Folha de S. Paulo
Governo brasileiro quer exibir contraste
com recepção oferecida pelos americanos em fevereiro
Lula deve
voltar da China com uma lembrancinha para os EUA na bagagem. Ainda que a
programação do presidente no país asiático tenha sido montada com base
no pragmatismo e no princípio da neutralidade da política externa, o governo
também gostaria de exibir um contraste com a recepção oferecida pelos
americanos em fevereiro.
O petista explorou com satisfação a ida à Casa Branca no segundo mês de mandato. Construiu vínculos com Joe Biden, reforçou a promessa de uma pauta ambiental comum e exibiu a foto oficial como um pacto contra a extrema direita. Mas Lula e seus auxiliares entenderam que os EUA não estavam dispostos a apresentar uma visão estratégica e econômica na relação com o Brasil.
O governo tentou demonstrar que a conversa
na China seria diferente, apesar da agenda enxuta. Além de reuniões
diplomáticas, Lula marcou encontros com a Huawei (alvo
dos americanos no processo de implantação do 5G brasileiro), a empreiteira
CCCC, a montadora BYD e a empresa de energia State Grid.
Os brasileiros querem obter novos
investimentos, mas também alguns efeitos simbólicos. Na tensão entre Pequim e
Washington, o governo indica uma abertura generosa ao país asiático em sua
política externa e busca extrair dividendos econômicos do interesse chinês em
ampliar seu peso na América Latina.
A sinalização inevitável nesse contexto é o
reforço de um processo de perda de influência dos EUA na região. Integrantes da
comitiva brasileira apontam que, se a Casa Branca não estiver disposta a rever
sua forma de engajamento na América Latina, a perda de espaço e o avanço da
China se tornarão irreversíveis.
O posicionamento do governo Lula nesse jogo
será um teste para a doutrina de equilíbrio da diplomacia brasileira. Movido
por interesses políticos e econômicos (além de uma dose de ideologia), o país
deixaria de lado a ilusão de uma equidistância entre EUA e China. Terá que
evitar, no entanto, a
armadilha de virar uma peça dessa guerra fria.
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