terça-feira, 14 de novembro de 2023

Carlos Andreazza - Inviável Cláudio Castro

O Globo

Inviável é o governo Cláudio Castro, falido, incompetente, opaco, fraco, cada vez mais nas mãos dos donos da Alerj, desautorizado a escolher o secretário de Polícia Civil e ainda com três anos para (nos) sangrar.

É frequente a pergunta sobre o destino dos bilhões de reais que o Rio de Janeiro recebeu pela concessão da Cedae. Não sei a resposta. Sei que o dinheiro acabou. (Garantidos ao governador sete camarotes no Maracanã, regados pelo concessionário, mais 200 ingressos de arquibancada por jogo.) Sei também que o segundo semestre do ano passado — eleitoral — foi rico em obras estado adentro.

Informa-nos de que o dinheiro acabou o próprio Cláudio Castro, viajante a Brasília para pedir arrego ao ministro da Fazenda. Em 3 de outubro último, carpindo por nova renegociação nos termos do regime de recuperação fiscal, dramatizou: “Se não avançarmos nisso, é quebradeira de novo dos estados, que já estão em situação difícil”. Prantearia ainda mais miséria:

— Nosso problema vai causar fome no estado, vai causar atraso de salário, e isso é algo que não podemos deixar acontecer de forma alguma.

Um ano depois da eleição e — “o nosso problema” — já explícito o estelionato eleitoral. Projetando o caos o mesmo que, pouco mais de ano antes, jactava-se do equilíbrio nas contas do Rio. Era 1º de julho de 2022, e ele fazia — em entrevista ao CBN Rio, programa que apresentei até a semana passada — considerações sobre a redução da alíquota do ICMS:

— Acredito que o trabalho que a gente fez ao longo dos últimos 22 meses proporcionou hoje que a gente pudesse fazer essa redução. É uma redução dura. Que impacta os estados. Mas nós já começamos este ano com previsão de superávit de R$ 3 bilhões e temos ainda melhorado na questão de cobrança de tributos e de melhora da máquina pública. Isso tudo vai fazer com que a gente possa fazer essa redução sem impacto.

A situação estava ótima até pelo menos agosto deste 2023; e o governador batia o bumbo. Deu no GLOBO: “Agência de classificação de risco eleva nota do Rio de Janeiro”. Subtítulo: “Castro atribui melhora à gestão das finanças públicas feita pelo governo”.

— Hoje estamos conseguindo pagar as parcelas da dívida com a União sem comprometer a prestação dos serviços públicos e o pagamento dos salários dos servidores, gerando benefícios para todos.

E então, de agosto a outubro, a fome de repente à espreita, em risco os salários do funcionalismo, não havendo os R$ 8 bilhões para pagar dívida conforme acordado. Nenhum meteoro caíra. Caiu a mentira.

— O nosso problema vai causar fome no estado, vai causar atraso de salário, e isso é algo que não podemos deixar acontecer de forma alguma.

Deixaram.

O “nosso problema” é ser governado irresponsavelmente. A falência do Rio — condenado, de castro em castro, a esse estado de sérgio cabral permanente — estava denunciada, óbvia, desde abril de 2023. Naquele mês, o governo decidira encerrar subitamente o Supera RJ, programa de assistência — R$ 280 por mês a famílias pobres — que, como parte da máquina de propaganda pela reeleição, Castro renovara até dezembro.

Reeleito, findo o dinheiro, mandou fechar o Supera, traindo milhares de cidadãos que acreditaram na conversa fiada — obrigado o estado a pagar o benefício até agosto, o que faria com atraso (a parcela final cumprida somente em outubro), graças à pressão da imprensa e a gestões de bons parlamentares na Alerj.

Em julho de 2022, em campanha, Castro fez mais que bravatear tranquilidade sobre a boa forma do estado para encaixar a pancada da queda de arrecadação decorrente da Lei Complementar 194. Surfou a onda do bem-estar derivado da percepção de que o valor da gasolina caía. Foi com tudo no modo bolsonaro. Criticou a margem de lucro da Petrobras; bradou que aumentaria a tributação sobre a companhia caso ela continuasse a reajustar os preços dos combustíveis vendidos às distribuidoras e ameaçou donos de postos com multas se não derrubassem os valores nas bombas.

Pouco mais de ano depois, o discurso mudaria — e ora é como se não tivesse lavado a égua eleitoreira naquela farra:

— A condição de pagamentos dos estados foi alterada por uma situação fora do nosso controle, que foi uma lei federal aprovada, e não há a menor condição de a gente pagar os valores corrigidos para o ano que vem.

Reeleito, não haverá — segundo o Cláudio Castro de outubro, uma situação “inviável” — grana para honrar compromisso de 2024. Em agosto, havia — repita-se:

— Hoje estamos conseguindo pagar as parcelas da dívida com a União sem comprometer a prestação dos serviços públicos e o pagamento dos salários dos servidores, gerando benefícios para todos.

Inviável, em qualquer tempo, é o governo Cláudio Castro, falido, incompetente, opaco, fraco, cada vez mais nas mãos dos donos da Alerj, desautorizado a escolher o secretário de Polícia Civil e ainda com três anos para (nos) sangrar. Esse é “o nosso problema”. Nunca tão importante o jornalismo local — que não será calado.

 

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