O Estado de S. Paulo
Em 100 dias de governo centralizado no velho PT, a verdadeira frente ampla de Lula é externa
Em missa de Ramos no Rio de Janeiro, um
padre relatou que muitos fiéis haviam lhe manifestado repúdio às declarações da
autoridade da Igreja a um canal de TV da Argentina de que Lula foi condenado
sem provas, vítima de lawfare, e Dilma Rousseff, “mulher de mãos limpas”,
sofreu impeachment por “um ato administrativo menor”.
“Respeitamos o Santo Padre e sua liberdade de opinião. Não há motivos para crise. Mas entrevista não é dogma de fé”, explicou ele, com o devido respeito, indicando que nenhum católico está obrigado a compactuar com comentários midiáticos do papa argentino sobre a política brasileira. “Lamentamos que o Santo Padre não esteja bem informado sobre o Brasil”, completou, arrebatando a plateia, que o aplaudiu de pé.
Eu, Felipe, aplaudi junto, porque aprecio
reações locais de fibra a intromissões estrangeiras enviesadas, sobretudo de
uma autoridade que deveria guiar a Igreja e acolher todos os povos, em vez de
legitimar o vitimismo de populistas que os dividem. Dias depois, na mesma linha
de meter a colher na cumbuca dos outros, Lula defendeu que a Ucrânia abra mão
da Crimeia, porque Zelenski “não pode querer tudo”.
“Não há razão legal, política ou moral que
justifique o abandono de sequer um centímetro do território ucraniano”, rebateu
no Facebook o portavoz da diplomacia do país, Oleg Nikolenko. “O mundo deve
saber: o respeito e a ordem retornarão apenas quando a bandeira ucraniana
retornar à Crimeia, quando houver liberdade lá, assim como em qualquer outro
lugar na Ucrânia”, emendou Zelenski, em vídeo.
As reações não pararam por aí. “Estou
pedindo ao presidente Lula que ceda o Rio à Rússia para acabar com a guerra”,
ironizou no Twitter o historiador inglês Ian Garner, especialista em propaganda
russa. “Ei, Holanda, Lula parece simpatizar com fraudulentas apropriações
históricas de terras. Talvez ele deixe você ressuscitar o Brasil holandês”,
acrescentou Trent Murray, correspondente internacional na Alemanha, publicando
o mapa do Nordeste do século 17. “Lula entregaria o RS se a Argentina o
anexasse?”, questionou também.
É melhor não dar ideia, pessoal. Em 100
dias de governo centralizado no velho PT, ávido por retomar o controle das
estatais e reabrir caminho às empreiteiras amigas, a verdadeira frente ampla de
Lula é externa, com a Argentina peronista de Alberto Fernández (e sua inflação
anual batendo em 100%), a Venezuela chavista de Nicolás Maduro, a China
comunista de Xi Jinping e a Rússia imperialista de Vladimir Putin.
Haja pano. Haja Papa.
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