Valor Econômico
Lula terá bilaterais com quatro CEOs em
Pequim
Além dos contatos para atrair mais
investidores para o Estado, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT),
desembarcou há 11 dias na China também com a missão de preparar o terreno das
reuniões bilaterais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários em
Pequim. Lula anunciará novos investimentos chineses no país na sexta-feira
(14), ao lado do presidente Xi Jinping.
A Bahia será um dos Estados contemplados
pelos investimentos - atualmente, é uma das três unidades da federação com mais
aportes de recursos chineses, depois de São Paulo e de Minas Gerais.
São esperados os anúncios de início das
obras da ponte ligando Salvador à Ilha de Itaparica e de um termo de
compromisso com a Build Your Dreams (BYD), fabricante de carros e ônibus
elétricos, que pretende se instalar na antiga fábrica da Ford no complexo de
Camaçari (BA). O governo da Bahia media as negociações, mas BYD e Ford ainda
não chegaram a um acordo quanto ao valor da transação.
Além de contratos milionários na área do agronegócio, outro anúncio esperado é a venda de 20 aviões modelo E195-E2, jatos de médio porte da Embraer. Não há confirmação, entretanto, da assinatura do contrato. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, faltou a uma agenda com Lula nessa segunda-feira e não é certo que ele retornará à China para integrar a comitiva presidencial.
Com 12,4 quilômetros, a ponte
Salvador-Itaparica é uma das maiores obras no formato de parceria
público-privada (PPP) e é sempre citada como referência pelo ministro da Casa
Civil, Rui Costa, que vai coordenar o “novo Projeto de Aceleração do
Crescimento (PAC)”, que será anunciado no fim do mês.
Em conversa com a coluna, o governador
baiano afirmou que é alta a expectativa de autoridades e empresários chineses
com a chegada de Lula, após o fim do governo Jair Bolsonaro, quando a relação
do Brasil com o país asiático foi de turbulência. Bolsonaro referia-se ao vírus
da covid-19 como “vírus chinês”.
Desde que aterrissou na China, Jerônimo fez
um périplo pelas cidades estratégicas para negócios no país, passando por
Shenzhen, Guangzhou, Shanghai e Pequim.
Jerônimo ressaltou que a Bahia é atraente
para os chineses, pela geografia (tem portos e aeroportos) e porque os projetos
têm continuidade, segundo ele, porque o mesmo grupo governa o Estado há 16
anos. “[Jaques] Wagner e Rui [Costa] fizeram várias viagens à China”, lembrou,
citando os ex-governadores do PT.
No Estado, Jerônimo disse que uma das
prioridades com os chineses é o início das obras da ponte de Itaparica, que
estão com atraso de mais de dois anos porque foram paralisadas na pandemia.
Com investimentos estimados de R$ 7,6
bilhões, a obra foi arrematada pelo consórcio chinês formado pela China Railway
20th Bureau Group Corporation (CRCC20) e China Communications Construction
Company (CCCC), que venceu a licitação em 2019. Eles teriam um ano para
elaborar o projeto de execução e mais quatro anos para entregar a obra.
Segundo Jerônimo, neste ano as empresas
devem executar a dragagem da área de acesso ao porto de Salvador, e devem
concluir a ponte em até quatro anos. O governador já se reuniu com executivos
da CRCC20, e deve acompanhar Lula em agenda prevista com o CEO da China
Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou. Lula também terá
bilaterais com os executivos da BYD, Wang Chuanfu; da Huaweii, Ren Zhengfei; e
da State Grid (SG), Zhang Zhigang. A Huaweii também tem negócios na Bahia na área
de inteligência e conectividade.
Com o grupo BYD, Jerônimo trabalha para que
a fabricante de carros e ônibus elétricos, bicicletas e baterias, instale-se no
local onde funcionava a fábrica da Ford no complexo de Camaçari. A BYD, por
meio de um braço da empresa, a Skyrail, também conduz a obra do Veículo Leve
sobre Trilhos (VLT) que vai substituir os antigos trens do Subúrbio Ferroviário
de Salvador. A obra começou orçada em R$ 1,5 bilhão em 2019, e subiu para R$
5,2 bilhões na fase 2.
A participação de carros elétricos no
Brasil é baixa, de 3,37% no primeiro trimestre, mas viu um aumento de 50% nas
vendas no mesmo período. Para atrair a BYD, o governo da Bahia prometeu
incentivos fiscais, segundo Jerônimo, e pretende ampliar a frota de ônibus
elétricos. São 20 coletivos urbanos elétricos rodando há quase um ano em
Salvador, e Jerônimo cogita lançar editais para a compra de ônibus elétricos
para o transporte escolar, e não descarta que esse projeto seja ampliado ao
plano nacional.
No evento da Apex Brasil no dia 29 de
março, o diretor de operações da BYD para a América Latina Li Tie elogiou
iniciativa da SPTrans, que proibiu a aquisição de ônibus zero quilômetro
movidos a combustível fóssil.
Nos bastidores, executivos chineses têm
reclamado da dificuldade de realizar projetos no Brasil por causa da
complexidade do sistema tributário e das leis trabalhistas. Chineses não folgam
mais do que uma ou duas vezes ao mês, enquanto brasileiros têm jornadas de
segunda a sexta-feira.
Ao Valor, o CEO da Huaweii no Brasil, Sun Baocheng, em
entrevista publicada ontem, disse que as leis tributárias e insegurança
jurídica dificultam a vinda de mais empresas ao país, e cobrou a votação da
reforma tributária.
No discurso sobre o marco de 100 dias do
governo, Lula afirmou que é preciso trazer o Brasil “de volta à civilidade”, e
citou o hábito de que os brasileiros dão “bom dia” para a outra pessoa no
elevador, mesmo que não se conheçam. Lamentou que isso esteja se perdendo para
o clima de ódio. “Se um aperta o 2º, e o outro o 3º, já são inimigos”.
Em sintonia com Lula, Sun Baocheng usou o
exemplo do elevador para elogiar o calor humano dos brasileiros na entrevista
ao Valor. Ele
mora no Brasil há nove anos, e disse que no começo, estranhou a troca de
cumprimentos no elevador, porque os chineses não falam com estranhos. Há
expectativa na comitiva de Lula de que um caldo de empatia reforce os
ingredientes para a atração de mais dinheiro chinês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário