quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Tarcísio e a barbárie - Bernardo Mello Franco

O Globo

Com palavras e ações, governador de São Paulo estimulou polícia a atuar fora da lei

Tarcísio de Freitas prometeu investigar e punir os protagonistas dos novos casos de barbárie policial em São Paulo. O governador se disse contrariado com os PMs que mataram um homem pelas costas e atiraram outro de uma ponte. Os agentes devem estar surpresos com a súbita reprovação do chefe.

Tarcísio entregou a Segurança Pública a Guilherme Derrite, um capitão que conseguiu ser afastado da Rota por excesso de violência. Como secretário, ele mudou normas para proteger PMs acusados de praticar crimes. Disse que não queria punir quem “tira bandido de circulação”.

No início do ano, a polícia paulista produziu sua maior carnificina desde o Massacre do Carandiru. A chamada Operação Verão espalhou terror na Baixada Santista e deixou um saldo de 56 mortos. Os agentes taparam as câmeras corporais para não gravarem as execuções sumárias, mas foram premiados com elogios do governador.

Em novembro, a PM de Derrite matou Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos. No dia seguinte, soldados invadiram o enterro para intimidar a família do menino. Em resposta às críticas, Derrite esvaziou a Ouvidoria das Polícias, que apura abusos de agentes do Estado.

Os casos que vieram à tona nesta semana são chocantes até para os padrões do governo Tarcísio. Um PM de folga executou Gabriel Renan da Silva Soares na porta de um supermercado no Jardim Prudência, na periferia paulistana. O rapaz estava desarmado e era suspeito de furtar três refis de sabão líquido. Depois de matá-lo com 11 tiros, o policial alegou legítima defesa.

Na Cidade Ademar, também na zona sul, PMs interceptaram um motoqueiro numa blitz. Um dos agentes segurou o homem pelas costas e o arremessou do alto de uma ponte. Ele se machucou na queda, mas sobreviveu. Treze policiais participaram da batida, e nenhum deles relatou o fato às autoridades.

Em março, Tarcísio zombou das queixas contra a violência da PM. “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, debochou. Com palavras e ações, o governador bolsonarista incentivou a tropa a atuar fora da lei. Agora tenta se descolar da barbárie que estimulou.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Infelizmente!