quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Emendas pioram a democracia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Emendas parlamentares ao Orçamento deixaram de funcionar como cola para coalizões e se tornaram ativo eleitoral para incumbentes

É até possível que o acordão entre Legislativo, Executivo e Judiciário sobre a tramitação de emendas parlamentares torne o processo mais transparente, o que é desejável, mas fica muito aquém de transformá-las em algo útil e não contraproducente para a sociedade.

Ao contrário de quase todo mundo, sempre fui contra a possibilidade de legisladores interferirem de forma paroquial no Orçamento. É verdade que, até um passado recente, as emendas ainda tinham uma função instrumental. Eram a forma pela qual os governos arregimentavam maioria no Congresso. O legislador que votasse de acordo com os interesses do Executivo tinha suas emendas liberadas.

Mudanças na execução do Orçamento, contudo, acabaram com isso. Não apenas houve a multiplicação dos tipos de emenda e a substancial ampliação de seus valores como várias delas se tornaram obrigatórias.

Sem funcionar mais como uma cola para a formação de coalizões, as emendas viraram essencialmente um ativo eleitoral. Elas dão a deputados e senadores e seus prefeitos aliados uma enorme vantagem na disputa por votos.

Vimos isso com nitidez nas eleições municipais deste ano. Nas cidades mais beneficiadas por emendas, a taxa de reeleição de prefeitos foi maior. Devemos assistir a fenômeno análogo e com muito maior intensidade na reeleição para a Câmara e para o Senado em 2026.

Há aí um elemento de desequilíbrio democrático, já que as emendas reduzem as chances eleitorais de candidatos que desafiem os incumbentes. E não é só. As emendas também provocam uma atomização dos investimentos públicos, que perdem eficácia.

Outra consequência desse processo foi o relativo enfraquecimento do Executivo e fortalecimento do Legislativo. Isso não é algo que eu veja com maus olhos. O segredo da democracia é que mudanças de maior envergadura não podem ser impossíveis mas tampouco devem ser muito fáceis. Se você discorda disso, lembre-se de que é uma questão de tempo até que o grupo político que você mais despreza conquiste o poder central e tente implementar seu próprio rol de mudanças.

5 comentários:

Anônimo disse...

As emendas parlamentares controladas pelo governo é o mensalão gigante institucionalizado
E todo mundo passando pano

Mais um amador disse...

" Se você discorda disso, lembre-se de que é uma questão de tempo até que o grupo político que você mais despreza conquiste o poder central e tente implementar seu próprio rol de mudanças. "

Que " você mais despreza " ou que o próprio colunista mais despreza ?

🤔😏

Anônimo disse...

"as emendas viraram essencialmente um ativo eleitoral"

Ativo Eleitoral é o 'novo' (novo é o c******!) nome do ROUBO dos recursos perpretado contínua, constante e permanentemente pelos senhores congressistas legislativos sobre os impostos que pagamos?

Anônimo disse...

O congresso reage às medidas corretivas das emendas atacando Flávio Dino.
Escamoteiam a verdade: foi Rosa Weber a heroína que decidiu acabar com a roubalheira desenfreada.
O que Flávio Dino faz é regulamentar o que pode e o que não pode, já que os congressistas (corruptos-corruptores?) não sabem a diferença entre uma cousa e outra.

ADEMAR AMANCIO disse...

Valeu!