quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Julgamento de um candidato a carrasco - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão

A invasão da Ucrânia  pela Rússia , há dois anos,  já resultou em mais de um milhão de mortos, feridos e desaparecidos  (Wall Street Journal:17.9.2024).  Até setembro, a  Rússia Ucrânia  teria perdido300 mil combatentes contra    130 mil  combatentes  da Ucrânia .  Dois milhões  de  russos fugiram do país;  12 milhões de ucranianos emigraram . Milhões de famílias  perderam seus lares e  milhares de crianças tornaram-se órfãos. Grandes obras públicas e  parte dos campos usados para produção de  alimentos  estão sendo destruídos. A fome já é vislumbrada em alguns lugares. 

Não existem estatísticas precisas, nem da ONU (ACNUR). Começam, entretanto, a surgir os primeiros relatós reais sobre a guerra, frutos da cobertura de jornalistas correspondentes ,  das agências de notícias, da grande imprensa internacional e dos estrategistas militares europeus e norte-americanos. Rússia e Ucrânia  divulgam também suas estatísticas , mas , oficiais, elas não são confiáveis,

O certo é que estão morrendo diariamente milhares de soldados russos, jovens inexperientes, convocados às pressas , em que pese  os enfrentamentos diretos estarem sendo feitos   por unidades formadas por  condenados  pela justiça,  que concordaram em participar da guerra em troca da redução  ou do perdão das penas.  Trabalhadores  Indianos, paquistaneses. tailandeses, filipinos, que buscam a cidadania russa, são atraídos para o Exército com promessas de salários que podem chegar ao equivalente a  US$ 2.300, se sobreviverem.  Recebem treinamentos rápidos e são lançados nas frentes da batalha.  Mortos não são sequer uma estatística.

No caso dos  coreanos do Norte, a participação deles  na guerra com a Ucrânia resultaria  de um acordo para a venda de equipamentos e o suprimento de contingentes militares  para os russos  . Como prestadores de serviço, os combatentes estrangeiros, de uma maneira geral,  recebem um tratamento discriminatório. Quando mortos,  são deixados no campo ou enterrados em covas coletivas. Daí a evasão de soldados  coreanos que começam a se perceber comercializados  como "buchas de canhão". 

Atacada por todos os lados , e vendo seus territórios ocupados, lavouras destruídas a  Ucrânia terminou por conseguir autorização dos Estados Unidos para usar os chamados mísseis  "storm shadow", de longo alcance e precisão milimétrica que transportam grandes quantidades de explosivos. Foi uma resposta aos bombardeios de  Kiev, a capital ucraniana. 

Não bastasse essa nova ameaça aos russos, a China continua a reivindicar partes de seu território anexados  pela Rússia em conflitos anteriores. Entre eles está  o porto de Vladvostok, no extremo asiático. A Rússia o ocupou e  estacionou ali a  5a Frota Naval. Em 2022 e 2023 os russos lançaram uma nova  Doutrina Marítima  de proteção ao seu território, e realizou  exercícios militares  sistemáticos, mobilizando 167 navios, 12 submarinos, 89 aviões e 25 mil militares. Mas, em Vladvostok  e cidades prósperas da Oeste asiáticos os trabalhadores chineses já representam    40 por cento da população regional .

Comum PIB dez vezes maior que o da Rússia, a China,  tem a segunda maior uma força naval do mundo,  representada por   350 navios de superfície e submarinos,  em constante crescimento e modernização. Seu Exército  integrado por 1,4 milhão de combatentes : o maior do planeta. A China possui também equipamentos militares moderníssimos  tipos: drones, foguetes, ogivas nucleares, capacidade digital  tão ou mais avançada que os EUA  . E já existe nas redes sociais provocações, segundo as quais a China estaria interessada em ocupar a Sibéria, de recursos naturais estratégicos. A Rússia deve conviver assustada com os chineses . Para agravar o quadro,  a Turquia, sócia no Mar Morto, avisou: "Deixem a Criméia!" O mar Morto desemboca no estreito de Bósforo, totamente dentro do território  turco. Os russos na Criméia é prenúncio de um conflito futuro com a Turquia.

Vive-se  cenário realmente temerário. Nele desponta,  na televisão, Wladimir Putin advertindo que pode fazer uso de artefatos nucleares . Não se sabe se a mensagem é endereçado à Ucrânia, aos países da OTAN ou até mesmo à China que assiste ligeiramente distante a aventura russa na Ucrânia, sem esquecer seus  territórios ocupados pela Rússia. O país tem muitos problemas de fronteira com vizinhos e, internamente, com os povos siberianos (20 a 30 milhões de habitantes), ao longo do tempo silenciados à força. 

Esse panorama requer dos russos moderação. Vladimir Putin  não tem PIB que sustente suas bazófias,  ou então, ele, de fato, não tem a dimensão exata do que  sonha e diz. A Rússia, individualmente,  é o pais com o maior estoque de armas nucleares, grande parte desatualizadas. Juntos,   Estados Unidos, Europa e outros aliados somam um arsenal duas ou três vezes o da Rússia. A vaidade e a indiferença de Putin com a morte de milhões de pessoas civis e militares, seja onde for, chegou ao ponto de ele pretender fazer da invasão da Ucrânia um conflito mundial. Mas, cometeu, inicialmente, dois  erros humanitários: sequestro crianças ucranianas e um tratamento indiferente a vida de seus próprios combatentes. As  famílias russas perdem seus filhos e  chefes, convocados para a guerra, que muito consideram fraticida.

Se me sensibilizo com as perdas humanas,  chego a ter pesadelo com as possíveis respostas às ameaças de Putin , que poderiam afetar cidades históricas como São Petersburgo,  Ecaterimbugo, Ikursk, Krasnoyarsk, Murmasnk, Suzdal, Norilk, Wladimir, Voronej, -Glazov, Tambov-, Kazan, Novosibirsk e até Moscou todas inscritas ou candidatas ao título de Patrimônio Histórico e Artístico Mundial concedido pela UNESCO - Organização das Nações Unidades para a Educação, Ciência e Cultura .  A primeira bomba nuclear lançada por Putin poderia ter uma resposta tão devastadora que os russos - o mundo - ficariam desnorteados .Provavelmente, receberia como resposta  uma chuva delas. Ninguém ia esperar por uma segunda bomba russa . A resposta imediata e devastadora está na moda.

Depois de Nagasaki e Hiroshima, a bomba atômica tornou-se um instrumento de  dissuasão, e não uma arma de destruição. Ninguém, e quero crer  que nem mesmo Putin  pretende usá-la. A resposta  seria imprevisível . Aquele que fizer uso dela será condenado em todos os tribunais no mundo, e  poderá  ter um fim     igual ao de Mussolini, na Itália. Dá para o Brasil se meter num cenário desses?...Por aqui esse teatro de guerra para dar posse a Maduro é suficiente.

*Jornalista e professor      

 

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