Valor Econômico
Para um dos marqueteiros de Massa, vencerá
quem demonstrar que tem as melhores condições para tirar a Argentina da crise
Uma sequência de frames do rosto de Donald
Trump com expressões características do ex-mandatário como fúria, deboche,
histeria, ódio abre o filme de 30 segundos. A voz grave do locutor lembra que
os americanos elegeram “este tipo”, mas o preço foi a morte de 400 mil pessoas
de covid-19, e a tentativa de golpe contra a democracia. Entram imagens da
invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Seguem-se frames do rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro com expressões típicas do então mandatário como fúria, deboche, histeria, máscara no queixo... A voz grave do locutor relata que os brasileiros “também caíram nesse conto”, e o preço foi a morte de 700 mil pessoas de covid-19, e a tentativa de golpe contra a democracia. Entram imagens da invasão ao Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 de janeiro.
Na sequência final, revezam-se cenas do
presidenciável argentino Javier Milei raivoso e descontrolado - tal qual ele
habitualmente surge em público. A voz grave do locutor alerta que agora tentam
implantar na Argentina uma “aventura” que começa com Milei, mas que não se sabe
onde pode terminar. Entram cenas da última ditadura militar argentina, de 1976
a 1983, e do ditador mais longevo e temido, o general Jorge Videla.
A mensagem é de que apostar no desconhecido
pode levar os argentinos de volta ao seu passado mais sombrio e amargo. Os
argentinos não demonstraram a tolerância que os brasileiros tiveram com o
regime de exceção, que no país vizinho também foi marcado por abusos, tortura,
e até sequestro de crianças.
Enquanto o Brasil aprovou a Lei da Anistia,
oficiais militares argentinos responsabilizados pela ruptura democrática foram
julgados e condenados. Essa história foi contada no filme “Argentina, 1985”,
com Ricardo Darín, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano.
O alerta de encerramento do comercial é
categórico: “Não se engane, com Milei sua vida pode piorar muito”.
O filme descrito acima integra o último lote
de inserções da campanha do ministro da Economia, Sergio Massa, que volta às
urnas contra o extremista Javier Milei no domingo (19), quando ocorre o segundo
turno das eleições presidenciais na Argentina.
Os comerciais levam a assinatura de
publicitários brasileiros, indicados para trabalhar na campanha de Massa pelo
baiano Sidônio Palmeira, responsável pela suada vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva sobre Bolsonaro em outubro de 2022 - a vantagem do petista sobre o
adversário foi de 1,8 ponto percentual.
Um desses publicitários ouvidos pela coluna
deu o tom da disputa: é a eleição da rejeição. Com a economia mergulhada em
hiperinflação, endividamento, pobreza, vencerá quem demonstrar que tem as
melhores condições para tirar a Argentina da crise. Essa possibilidade só foi
franqueada ao piloto da economia porque o adversário defende pautas que
atemorizam boa parte do eleitorado.
Se o governo do presidente Alberto Fernández
soa indefensável, com picos de 80% de rejeição, a leitura de integrantes da
campanha de Massa é de que Milei é um adversário mais fácil de desconstruir do
que Bolsonaro, já que cada vez menos os argentinos mostram-se dispostos a
digerir suas ideias.
Um exemplo: os argentinos mostram-se mais
refratários à liberação das armas de fogo do que os vizinhos brasileiros. Nos
quatro anos da gestão Bolsonaro, o Congresso flexibilizou as regras sobre a
posse dos artefatos. Mas os parlamentares nunca pautaram a liberação do porte,
mantendo a restrição ao transporte das armas.
Apostando nessa aversão, a equipe de Massa
produziu um comercial em que uma adolescente argentina aterrorizada corre pelos
corredores de uma escola até se refugiar no banheiro, fugindo de um atirador,
enquanto alternam-se notícias de massacres com armas de fogo em escolas nos
Estados Unidos e no Brasil. O recado é “Argentina sem armas, diga não a Milei”.
Para esta fonte, Massa sobressaiu-se no
debate com Milei desse domingo porque conseguiu desviar a discussão da economia
para as propostas mais controvertidas do adversário: extinguir Banco Central,
ministérios da Saúde e da Educação, dolarizar a economia, liberar o comércio de
órgãos humanos.
Massa ainda confrontou Milei pela declaração
de que, se vencer, romperá com Lula no Brasil, e com a China. O postulante
governista lembrou que estes vêm a ser dois dos três maiores parceiros
comerciais da Argentina, e que isso agravaria o cenário econômico. Milei tem
reafirmado que só terá dois parceiros em seu eventual governo: Israel e Estados
Unidos.
A eleição no país vizinho é estratégica para
ambos os lados. Argentina e China são os dois maiores players comerciais do
Brasil. A relação com os argentinos é fundamental, especialmente, para a
indústria automobilística brasileira, que exporta veículos e peças para o
parceiro latino-americano.
Trackings e pesquisas recentes que subsidiam
a equipe brasileira mostram que a eleição está tão acirrada quanto o duelo Lula
x Bolsonaro. Em média, os institutos considerados mais sérios mostram uma
vantagem de dois ou três pontos percentuais de Milei sobre Massa. Se os
marqueteiros persuadirem os argentinos de que a vida com Milei pode “piorar
muito”, o peronismo pode ganhar sobrevida - em parte, graças aos brasileiros.
Um comentário:
Comparar Milei com Bolsonaro é xingar o nosso pobre muambeiro mentiroso. Nem este pensou em tamanho absurdo como restringir relações externas a EUA e ... Israel. Qual a importância geopolítica de Israel pra Argentina?? Só a total irracionalidade duma mente perturbada pode justificar algo tão ridículo. Ele não quer conversa com o "COMUNISTA" Lula... Nem Bolsonaro acredita que Lula tenha algum traço comunista! Milei é um IMBECIL COMPLETO! Como um maluco destes pode estar solto por aí e convencendo os eleitores argentinos que ele pode ser a melhor alternativa pro seu país? POBRE ARGENTINA...
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