Folha de S. Paulo
Ódio político e demora de nova melhoria
econômica criam teto para prestígio presidencial
Depois de quase nove meses de governo, a
avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da
Silva permanece na mesma: 38%
de "ótimo ou bom", diz a pesquisa Datafolha publicada
nesta quinta-feira. É melhor do que a do governo das trevas de Jair
Bolsonaro depois do mesmo tempo de mandato (29%). Bolsonaro perdeu
muito voto e prestígio em pouco tempo.
É pouco? A nota de Lula 3 está abaixo da
que tinham Lula 1, FHC 1 e Dilma 1 em nove meses de governo, por aí. Em 2003,
em seu primeiro ano de primeiro mandato, Lula teve em média 43% de "ótimo
ou bom" nas pesquisas Datafolha.
Em 2004, 39%. No ano de 2005 do mensalão,
baixou a 32%.
O prestígio do presidente começaria a subir sem parar apenas no final de 2006, terminando o governo, em 2010, com impressionantes 77%. Então, a economia do Brasil crescia no ritmo mais rápido desde os anos 1970.
Por que a popularidade de Lula haveria de
ter mudado desde o início do ano? Além dos insondáveis, não houve motivos para
a alteração dos humores políticos, dados os suspeitos de sempre: inflação,
emprego, salário, benefício social, escândalo ou sururu político.
Sob certo aspecto, Lula estabilizou o país.
O vento forte, perverso e feroz do governo das trevas parou de soprar na
biruta. Há certa estabilidade na economia da vida cotidiana, com exceção da
grande melhora inflação dos alimentos que caiu da casa do 15,6% de aumento
anual em agosto de 2022 para zero, agora.
O salário médio ainda aumenta em relação ao
ano passado, mas recupera-se dos fundos do poço da crise que começou em 2014.
Por ora, o rendimento médio do trabalho é quase igual ao de 2019, pré-pandemia,
ou ao dos picos de 2014, antes da grande queda. O número de pessoas empregadas
parou de crescer, embora o desemprego ainda
caia um tico.
O aumento do Bolsa Família foi
relevante. No entanto, chegou para famílias muito destruídas pela onda de
miséria, em particular a pavorosa onda de 2021. Além disso, o aumento do
benefício médio mensal em relação ao da metade final de 2022 não foi tão grande
assim. Em meados do ano passado, o valor médio do benefício era de R$ 402. De
última hora eleitoreira, porém, o governo das trevas promoveu um aumento. Na
média, o pagamento era de R$ 607 em dezembro de 2022. No mês passado, foi a R$
686. O povo mais pobre já contava ao menos com isso.
Temas como mudança em ministério, nomeação
para o Supremo, Brics, cúpulas, arcabouço fiscal ou reforma tributária não
costumam comover muito o grosso do eleitorado.
No mais, qualquer adulto sensato sabe que o
país quase virou do avesso ou botou suas entranhas para fora desde 2010 ou,
melhor, desde 2013. Há uma divisão profunda, bem delimitada e odienta de
preferências políticas, sociais e culturais, para começar. Entre os eleitores
de Lula 3, o governo é "ótimo ou bom" para 72%. Entre os eleitores de
Bolsonaro, 6%. Não parece razoável acreditar que os atos de governo expliquem
diferença assim enorme. Afora milagres do crescimento ou outros, o teto do
prestígio de Lula parece bem mais baixo nestes tempos.
Por falar em crescimento econômico, parece
difícil agora que sobrevenha um aumento de ritmo assemelhado ao que se viu
entre Lula 1 e Lula 2, mesmo com a ressalva de que se sabe pouco do que tem
acontecido com a economia brasileira desde 2021 pelo menos.
Tão cedo não deve haver uma diminuição
maior do desemprego. Menos ainda haverá aumento significativo, se algum, de
benefícios sociais (dadas as limitações de despesa. Em 2024, não está previsto
aumento algum, por exemplo). Se tudo der certo, com contas públicas sob algum
controle e inflação baixa, pode haver nova luz em 2025.
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