quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Maria Hermínia Tavares* - Bolsonaro, o candidato anormal

Folha de S. Paulo

Nada é normal na sua lida para permanecer no Palácio do Planalto

Da sacada da casa do embaixador brasileiro em Londres, o presidente Bolsonaro berrou, para o pequeno grupo de apoiadores aglomerado na rua, que qualquer resultado diferente de sua vitória no primeiro turno seria indício de que "algo anormal aconteceu dentro do TSE".

Mais tarde, em entrevista a um blogueiro simpatizante, repetiu o mote, antecipando o que deverá ser a sua reação em face da derrota que as pesquisas indicam. Se não há por que esperar anormalidades nem na votação nem na contagem eletrônica dos sufrágios, a campanha que as precede reduz a pó o padrão ao qual o país se habituou já lá se vão três décadas.

Denúncias, ataques e até golpes baixos têm sido recursos corriqueiros dos caçadores de votos. Inédita é a desqualificação antecipada das instituições eleitorais por quem se candidata —de novo, no caso— ao posto mais ambicionado da República. Tampouco as paixões de confrontos idos se comparam ao clima funesto resultante da sistemática disseminação de suspeitas sobre o modelo de votação; da coreografia violenta das motociatas; dos cartazes brandidos em passeatas pedindo a volta da ditadura; das ameaças, nas redes e nas ruas, a simpatizantes de Lula ou dos tenebrosos episódios de assassínio de adeptos do ex-presidente.

Não surpreende, portanto, que a pesquisa "Violência e Democracia", feita pelo Datafolha para a Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) e o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), revele que 7 em cada 10 brasileiros têm medo de ser agredidos em razão de sua escolha partidária e que espantosos 5,3 milhões de cidadãos relatem haver sofrido ameaças por causa de suas posições políticas.

Tampouco é normal que nem sequer com a mais poderosa das lentes imagináveis se possa vislumbrar um pronunciamento —um só!— do aspirante à reeleição sobre o que pretende fazer no segundo mandato. Qual sua visão acerca do que realmente importa: como fazer a economia crescer; como substituir o teto de gastos; como dar segurança mínima aos muito pobres; como remediar o atraso educacional agravado pelo prolongado fechamento das escolas na pandemia; como robustecer o SUS; como cumprir os compromissos do Acordo de Paris e defender o meio ambiente dos agentes da destruição; como reconquistar o respeito internacional perdido.

Por fim, quem viu o presidente usar o 7 de Setembro para mobilizar eleitores e o ouviu degradar a tribuna da ONU em palanque sabe que nada é normal na sua lida para permanecer no Palácio do Planalto a qualquer preço, pouco se importando com a vergonha que inflige ao Brasil mundo afora.

*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

5 comentários:

Anônimo disse...

Bolsonaro pagará por seus inúmeros crimes.

Anônimo disse...

Tá certo quem não deve pagar pelos seus inúmeros crimes é o Lula, porque ele é o escolhido da imprensa militante de esquerda apoiada pelos seus ministros do ST F
Ele não pode pagar pelos seus crimes de jeito nenhum, inclusive ele foi tirado da cadeia cumprindo pena de quase 25 anos por esses crimes, pelo ministro Fachin para ser candidato a presidente vocês são tudo uns fanáticos militantes ainda bem que dia 2 de outubro está perto, só quero ver o choro de vocês
Estou aguardando ansioso

Anônimo disse...

Se Lula cometeu crimes, que seja julgado, mas como qualquer outro brasileiro, por um juiz imparcial, como todo juiz deveria ser. Não por um juiz politiqueiro e corrupto, parcial como Sergio Moro, que trocava informações com os procuradores da Lava Jato e até dava ordens para os membros do MPF. Perseguiu o ex-presidente, o que foi reconhecido pelo STF depois de muito tempo, mas isto sempre foi argumentado pela defesa de Lula, só que o Judiciário não percebia, pois Moro era escorregadio e disfarçado, até que suas ilegalidades e as dos procuradores do MPF foram demonstradas pelas gravações da Vaza Jato. Aí, tentaram negar, mas foram desmascarados e desmoralizados, tendo que pedir demissão pra não serem demitidos. Hoje, são candidatos a políticos, fazendo a mesma politicagem demagógica que faziam enquanto eram autoridades e deveriam agir honestamente.

Anônimo disse...

Você falou um monte de coisa mas não explicou como que podemos hoje ter um candidato tirado da cadeia por coordenar o meu assaltar ao Brasil ?
Vocês vestiram uma máscara do cinismo e deram as mãos na narrativa e fica com essa conversa fiada de
genocida
inventaram essa conversa fiada e ficam repetindo, mas não vai adiantar nada
Pode Jair se acostumando

ADEMAR AMANCIO disse...

Adoro a colunista,sempre sensata em suas análises.