Até 1997 era explorada pela estatal Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), um projeto que poderia ser a redenção do Brasil, tornando-nos um protagonista mundial na área mineral, além de possibilitar o desenvolvimento de uma indústria nacional. Na ânsia de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, a CVRD foi vendida pelo ínfimo valor de R$ 3,3 bilhões, passando a denominar-se apenas Vale. Algumas fontes afirmavam que ela valia R$ 100 bilhões.
Não foi considerado o valor do potencial das reservas minerais,
mas tão somente a infra-estrutura. Na verdade, entregamos de graça um
patrimônio nacional dos mais valiosos – as reservas minerais –, ricas em
elementos estratégicos para o desenvolvimento do País. Um verdadeiro crime de
lesa pátria. Os governos do PT, assim como os que se seguiram, não tiveram
coragem para rever a concessão dessas imensuráveis jazidas.
Mas a perda do Estado brasileiro com a venda da CVRD não foi
somente econômica. A privatização dela marcou o fim do controle estatal sobre a
mineração no País.
Em 2022, o valor de mercado da Vale alcançou cerca de R$ 452
bilhões. Nesse ano, a Vale registrou um lucro líquido de R$ 95,9 bilhões e, em
2021, R$ 121,2 bilhões. Em 2023, a Vale prevê produzir e exportar cerca de 320
milhões de toneladas de minério de ferro, 175 mil toneladas de níquel e 370 mil
toneladas de cobre.
Os números são impressionantes, mas quase nada dessa riqueza
gerada pela exploração dessas valiosas reservas minerais beneficiam os
brasileiros.
Na realidade, Carajás constitui um enclave estrangeiro em nosso
território. Infelizmente, o gigantismo e o impacto socioambiental do projeto
Carajás não aponta para uma Amazônia e um Brasil justo, democrático,
participativo e sustentável. Ao contrário, a extração dos minérios constitui um
projeto para fora, que objetiva extrair minério local e transformar em riqueza
para atender interesses alóctones.
O mais escandaloso disso tudo é que nós, brasileiros, por meio de
nossos governantes, de ontem e de hoje, apoiamos a colonização de parte de
nosso território, nos auto-condenando a sermos eternos exportadores de commodities, ao sabor do interesse dos
mercados globais. Não se registra o mínimo esforço para fortalecimento de nosso
parque industrial que, ao contrário, vem declinando nas últimas décadas.
Doamos nossos recursos minerais e as nossas terras férteis para
serem explorados para atender demandas externas, transformando os produtos
gerados em commodities de alto valor,
que vão gerar emprego e renda nos países importadores. E ainda concedemos a
eles isenções tributárias, subsídios e créditos facilitados.
Por força da Lei Kandir, os produtos primários e semi-elaborados
destinados à exportação, a exemplo do minério, são isentos de recolhimento do
ICMS. No caso do Estado do Pará, há ainda incentivos fiscais da
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) para empreendimentos
instalados no território. Toda essa generosidade tributária faz com que a
mineração contribua com apenas 6% da receita própria do Estado.
Não satisfeita com todas as benesses que recebeu do Estado
brasileiro, a Vale ainda pratica uma possível evasão fiscal, que alcança cerca
de R$ 6,0 bilhões anuais, segundo estudo do Instituto Justiça Fiscal – IJF.
Isso decorre de um subfaturamento praticado pela Vale, ao simular a venda de
minérios para uma subsidiária na Suiça. Daquele país os minérios são reenviados
para China e Japão, ao preço do mercado. Ao declarar um valor menor, a Vale
paga menos impostos no Brasil.
Na área do agronegócio, a situação não é muito diferente. Doamos
nossas férteis terras para que um pequeno grupo de empresas produza commodities para o mercado global e
deixem para nós a degradação ambiental do solo e das águas e um rastro de
pobreza.
Também nesse setor, a riqueza produzida no Brasil fica nas mãos de
um pequeno grupo. Recente pesquisa realizada pela revista Forbes aponta que da lista global de 2.640 bilionários 15 são do
agronegócio brasileiro. O grupo é dono de uma fortuna que soma cerca de R$ 285
bilhões.
É preciso que exerçamos a soberania sobre os nossos recursos
naturais.
O Estado tem que exercitar o controle para fazer com que a
sociedade brasileira participe dos resultados gerados pela exploração de nossos
recursos naturais, especialmente os minérios.
*Geólogo, advogado e escritor
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