O Globo
A inflação norte-americana veio abaixo do
esperado e o dólar teve queda, mas a ‘taxação’ dos sites chineses é que foi o
assunto
O ambiente da economia começou a desanuviar
nos últimos dias. A inflação de março veio abaixo do esperado aqui e nos
Estados Unidos. São situações diferentes, tanto dos preços quanto da política
monetária, mas os dados são bons, indicando que a inflação está cedendo. No
Brasil, o IPCA ficou abaixo de 5% no acumulado de 12 meses. Era quase 12% em
junho do ano passado. E agora a redução acontece apesar da volta do imposto
sobre a gasolina. A queda do dólar,
que fechou em R$ 4,94, pode levar a mais redução na inflação,
abrindo espaço para a queda dos juros.
As notícias são boas, mas o que agitou as
redes foi a informação sobre a taxação dos sites chineses. A cada dia, 500 a
700 mil itens chegam ao Brasil como sendo de venda de pessoa física para pessoa
física. É esse comércio que tenta simular remessas entre pessoas que o
Ministério da Fazenda pretende regular para separar o ilegal do legal. Mas
virou briga política.
— Não há qualquer tipo de criação de imposto novo, nem qualquer reversão de isenção para quem compra de empresa, porque nunca houve isenção para compra e venda de empresa. Para quem já compra regularmente de empresa que está dentro da legalidade, e recebendo aqui como pessoa física nada vai mudar — disse Gabriel Galípolo, secretário executivo do Ministério da Fazenda, que ontem estava como ministro interino.
O que circulou, em momento inoportuno, com
o presidente Lula e o ministro Haddad desembarcando na China, é a informação de
que estava sendo criado um imposto contra empresas chinesas, Shopee, Shein e
AliExpress.
— O que a gente está combatendo é a
utilização como subterfúgio de uma isenção que existe – de pessoa física para
pessoa física até US$ 50 – por empresas que fracionavam e subfaturavam produtos
para fazer parecer uma operação dentro da legalidade — explicou Galípolo.
Ele disse que alguns perguntavam se os
livros passariam a ser taxados, mas o produto é imune de imposto e, segundo o
governo, assim permanecerá. Lembrou também que não existe imposto sobre uma
empresa, mas sobre uma atividade, no caso fraudulenta.
Galípolo chegou na quarta-feira de um road
show nos Estados Unidos, onde foi explicar o arcabouço fiscal, e contou que
entre investidores teve boa aceitação e bom entendimento do novo marco para
organizar as contas públicas brasileiras. Ele falou para investidores em
eventos feitos por bancos brasileiros.
A confusão sobre o que teria acontecido aos
sites das varejistas asiáticas é apenas um exemplo dos muitos conflitos que vão
acontecer em todas as casas de marimbondos que o governo terá que mexer se
quiser seguir o caminho correto de ir fechando as brechas da elisão fiscal e
dos benefícios fiscais. O governo terá que ter boa capacidade de explicar como
cada brecha dessas, cada benefício, favorece um grupo em detrimento da
sociedade. Muitas vezes, no passado, em vez de arrecadar melhor, a opção era
criar um imposto novo. A recriação da CPMF era o sonho da equipe econômica de
Bolsonaro. Mais difícil e mais justo é cobrar melhor e de forma mais equânime.
Mas pode ser um caminho penoso.
O alívio no noticiário desta vez veio da
inflação menor do que a esperada e da trajetória prevista de queda da taxa em
12 meses nos próximos índices. No dado divulgado terça-feira, a inflação de
alimentos no domicílio caiu para 7%, mas pode ir a 1%, segundo Fábio Romão da
LCA Consultores, ouvido por Ana Carolina Diniz aqui no blog.
Vai terminar 2023 em 1,1%. Foram três anos consecutivos de inflação forte de
alimentos.
Nos Estados Unidos, o CPI, índice da
inflação ao consumidor, foi de apenas 0,1%, bem abaixo dos 0,4% do mês passado.
Mas, infelizmente, o núcleo continua alto e a perspectiva dos economistas é de
os juros continuarem subindo por lá, segundo nota de
Maeli Prado.
O índice de
vendas de varejo no Brasil em janeiro, divulgado ontem mostrou alta de 3,8%, a
maior para o mês da série que começou em 2000. Há um otimismo
moderado em relação a esses números, porque a economia permanece com muitos
outros problemas, como o alto nível de inadimplência, e ameaça de crise em
empresas endividadas. As projeções são de que a inflação voltará a subir no fim
do ano, mas se o dólar permanecer em patamar mais baixo será um alívio a mais
na inflação.
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