O Estado de S. Paulo
Ministra começa a pavimentar o caminho para
aprovar a nova âncora fiscal
Ex-senadora e com experiência de como os
parlamentares agem na hora de votar, a ministra do Planejamento e Orçamento,
Simone Tebet, começou nesta semana a pavimentar o caminho para a aprovação mais
rápida do projeto de lei do novo arcabouço fiscal no Congresso.
Tebet antecipou que os números do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), em elaboração pelo governo, mostrarão números tão feios para o Orçamento de 2024 que zeram os gastos discricionários (não obrigatórios) para os programas e investimentos, entre eles, as emendas parlamentares.
“Quando digo zero, é zero mesmo”, saiu-se
Tebet, ao informar em primeira mão que a LDO foi feita com base na regra ainda
vigente do teto de gastos, mas conterá um cenário alternativo para mostrar como
ficará o Orçamento com a aprovação do novo arcabouço fiscal.
Com a LDO e o cenário alternativo, a equipe
econômica quer mostrar os números feios e a necessidade de uma nova regra
fiscal. Dois cenários: “com” e “sem” arcabouço fiscal.
Estratégia que, de alguma maneira,
funcionou na aprovação de mais recursos para pagar os benefícios do programa
Bolsa
Família no ano passado. Esse seria o
primeiro incentivo político para a aprovação do arcabouço.
Em conversa com a coluna, o cientista
político da Tendências
Consultoria, Rafael Cortez, fala de um
segundo incentivo. As críticas do presidente Lula ao presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto, que colocaram o tema dos juros sob os holofotes.
Estratégia que se soma à narrativa pilotada
pelo ministro Fernando Haddad, reforçada em comunicado enviado ao FMI, de que a
aprovação do arcabouço fiscal irá levar o BC a reduzir os juros.
“Abriu-se uma porteira que não existia
antes de o Lula pressionar diariamente pela queda dos juros. Quem no Congresso
vai querer ser contra a queda dos juros?”, avalia Cortez.
“Quando Lula, todo o dia, fala sobre juros,
vira o debate nacional. Tem o lado ruim para o governo, o mercado fica muito
mais volátil, mas politicamente colocou a discussão.” É o típico bode na sala.
A melhora dos indicadores de mercado depois da divulgação do desenho do
arcabouço, furando, inclusive, para baixo a barreira do dólar de R$ 5, só
reforça a expectativa de que o arcabouço seja aprovado pelo Congresso.
Se deputados do PT mais ideológicos querem
afrouxar a regra do ministro Haddad, o Centrão não deixará o Congresso aprovar
uma regra que abra mais espaço para Lula gastar e muito menos vai querer
receber o carimbo de que atrapalhou a queda de juros.
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