quinta-feira, 13 de abril de 2023

Celso Ming – Agora, ligeiro otimismo

O Estado de S. Paulo

Rola uma certa melhora no “astral”, como se diz por aí, por conta de certos desempenhos da economia acima dos esperados. Não é nada definitivo, mas são dados que indicam aumento da dosagem da confiança e reforçam apostas de que os juros não demorarão a cair.

A inflação (evolução do IPCA) de março foi de 0,71%, inferior à que vinha sendo esperada, e apontou para uma difusão também mais baixa: apenas 59,95% dos itens que compõem a cesta de consumo do brasileiro apontaram para alta de preços, ante os 65,25% de fevereiro.

A cotação do dólar fechou em R$ 4,94 nesta quarta-feira, menor valor desde junho de 2022, movimento que, se persistente, tende a baratear os produtos importados e exercer certo impacto moderador sobre a alta do custo de vida – apesar do avanço dos preços do petróleo e dos combustíveis. A alta expressiva da Bolsa de Valores, de 4,91% nestes primeiros seis dias úteis de abril, é outra indicação de melhora das expectativas.

O desempenho do varejo também foi positivo, embora as estatísticas correspondam apenas ao já distante janeiro: crescimento de 3,8% sobre dezembro de 2022, o mês costumeiramente mais forte do movimento do comércio.

E não é só aqui no Brasil. Nesta quarta-feira, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos mostrou uma elevação do custo de vida de apenas 0,1% em março, um degrau abaixo do esperado. No dia anterior, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também apontou para uma evolução global “razoavelmente otimista” e para uma inflação sob controle na economia global. Na outra ponta preocupante, também vai refluindo a crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, que abalou os mercados em março.

Ou seja, algumas das fortes incertezas apontadas pelo Banco Central do Brasil para justificar a manutenção dos juros altos começam a se dissipar.

Isso não significa ainda que a queda dos juros já esteja no radar do Copom. Seu presidente, Roberto Campos Neto, já tomou a iniciativa de alertar que são apenas alguns números favoráveis que ainda não configuram tendência firme e que, por isso, não garantem afrouxamento próximo da política de juros.

O que se pode dizer é que, a despeito da gritaria dos setores mais radicais do governo Lula e também de empresários, a política de juros começa a mostrar resultados.

Mas o prontuário geral do paciente segue precário. A atividade econômica geral continua fraca; o crédito asfixiado; a política econômica propriamente dita, emperrada; e, atenção, o tal arcabouço fiscal ainda não foi testado.

 

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