O Globo
Câmara quer gastar R$ 150 milhões para
comprar edifício que abrigou hotel de luxo e império de Eike
A Gaiola de Ouro vai mudar de endereço. Os
vereadores do Rio querem
deixar o Palácio Pedro Ernesto, no coração da Cinelândia. O plano é comprar
o Edifício Serrador, que já sediou o império de Eike Batista.
Inaugurado em 1944 como hotel de luxo, o
prédio tem 24 andares e conta com heliponto, elevadores informatizados e
cobertura panorâmica. Nos tempos de glória, abrigou a boate Night and Day, que
atraía celebridades internacionais e políticos da velha capital.
O imóvel está avaliado em quase R$ 150
milhões. Numa conta conservadora, ainda seria preciso gastar mais R$ 20 milhões
para adaptá-lo às novas funções legislativas.
Apesar dos custos, os vereadores parecem animados. Sonham com gabinetes mais amplos e confortáveis, valorizados pela vista de cartão-postal. Enquanto se ocupam com os dramas municipais, poderão contemplar o Pão de Açúcar, o Aterro do Flamengo e a Baía de Guanabara.
Embora envolva recursos públicos, o negócio
está sendo tramado a toque de caixa. A transação veio à tona nesta semana,
enquanto os eleitores se distraíam com os jogos da Copa. A depender dos nobres
edis, será concretizada antes do Natal.
A direção da Câmara argumenta que a mudança
vai racionalizar os trabalhos, hoje espalhados por cinco edifícios. Os
vereadores também reclamam que as instalações atuais estão malconservadas. O
problema é justificar o gasto milionário em tempos de crise.
O discurso de que a Casa tem devolvido
parte de seu orçamento é uma desculpa capenga. O dinheiro pertence ao
contribuinte, não aos vereadores. Se está sobrando, a lei deveria ser alterada
para reduzir os repasses nos próximos anos.
A Câmara afirma que sua antiga sede será
transformada em centro cultural. Os deputados estaduais disseram o mesmo no ano
passado, quando se mudaram do Palácio Tiradentes. Hoje o prédio histórico está
subutilizado, e seu anexo foi deixado às moscas em plena Praça XV.
O historiador Brasil Gerson contava que o Pedro Ernesto foi apelidado de Gaiola de Ouro devido ao custo exorbitante. Sua construção consumiu 23 mil contos de réis, mais que o dobro do Theatro Municipal. Agora o palácio arrisca ser abandonado em 2023, quando fará cem anos.
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