não pode derrubar cada pino individualmente, mas, ao acertar o pino certo, provoca uma reação em cadeia. O mesmo vale para a falta de renda. Ela é o pino em que devemos mirar nossas políticas sociais se quisermos fazer um strike na pobreza.
Por isso, o programa Favela 3D, para além
da construção de moradias e das ações de reurbanização dos territórios, tem a
meta de zerar o desemprego nas comunidades em que é implantado.
Dados concretos amparam essa preocupação:
enquanto o desemprego no Brasil está em elevados 10,5%, nas favelas chega a
mais de 50%. Uma redução drástica nesse número ajuda a quebrar a lógica da
desigualdade, pois coloca a favela como referência em melhoria de indicadores
sociais.
Uma mudança desse porte exige ações em
várias frentes. Na favela Marte, em São José do Rio Preto (SP), e na Sonhos, em
Ferraz de Vasconcelos (SP), ambas pioneiras do programa Favela 3D, construímos
verdadeiras fábricas de formação profissional, conectadas tanto aos interesses
e vocações da população local quanto às necessidades econômicas de cada região.
Promovemos a capacitação técnica em áreas
como vendas, logística, elétrica, alimentação, informática. Em poucos meses,
vimos florescer startups, cooperativas de costura, hortas comunitárias e projetos
de coleta de recicláveis. Os empresários da região firmaram o compromisso
público de priorizar a contratação de mão de obra da favela, contribuindo para
alcançarmos o pleno emprego.
Os resultados são impressionantes. Já
conseguimos bater mais de 40% da nossa meta. Nesse ritmo, pretendemos zerar o
desemprego naqueles territórios até o fim deste ano.
Isso muda completamente o clima da favela.
O morador que vê seus vizinhos conseguindo um emprego sabe que pode ser o
próximo. Essa percepção concreta de que a vida está melhorando funciona como
uma injeção de autoestima na comunidade. Com renda, a favela volta a sonhar.
Renda é sinônimo de autonomia. Permite que
o morador da favela se liberte da prisão de segurança máxima da pobreza,
podendo, não raro pela primeira vez na vida, fazer escolhas conscientes e
planejar seu futuro.
Quando alguém não sabe se conseguirá pagar
o aluguel, comprar um medicamento ou mesmo garantir a próxima refeição para
seus filhos, toda a sua concentração se volta para as demandas imediatas. Quem
tem fome não consegue traçar planos de médio e longo prazo. Consequentemente,
não cria condições para um dia sair da pobreza.
Uma fonte de renda quebra esse círculo
vicioso. Investir na inclusão produtiva da favela não melhora apenas suas condições
de vida hoje, mas garante que as gerações futuras viverão num país mais justo e
igualitário.
Um comentário:
Favela ou Comunidade? Eis a questão.
Não conhecia Edu Lyra,uma mistura de Edu Lobo e Carlinhos Lyra.
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