O Estado de S. Paulo
Lula acerta no social, mas erra com dúvidas na economia e ataques às políticas de antecessores
O maior desafio do presidente Lula, hoje e
nos próximos 1.360 dias, será botar a economia nos trilhos do crescimento, da
atração de investimentos e da geração de emprego e renda. O Brasil estagnou e
precisa desesperadamente voltar a crescer, porque disso depende o futuro do
País e dos brasileiros.
Nos cem primeiros dias, Lula anunciou uma torrente de gastos, sob o mantra de que “gasto na área social não é gasto, é investimento”. Mas todos os programas, até o Bolsa Família, apesar de necessários, são paliativos. Só um crescimento econômico sólido, sustentável, vai garantir a real inclusão social, com equilíbrio mais justo entre pessoas, cidades, Estados e regiões.
É disso que se trata: o governo Lula faz
bem em reconstruir políticas públicas estraçalhadas pelo “coiso”, como passou a
se referir a Jair Bolsonaro, mas ele precisa ser estruturante, para construir
bases para um futuro melhor, com oferta digna de educação desde a creche,
saúde, moradia, empregos para todos. Não é com bolsas que vai conseguir, mas
com desenvolvimento.
Na solenidade para comemorar os primeiros
cem dias de governo, ontem, com todos os 37 ministros, Lula chamou de “yuppies”
os que cobram dele pragmatismo, disse que deixou superávit nos seus dois
governos e reclamou: “Não é um yuppie qualquer que vai me dar lição de
responsabilidade, porque não aceito. Tenho responsabilidade de berço”.
As condições, porém, são muito diferentes.
Não há mais boom de commodities, disparada de crescimento na América do Sul e a
indústria brasileira, tão importante para o PIB, claudica, ano a ano, desde
Dilma Rousseff. Quem segura a onda é a agricultura, mas não pode tudo.
“O Brasil voltou” é um belo slogan e Lula
pode dar de ombros para memes e o sarcasmo radical na internet, porque o Brasil
está voltando, sim, a um lugar ao sol no mundo, ao respeito à diversidade, ao
otimismo e à autoestima. Mas voltou e tem de seguir adiante e para cima.
Lula não ajuda muito, ao desdenhar dos
alertas para a gravidade fiscal, acenar com mudanças na meta de inflação,
querer baixar os juros no grito e combater reformas e decisões de antecessores.
Lá se foram o teto de gastos e a pauta de privatizações. Estão sob ameaça o
Marco do Saneamento, as reformas da Previdência e trabalhista e a autonomia do
Banco Central. E o novo ensino médio balança.
Mais grave ainda é quando Lula mira as políticas de preços da Petrobras e de juros dos bancos públicos. Nos cem primeiros dias, o sucesso foram a pauta social e o fortalecimento da democracia, as dúvidas foram quanto à economia. E o futuro? A Deus pertence.
Nenhum comentário:
Postar um comentário