Correio Braziliense
Foi um erro estratégico do governo dar ênfase
ao papel fiscal do corte para equilibrar as finanças sem cuidar do papel mais
importante: consolidar a confiança
Em artigo publicado neste jornal, Luiz Carlos Azedo diz que o presidente Lula aproveitou o pacote de corte de gastos para passar a ideia de ser Robin Hood, cobrando mais imposto de renda de quem recebe acima de R$ 50 mil e isentando quem recebe abaixo de R$ 5 mil por mês. A opção demonstra compromisso moral e social do presidente, mas foi equivocada ao apresentá-la na proposta que visava demonstrar seriedade fiscal. Ainda pior, o presidente ignorou que o corte de gastos não tinha função de apenas equilibrar as contas, mas sobretudo de fortalecer um fator fundamental nas economias nacionais contemporâneas: a confiança de agentes econômicos — consumidores, investidores, produtores, distribuidores, poupadores —, simplificadamente chamado de mercado.
O deficit fiscal indica o grave problema de
falta de recursos para cobrir gastos do Tesouro com os compromissos para fazer
funcionar a máquina estatal, mas isso pode ser superado momentaneamente com
empréstimos, emissões de moeda ou até com pedaladas que jogam o problema
agravado para o futuro. Mas a falta de confiança dos agentes econômicos
paralisa a economia. Por isso, o governo precisava agir para recuperar a
confiança. Lamentavelmente, os políticos próximos ao presidente ainda não
entendem que a economia do século 21 tem mais do que os três fatores
fundamentais de antigamente — trabalho, capital e recursos naturais. Agora, tem
também tecnologia, inovação, educação e confiança.
Nossa economia padece da escassez de quase
todos os recursos, mas a falta de credibilidade nas instituições políticas, no
marco jurídico, na intervenção governamental e na capacidade de financiamento
público afugenta investimentos de médio e longo prazo, adia empreendimentos,
aumenta taxa de juros, inflação e desemprego. A escassez de confiança impede o
bom funcionamento do sistema econômico e dificulta mobilizar os demais fatores,
como inovação, tecnologia, capital, recursos naturais que podem ser obtidos no
mundo, quando há confiança.
Foi um erro estratégico dar ênfase ao papel
fiscal do corte para equilibrar as finanças sem cuidar do papel mais importante
— consolidar a confiança —, e ainda maior erro querer atender às expectativas
eleitorais, especialmente do entorno político do candidato em 2026, passando a
ideia de Robin Hood. Com isso, impediu a volta do fator confiança e ainda
abalou a credibilidade do principal avalista do realismo econômico, o ministro
Haddad, que faz parte dos economistas sensíveis socialmente, comprometidos e responsáveis
com a realidade.
Mesmo sendo correto, moral e socialmente, e
supondo que o aumento na receita vinda dos que recebem R$ 50 mil seja aprovada
no Congresso e compense a perda pela isenção dos que recebem até R$ 5 mil, a
apresentação das duas medidas juntas depredou o papel fundamental de aumentar a
confiança dos agentes econômicos. O governo agiu de forma fiscalista e não
estratégica, o que fica claro ao trazer de volta o apresentado termo
"pacote", aposentado desde o início do Real e que depreda a
credibilidade porque passa a ideia de provisório e impositivo, sem respeitar a
realidade econômica.
Mas o momento cronológico não foi o único
erro do pacote Robin Hood, houve um erro no momento histórico. O Robin Hood do
século 12 tirava bens e dinheiro dos ricos para os pobres. Já o Robin Hood do
século 21 precisa levar as crianças dos pobres para a escola dos ricos. Esse
seria o caminho para cumprir o papel moral do governo, porque os mais pobres
não se beneficiarão da isenção entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil, e esse benefício
para a classe média baixa será conjuntural e financeiro, não estrutural e permanente,
como seria com uma política de Robin Hood educacional.
Para não corroer o propósito do pacote de
confiança, o governo deveria ter aceitado a visão do ministro Haddad e
apresentado isenção quando pudesse mostrar resultados positivos do equilíbrio
fiscal. Deveria também retomar o programa que iniciou em 2003 chamado Escola
Ideal, pelo qual faria o papel do Robin Hood do século 21, oferecendo escola
com qualidade federal para todas as crianças. Hoje, o programa deveria ser por
cidades — Cidades com Educação Federal — implantadas estrategicamente em ritmo
que não afetasse o equilíbrio fiscal.
Está havendo deficit de pensamento estrutural
no governo, capaz de pensar estrategicamente; e deficit de comunicação
eficiente, capaz de falar o que é preciso, dizer a todos e não apenas à bolha
dos apoiadores no curto prazo, em busca de eleitores que logo se afastarão se a
economia não reagir bem.
*Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
Um comentário:
Esse governo não é sério se o passado de desastre à frente do Brasil a ponte pra que nós estamos indo ladeira abaixo
O dólar seis reais o capital Estrangeiro fugindo Velozmente
O PT pressionando pra gastar mais pra ver se reverte a péssima avaliação do eleitor ao seu governo
E com isso nós tamos sendo arrastado pro precipício , como fez a Dilma
E os jornalistas tudo passando pano, deve estar rolando uma grana boa
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