O Estado de S. Paulo
STF: o 8/1 foi tentativa de golpe, as
punições são exemplares e estão só começando
A condenação dos primeiros réus pela
tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 apavora os 1.345 acusados como
executores, gera pessimismo nos 232 casos considerados mais graves e
praticamente sela o destino dos próximos três do, digamos, primeiro pelotão.
Isso, porém, é só uma parte do julgamento, que vai chegar a financiadores,
divulgadores, núcleo político – e o, ou os “mandantes” –, com um recado
histórico, pela democracia e as instituições: golpe nunca mais!
Afora o efeito colateral de tirar do foco os erros e recuos do presidente Lula, que parece bolinha de pingue-pongue, para lá e para cá, o julgamento no Supremo tem um caráter pedagógico, com punições “exemplares”, como definiu a PGR. A curiosidade é que, em vez de defenderem seus clientes, os advogados relevam o golpe e criticam a Justiça.
Mais uma vez, o relator Alexandre de Moraes
está na linha de frente e o revisor Kassio Nunes Marques continua
“terraplanista e negacionista”. O primeiro réu, Aécio Pereira, foi condenado
por cinco crimes, mas o bolsonarista Kassio não viu golpe, abolição violenta do
estado democrático de direito nem associação criminosa, só deterioração de
patrimônio e dano qualificado – logo, um distúrbio, um incidente ou, como
ironizou Moraes, “um domingo no parque”. A pena foi de 17 anos, o revisor
queria só dois anos e seis meses, em regime aberto, sem cadeia.
Moraes, porém, demoliu as teses
pró-golpistas. As provas são abundantes, geradas pelos próprios réus. O
julgamento não é individual, pois é um “crime de multidão”. O golpe previa
Exército nas ruas e não deu certo porque, “apesar do envolvimento de
militares”, as Forças Armadas não aderiram. E o principal: o 8/1 não foi
isolado, mas parte, ou desfecho, de um golpe longamente planejado.
No mesmo dia das condenações no STF, o
Exército passou novo vexame na CPMI do golpe, com o general Gustavo Henrique
Dutra, fardado, caindo nas mais fuleiras contradições. Então comandante militar
do Planalto, ele não sabia do “perfil golpista”, da participação de militares
da reserva e de preparativos terroristas nos acampamentos em torno do QG – que
viu como “manifestações pacíficas”. E por que tanques ali depois das invasões?
“Para impedir a volta” dos golpistas, segundo o general. Bem, 1.200 deles
voltaram...
Já na CPI do golpe no DF, o hacker Walter Delgatti disse que foi “cooptado” por Bolsonaro, que sabia e solicitou a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para plantar mentiras, “criar o caos” e se manter no poder. O circo, ou o parque de domingo, está pegando fogo. E Lula já arruma as malas de novo.
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