Folha de S. Paulo
Meritocracia, na acepção forte, é um mito;
daí não decorre que certas seleções não devam ser feitas pelo critério da
excelência
Encerrei minha coluna
anterior afirmando que a meritocracia é um mito. Ato contínuo,
leitores me escreveram contestando a asserção ou, ao menos, cobrando
esclarecimentos. Vamos a eles.
A meritocracia em sua acepção forte sustenta que os recursos e as oportunidades que a sociedade oferece devem ser distribuídos segundo as competências de cada indivíduo e que utilizar tal critério significa fazer justiça, já que recompensa os méritos e deméritos de cada um.
Esse raciocínio está errado. Características
socialmente valorizadas como inteligência, beleza e habilidades específicas não
refletem nenhum tipo de virtude pessoal. Elas se devem a combinações variadas
da loteria genética com a roda das oportunidades.
A Gisele
Bündchen não fez nada para nascer bonita, assim como Messi não
fez nada para possuir um talento futebolístico extraordinário. Mas eles se
dedicaram às suas carreiras e treinamentos, exibindo disciplina, força de
vontade e disposição para o trabalho, dirá o meritocratista empedernido.
Verdade.
Ocorre que disciplina, força de vontade e
disposição para o trabalho são, como todas as outras características humanas,
resultado de forças que não controlamos. Quem nasce com os genes errados e
ainda sofre abusos na primeira infância não terá muita chance.
Isso significa que devemos ignorar a
competência e transformar o mundo num imenso sistema
de cotas?
É claro que não. Há muitas situações em que
devemos buscar a excelência, mas por uma questão de eficiência, não de justiça.
Uma universidade que deseje desenvolver um programa científico competitivo em
nível global deve recrutar os melhores, sejam eles brancos, pretos ou azuis. E
vale notar que nem precisam ser pessoas boas. Os EUA levaram o homem a Lua
entre outras razões porque trouxeram para seu programa espacial Wernher
von Braun, o responsável pelos ataques nazistas com foguetes V-2 contra
Londres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário