quinta-feira, 31 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil precisa reagir com sobriedade diante de tarifaço

O Globo

Motivada por Bolsonaro e big techs, ação de Trump é injustificável, mas busca de solução exige serenidade

A confirmação nesta quarta-feira das ameaças feitas por Donald Trump contra a economia e o Judiciário do Brasil causa profunda perplexidade. Como parece hoje ser a marca do governo americano, houve dois movimentos em sentidos opostos: reduziu o alvo da tarifa adicional de 40%, isentando dela centenas de produtos, e radicalizou a perseguição ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, enquadrando-o na Lei Magnitsky, que o expõe a sanções financeiras. Nas justificativas, dois comunicados, um da Casa Branca e outro do secretário de Estado, Marco Rubio, fazem menção ao julgamento de Jair Bolsonaro e aos interesses das big techs.

Por certo, 30 de julho de 2025 terá destaque funesto na história das relações entre as duas nações amigas. Empreendedores e trabalhadores de empresas com vendas de produtos nos Estados Unidos serão as grandes vítimas. O tamanho do aumento das tarifas, mesmo com as isenções, é um dos maiores aplicados a uma democracia amiga até o momento e pode inviabilizar exportações em uma série de setores. Com isso, é provável que provoque queda de receita e demissões. Fatias do mercado americano arduamente conquistadas durante anos desaparecerão de uma hora para outra. É verdade que a extensão das consequências foi limitada pela lista de 694 exceções, que inclui petróleo, aviões e suco de laranja, e isso foi um alívio. Esses produtos respondem por cerca de 43% das exportações brasileiras aos Estados Unidos. Mas a lista manteve a tarifa adicional para vários segmentos em que o Brasil é competitivo, como o de carnes, café e frutas. Perto do que se temia no início do mês, o estrago até que foi menor. Ainda assim, provocará muito prejuízo. Por isso é essencial nos próximos dias e semanas tentar aumentar o número de produtos isentos da sobretaxa.

Intervenção americana nas eleições de 2026 já aconteceu - César Felício

Valor Econômico

Disputa terá ameaça de ruptura, como ocorreu em 2022, tendo o mesmo fator desestabilizante: o ex-presidente Jair Bolsonaro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá intervir no processo eleitoral brasileiro de 2026? Esta é uma questão superada a partir da formalização das sanções contra o país e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes, anunciadas na quarta-feira. Ele já interveio.

As eleições de 2026 serão disputadas sob a ameaça de ruptura, da mesma forma como foram as de 2022, tendo o mesmo fator desestabilizante: o ex-presidente Jair Bolsonaro. O bolsonarismo trabalhou contra as instituições há quatro anos e segue buscando uma solução extrema agora. Se entre 2021 e 2022 procurou criar um ambiente propício para uma sublevação, agora foi mais longe. Concretizou uma agressão externa para reposicionar-se no cenário político. Conforme o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse em sua mensagem em inglês, “this is far from the final step”, ou seja, estamos longe do passo final da caminhada.

Trump amarela mas é cedo para cantar vitória - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Mitigação do tarifaço mostra recuo parcial de Trump e Magnistky sobre Moraes respalda defesa da soberania, mas Lula é aconselhado a não tripudiar

Donald Trump amarelou de novo mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não passou recibo. Contestou as tarifas remanescentes como se não tivesse havido recuo. E manteve o tom usado no “The New York Times”. Preocupação, sim, medo, não.

Com as exceções, o impacto sobre a economia ficou mais manejável. A aplicação concomitante da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes deu credibilidade ao discurso de que a perseguição de Trump contra o Brasil é política. A ofensiva americana, até aqui, só reforçou a defesa da soberania.

É claro que ainda há pontos em aberto mas se calcula que mais de 40% das exportações brasileiras podem ser beneficiadas pelas exceções já anunciadas, além daquelas que ainda estão por vir como anunciou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Os problemas remanescentes podem vir a ser enfrentados com a busca de novos mercados e com o plano de contingência, que dificilmente daria conta de repor a perda que a Embraer, joia da indústria nacional, teria se mantida no tarifaço.

Prosseguimento do golpe - Merval Pereira

O Globo

Na visão distorcida de Trump, a ação dos Bolsonaros na tentativa de golpe é uma legítima defesa da democracia, como a dele, que incentivou o ataque ao Capitólio

Se separarmos a negociação comercial da chantagem política, o Brasil conseguiu sair-se bem da primeira, com uma tarifa média bem menor do que estava previsto devido às isenções conseguidas, e ficou num impasse na seara política, pois o que o governo americano quer não é negociável. O destino do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em tese, não entra em negociações políticas. A vingança dos bolsonaristas contra o ministro Alexandre de Moraes causará problemas pessoais para ele e sua família, mas não terá o condão de influir no veredito.

Nem mesmo a chantagem implícita no aviso do secretário de Estado Marco Rubio de que os juízes brasileiros não podem se resguardar nas suas togas mudará a tendência à condenação, pois as provas são evidentes, e o crime gravíssimo. A crise nas relações de Brasil e Estados Unidos, no entanto, só faz escalar, numa proporção que não se imagina aonde chegará. O ataque ao juiz do Supremo é um ataque a um dos Poderes da República, não pode ser entendido como uma sanção pessoal.

Ataque ao Brasil terá resposta judicial - Míriam Leitão

O Globo

Executivo e Judiciário avaliam ações na Justiça dos Estados Unidos e no Brasil e em tribunais internacionais após decreto americano

O Brasil pode entrar na Justiça dos Estados Unidos com base na Constituição deles, ou com base na própria Lei Magnitski, porque ela está sendo aplicada sem os motivos que a justificaram. Pode haver ação na Justiça brasileira sustentando que a lei americana não tem poderes no Brasil. E pode haver uma ação em tribunais internacionais. Tudo isso estava em análise ontem no Executivo e no Judiciário. Mas a reação depende da posição do governo e do próprio ministro Alexandre de Moraes.

O ministro Alexandre não se sentiu atingido porque não tem contas nem bens ou investimentos nos Estados Unidos. Seu visto está vencido há dois anos e ele nem se preocupou em atualizar. Horas depois do ataque ao ministro, o próprio Brasil foi atingido com a tarifa de 50%. A longa lista de exceções contempla os interesses americanos, mas trouxe alívio para vários setores. A Embraer viu suas ações decolarem. Os aviões brasileiros têm quase 50% das peças e componentes vindos do mercado americano, seria um tiro no pé taxar o avião brasileiro. O café, que ficou fora dessa lista de exceções, está numa situação confortável. Há mais demanda do que oferta de café no mercado global.

Trump escala confronto com Moraes e mitiga tarifaço - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Lula, que teve sangue frio para suportar as ameaças da Casa Branca

A crise entre Brasil e Estados Unidos atingiu novo patamar político institucional com a decisão do presidente Donald Trump de assinar uma Ordem Executiva que impõe sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, por causa do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, e declara emergência nacional para justificar a imposição de tarifas adicionais ao Brasil, elevando esse total para 50%. A medida, porém, exclui dessa taxação produtos considerados indispensáveis para sua própria economia, como laranja, aço, minerais e combustíveis. Com isso, o impacto do tarifaço nas exportações será bem menor do que era esperado. Ponto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve sangue frio para suportar as ameaças dos Estados Unidos e não caiu com o barulho da bala.

Mordida feroz é seguida por alívio onde convém para Trump - Álvaro Fagundes

Valor Econômico

Cerca de 40% das vendas brasileiras aos EUA em 2024 não pagariam tarifa adicional de 40%

lista de isenção da tarifa adicional de 40% é liderada exatamente pelo produto que o Brasil mais vende para os EUA: o petróleo. No ano passado, os barris brasileiros exportados aos americanos somaram US$ 6,5 bilhões, segundo cálculos do próprio governo dos EUA. Pelas contas do governo brasileiro, os Estados Unidos responderam por 13% das exportações da commodity, atrás dos 44% da China.Os Estados Unidos apresentaram nesta quarta-feira uma lista de 694 itens que só estão sujeitos à tarifa de 10% anunciada em abril. Desse grupo, pouco mais de 400 foram mercadorias compradas do Brasil no ano passado. No cenário de 2024, US$ 18,4 bilhões se encaixariam na isenção dos 40% - o que equivale a 42,5% dos embarques brasileiros aos Estados Unidos no ano passado. No total, as exportações do país para a maior economia global era formada por pouco mais de 6 mil produtos em 2024.

Índia bloqueia parceria econômica no Brics - Assis Moreira

Valor Econômico

País queria ser recompensado com bom acordo com os EUA, mas Trump ameaça com tarifa de 25%

O Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros seis) não consegue renovar sua Estratégia para a Parceria Econômica para o período 2025-2030, prevista para ocorrer durante a atual presidência brasileira do grupo e que coincide com intimidações sem precedentes de Donald Trump na cena internacional.

Essa parceria foi lançada em 2020 na cúpula em Moscou para delinear cooperação no comércio, investimentos e financiamento, economia digital e desenvolvimento sustentável no grupo dos grandes emergentes. O documento original, negociado já em meio a turbulências de Trump 1.0, mencionava determinação por exemplo de “resistir à incerteza global emergente causada por uma série de fatores, incluindo o aumento de medidas unilaterais e protecionistas que vão contra o espírito e as regras da OMC”.

Não se negocia com a cabeça na boca do tigre - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Os dois extremos – virar a mesa ou abaixar a cabeça – implicariam resultados ruins para o Brasil

Após a publicação da decisão do presidente Donald Trump sobre a majoração das tarifas contra o Brasil para 50%, torna-se ainda mais importante encontrar saídas para a relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos, a exemplo do que ocorreu no caso da União Europeia. As tratativas precisam avançar no campo técnico e diplomático, mas a política deve exercer o seu papel e preservar a soberania nacional. Não há espaço para traições à Pátria.

As exportações brasileiras e o setor produtivo nacional não podem ser prejudicados e, com eles, os empregos e a renda dos brasileiros. O peso dos Estados Unidos na pauta exportadora brasileira é de 12%. Os itens vendidos para lá são muito relevantes. Trata-se de US$ 40,4 bilhões (ou 2% do PIB), sendo US$ 31,6 bilhões referentes à indústria de transformação, ou seja, 78,2% do total vendido aos Estados Unidos, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior para 2024.

O abismo é logo ali - William Waack

O Estado de S. Paulo

A marcha da insensatez não é um acontecimento inevitável. Mas, quando ocorre, como é o caso agora entre Brasil e Estados Unidos, é incontornável e produz consequências de longo prazo. Destruidoras para os participantes. O que levou os dois “gigantes” do hemisfério das Américas à rota de colisão foi a profunda degradação dos respectivos sistemas políticos. Nos dois países estão no timão dirigentes políticos de horizontes extraordinariamente estreitos, e dispostos a tomar decisões estratégicas idem.

Trump simboliza o triunfo da imbecilidade em geopolítica típica de um eleitorado ressentido abandonado por elites às quais escapa a noção do que é a América “real”. Aplaude-se um projeto político que promete tornar os Estados Unidos um perdedor na monumental disputa por hegemonia com a China.

Para Trump, o Brasil é ameaça - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Pode parecer paradoxal, mas não é. O tarifaço do presidente Trump chegou como um golpe de tacape, mas o mercado até comemorou: previa-se o pior, que acabou não se concretizando porque o decreto isentou boa parte dos produtos mais importantes que antes estavam sob ameaça.

Escaparam da pancada aviões da Embraer, celulose, suco de laranja, minérios e certos produtos da Weg. Da pauta de exportações do Brasil, itens que não escaparam foram calçados, carnes, café e algumas frutas, como as mangas.

Isso explica por que, desse ponto de vista, o tarifaço produziu certo alívio por aqui. Sobre o PIB brasileiro, provavelmente não produzirá um impacto superior a 1%, e não mais os cerca de 4% previstos se todos os produtos fossem igualmente atingidos pela mega tarifa de 50%. É o que explica a alta de quase 1% na Bolsa, a esticada de 11% nas ações da Embraer, de 0,64% nas ações da Suzano e 0,74% nos papéis da Weg.

Nossa democracia na mira de Trump - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A afronta à independência nacional visa, mais que tudo, agredir o sistema democrático no Brasil

soberania está em alta, constatou o correspondente do New York Times no Brasil. Afirmá-la com estridência foi a resposta dos governantes de países contra os quais Trump ameaçou aumentar tarifas ou usar a força para exigir decisões de âmbito doméstico, como fez com o Canadá, o México, o Panamá, a Colômbia e o Brasil.

Aqui, governo e organizações da sociedade civil abraçaram a defesa da soberania —no discurso presidencial; na comunicação política oficial; em manifestações como a que enlaçou entidades representativas de numerosos setores; e o entusiasmado público que lotou a Faculdade de Direito da USP, na manhã de 25/7.

Comércio com os Estados Unidos segue em estado de emergência - Welber Barral

Folha de S. Paulo

Como em outros embates comerciais, a cicatriz durará muito além do fim da medida

Em ordem executiva vigente em sete dias, Trump impõe uma tarifa adicional de 40% (que se somam a outros 10%) sobre produtos brasileiros.

A medida, editada com base no International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) e na National Emergencies Act (NEA), é apresentada como resposta a uma "emergência econômica", porque o Brasil supostamente interfere na economia dos Estados Unidos, infringe a liberdade de expressão e persegue seu ex-presidente.

O texto legal invoca ainda a seção 604 do Trade Act de 1974, que apenas operacionaliza alterações tarifárias no código aduaneiro. Em termos práticos, trata-se de um ato agressivo unilateral travestido de emergência nacional.

Trump bate, mantém ameaça política grave e assopra, mas Lula faz pontos - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Quase metade do valor das vendas para os EUA ficou isenta de tarifa extra

O governo do Brasil não tinha armas para enfrentar o ataque de Donald TrumpO conflito está aberto e vai longe. O governo americano vai tentar satisfazer interesses de empresas, como big techs, tem lista grande e antiga de queixas comerciais e regulatórias contra o Brasil e, enfim, quer vassalagem de outros países, para nem mencionar o apoio aos Bolsonaro e seus golpes.

No entanto, como a primeira surtida americana ficou relativamente barata e como Lula não baixou a crista, o governo pode cantar vitória parcial e provisória.

Metade do valor das exportações do Brasil para os EUA parece ter ficado isenta de imposto extra, cálculo inicial —em vez de tarifa de 50% a média seria próxima de 30%. A lista de isenções parece atender a interesses específicos de empresas americanas, como tem ocorrido em concessões de Trump na guerra com outros países.

Lista de exceções no tarifaço traz alívio - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Não ocorreu cataclismo, mas não dá para achar que o pior já acabou

lista de exceções à sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump aos produtos importados do Brasil mostrou o peso e a capacidade de mobilização das empresas do setor privado do país. Ela pode ser tão efetiva quanto uma negociação de governo e tende a ser um padrão mais frequente, daqui para a frente, num cenário em que os canais de diálogo estão contaminados pelo ativismo da família Bolsonaro na Casa Branca.

A decisão dos EUA de poupar da tarifa adicional produtos da Embraer retira um problema gigantesco para o governo administrar no curto prazo. O impacto de um eventual socorro à empresa traria custo elevado para as contas públicas e não resolveria o problema da empresa.

Lei Magnitsky vs. Moraes - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Pela lei brasileira, não se reconhece atos estrangeiros que violem a soberania nacional

Ao aplicar sanções financeiras à pessoa física de Moraes, Trump deturpa a Lei Magnitsky igualando o juiz a torturadores, corruptos e golpistas. A versão atual da lei estabelece um sistema de sanções por "violações graves de direitos humanos" e "corrupção significativa" ocorridas em qualquer lugar do mundo, uma expansão da lei anterior com foco na Rússia. O que era para ser um instrumento de pressão contra sanguinários serve hoje sob Trump como meio para intervir no Judiciário alheio.

Magnitsky no outro é refresco - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

STF deve reagir à sanção contra seu ministro

"Mineiro só é solidário no câncer." A máxima brejeira era atribuída a Nelson Rodrigues, que dizia ser de Otto Lara Resende, que desmentia.

O silêncio de Luiz Fux, Kassio Nunes Marques e André Mendonça diante da revogação dos vistos americanos dos outros oito ministros do STF parece mostrar que ministro do STF é solidário nem no câncer, é colegial nem no colapso institucional. Pelo menos o carioca, o piauiense e o paulista. A medida abusiva do governo americano veio com requinte pré-moderno: a punição pelo suposto pecado foi aplicada não só à pessoa do pecador, mas também a familiares.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

O que a mìdia pensa Editoriais /Opinoes

Inflação de serviços continua um entrave para BC atingir meta

Valor Econömico

Preços dos serviços subiram 6,18% nos doze meses encerrados em junho

A inflação de serviços continua oferecendo resistência à queda da inflação, e seu nível se mantém incompatível com a meta de 3%. O Copom se reúne hoje e deve manter o forte aperto monetário, com taxa de juro real de quase 10%, por um período prolongado. A sustentação dos preços dos serviços tem suporte na política oficial de correção do salário mínimo acima da inflação — INPC mais a variação do PIB de dois anos antes, com ajuste real garantido de 3% neste e no próximo ano.

A política de reajuste real do salário mínimo influencia a elevação de outras faixas salariais, a remuneração dos servidores públicos e até dos trabalhadores informais e sem carteira assinada, além da correção das aposentadorias e pensões — de resto sustentados também pela baixa taxa de desemprego e pelo mercado de trabalho aquecido. Estudo da LCA4Intelligence constatou que o reajuste dos salários tem forte impacto na demanda de serviços. Em números, quantifica o estudo — ele justifica quase 70% da inflação de serviços (Valor, 24/7), que costuma subir mais lentamente e é difícil de ser reduzida depois.

A inflação de serviços está rodando em patamar superior ao do IPCA geral, segundo o IBGE. Após subir 0,26% em maio e 0,24% em junho, o IPCA acumula 2,99% no semestre. Em 12 meses, ficou em 5,35%, pelo sexto mês consecutivo acima da banda perseguida pelo BC, que tem centro em 3% e teto em 4,5%. No agregado especial de serviços, porém, a inflação mais que dobrou, de 0,18% em maio para 0,40% em junho, acumulando 6,18% em 12 meses, quase 1 ponto acima do índice geral.

Quem são os radicais? - Vera Magalhães

O Globo

Bolsonaro perdeu apoio ao rasgar a fantasia patriótica e deixar claro que seu verdadeiro lema é ‘eu acima de tudo, os meus acima de todos’

A contagem regressiva da chantagem do governo Donald Trump contra o Brasil, combinada com as ameaças cada vez mais coléricas de Eduardo Bolsonaro e seus acólitos a um número cada vez maior de autoridades brasileiras, representa a chance mais efetiva que Lula teve até aqui de recompor os canais de diálogo com setores que integraram a chamada frente ampla em 2022, e até com franjas da direita simpáticas ao bolsonarismo.

Na sua febre de relevância, o filho Zero Três de Jair Bolsonaro está se sentindo onipotente. Diz que fará o máximo para evitar que senadores — vários deles simpatizantes do seu campo político — obtenham êxito em tentar negociar que o tarifaço não atinja o Brasil. Acredita que possa regatear mudança de votos de ministros do Supremo negociando com a Casa Branca quais deles devem ser alvo de sanções por parte dos Estados Unidos. Não se vexa em estender as ameaças que fazia ao Supremo também ao Congresso, do qual faz parte. E acha que é chefe dos governadores bolsonaristas.

Nada nesse surto autoritário — que sabe-se lá de quem ele herdou, não é mesmo? — ajuda o pai, que também não consegue parar quieto em casa e fica apelando a repetições tristes de seus eventos do passado, como as fatídicas motociatas.

Para sabotar o Brasil, Eduardo Bolsonaro ataca até aliados do pai - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em cruzada por tarifas, deputado trata senadores bolsonaristas nos EUA como patetas

Eduardo Bolsonaro se apresenta como deputado em exílio. No mundo real, é um deputado em fuga. O Zero Três fugiu do país para escapar da polícia e insuflar o governo Trump a atacar o Brasil. Agora tenta sabotar todos os esforços contra o tarifaço.

No fim de semana, oito senadores brasileiros chegaram a Washington em missão diplomática. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, reagiu Eduardo. Nem os cinco bolsonaristas que integram a comitiva escaparam ao boicote do Bananinha. Obcecado em livrar o pai da cadeia, ele trata os aliados da família como patetas.

O Zero Três já havia torpedeado os governadores Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, que sonham em herdar os votos do clã. Na segunda-feira, passou a incitar a tropa contra o deputado Nikolas Ferreira, menino prodígio da extrema direita.

Lula vive dilema político: resistir ao tarifaço de 50% ou aceitar humilhação – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto

O governo brasileiro enfrenta, neste momento, um dos mais complexos dilemas da política externa contemporânea: aceitar a humilhação implícita nas exigências políticas do presidente Donald Trump para suspender o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros ou arcar com as consequências econômicas de uma medida punitiva, injusta e de motivação extra comercial.

O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto. O nosso ministro das Relações Exteriores sequer foi recebido pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, um falcão da extrema-direita da Flórida.

PT defende Alckmin e prega aliança com o centro em 2026

Cristiane Agostine / Valor Económico

Partido deve reconduzir a tesoureira Gleide Andrade no comando das finanças petistas

O PT deve aprovar no fim de semana, em encontro nacional do partido, um documento com a defesa da atuação do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), nas negociações para evitar o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos e com críticas às ações da família Bolsonaro contra a soberania nacional.

No texto, o PT apoiará também a política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a atuação do governo Luiz Inácio Lula da Silva na política externa. O documento servirá de norte para o partido nas eleições de 2026 e pregará um amplo leque de alianças, especialmente com o centro, para reeleger Lula.

A legenda defenderá ainda a busca pelo apoio dos evangélicos e dos empreendedores, que ainda resistem ao governo petista, segundo as pesquisas de opinião.

A tese será debatida e aprovada durante o 17º Encontro Nacional do PT, que será realizado entre sexta-feira (1) e domingo (3), em Brasília, com a presença de Lula. No evento, o presidente eleito do partido, Edinho Silva, tomará posse, assim como a nova direção petista. A atual tesoureira, Gleide Andrade, deve ser mantida no cargo, após negociações feitas por Edinho.

Sistema presidencialista sai fortalecido da crise - Fernando Exman

Valor Econômico

Reintegra de 3% para médias exportadoras - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Crédito tributário para empresas de médio porte é uma das possibilidade em estudo pelo governo em reação ao tarifaço de Trump

Caso seja concretizado o tarifaço de 50% na próxima sexta-feira, empresas de porte médio que vendem para os Estados Unidos poderão receber um crédito tributário de 3% sobre o valor exportado. Essa é uma das possibilidades em exame, informou à coluna um integrante do governo.

Esse crédito, chamado Reintegra, já existe hoje ao nível de 0,1%. Elevá-lo a 3% é antiga reivindicação dos exportadores, reforçada agora no contexto da escalada tarifária promovida pelo presidente Donald Trump. Está na lista de sugestões entregues pelo setor privado ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Na última segunda-feira, o Reintegra de 3% foi instituído para MEIs, micro e pequenas empresas que exportam, independentemente de mercado destinatário, como parte do programa Acredita Exportação. O que se examina no momento é se as médias que exportam para os Estados Unidos também terão acesso à alíquota de 3%.

A liberdade de expressão nas redes sociais - Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

O artigo 19 protege o exercício da liberdade de expressão, liberdade esta que não inclui a prática de nenhum crime

Discordo da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet (MCI, Lei 12.965/14). Mas discordo ainda mais de algumas críticas que têm sido feitas à decisão, como se a Corte tivesse autorizado a censura contra cidadãos nas redes sociais. Num cenário em que o Direito tem relevância cada vez maior na vida social e econômica do País, é fundamental entender o sentido e o alcance, seja do ordenamento jurídico, seja da jurisprudência. Não se enfrenta uma decisão judicial atribuindo-lhe algo que ela não faz.

O erro do STF foi entender que, para proteger direitos fundamentais, era necessário declarar inconstitucional o artigo 19 do MCI. Em vez de dar ao dispositivo uma interpretação sistêmica – alinhada com a finalidade explícita no próprio texto: “Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão” –, a maioria dos ministros do Supremo achou que a inconstitucionalidade era a solução.

A ‘rataria’ quer envolver o Exército - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo.

Oficiais tentam constranger generais com o objetivo de colocar a Força Terrestre no golpe

Os réus apareceram fardados. E tentaram trazer para o processo da trama golpista os generais Alcides Valeriano de Faria Júnior e Luiz Gonzaga Viana Filho. O primeiro comandava a 6.ª Divisão (6.ª DE) e o outro, o Centro de Inteligência do Exército (CIE) nos messes que antecederam a intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023. Ambos ganharam a quarta estrela na última promoção decidida pelo Alto-Comando da Força.

Mais do que comprometer os generais na trama, o que os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Fabrício Moreira de Bastos pretendiam era arrastar o Exército para o banco dos réus, em uma estratégia parecida à do coronel Brilhante Ustra durante seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. A diferença é que Ustra dirigira nos anos 1970 um órgão da Força Terrestre. Não desbordou a hierarquia nem agiu clandestinamente contra o Alto-Comando.

As tentações ao Copom - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo.

O perigo é o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos

Faz muito tempo que uma reunião do Copom não acontece em meio a uma irrefutável queda tanto das expectativas inflacionárias dos analistas quanto da inflação implícita nas taxas dos títulos públicos, mostrando um progresso efetivo da política monetária restritiva que levou os juros a 15%. Mas a melhora ainda é incipiente, e o perigo é de o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos.

Essa é a primeira reunião em que o Copom deverá deixar a taxa Selic parada após ter indicado, em junho, que pretende mantê-la inalterada por “período bastante prolongado”. Assim, a atenção recairá sobre o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão de hoje. O desafio do Copom é dissuadir o mercado de apostar num eventual início de um ciclo de corte de juros antes do desejável, o que colocaria a perder todo o esforço do BC em levar as expectativas inflacionárias em direção à meta de 3%.

Bolsonarismo quer que o Brasil se curve perante Donald Trump - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

O que presidente americano tem demandado é completamente inaceitável para andamento de qualquer governo democrático

direita bolsonarista brasileira não gosta de ser chamada de extrema direita. Rejeita a classificação por considerá-la uma tentativa deliberada de desqualificação por parte dos adversários. Prefere identificar-se apenas como direita —rótulo de que se orgulha e faz questão de ostentar.

Temos aqui um caso clássico de dissociação: identifica-se como direita, com orgulho, mas pensa e age como um movimento extremista que, por falta de opção melhor, aceita operar numa democracia liberal —ao menos enquanto ela ainda lhe serve. Sua inclinação natural, porém, é bem outra: atropelar as regras quando possível, driblar as instituições quando conveniente e, se a ocasião permitir, desferir um golpe contra o Estado de Direito —tudo em nome de valores, é claro.

Os quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro demonstraram isso. Desde o início, o bolsonarismo se comportou como uma força hostil às amarras do Estado liberal-democrático, que nunca reconheceu.

País precisa discutir o que fazer da gangue política aliada de Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Mais do que ligação de Lula, é preciso discutir mínimo de civilidade e nova diplomacia

Telefona? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ligar para Donald Trump? Isto é, o governo deve tentar criar pelo menos uma situação em que essa conversa não sirva apenas para a avacalhação do país?

O que Lula poderia dizer a Trump além de tentar criar um clima para alguma conversa, na melhor das hipóteses?

Pouco adianta dizer que os ataques americanos não têm base nos fatos ou são contraproducentes. Não é o que está em questão, assim como as proteções comerciais brasileiras também não são a questão maior. Talvez por meio de conversas racionais sobre vantagens e desvantagens, os lobbies da Embraer, do café e da laranja, por exemplo, e seus parceiros nos EUA consigam atenuar o dano. Faz algum efeito, claro, mas não é o que está em questão.

Unidos em ação e pensamento -Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A versão de que a trama do golpe foi fruto de meras elucubrações é de difícil digestão pelos juízes do processo

Réus no processo por tentativa de golpe de Estado têm alegado que documentos e registros de mensagens de incentivo a um levante eram cogitações individuais sem consequências práticas.

Uma estratégia de defesa válida, mas de difícil digestão para observadores de fora do Supremo Tribunal Federal e ainda mais improvável de ser aceita pelos juízes. Convenhamos, é muita gente pensando na mesma coisa ao mesmo tempo. Não tendo havido golpe, não houve crime, argumentam os pensadores na esperança de que não se leve em conta a tipificação de tentativa constante na lei. Ora, se pensaram, logo existiram como articuladores de uma intentona.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Opinião do dia - Nicolau Maquiavel* (ricos e pobres)

“Tratemos agora do outro aspecto da questão, isto é, vejamos o que ocorre quando um cidadão torna-se príncipe de sua pátria, não por meio de crime ou de outra intolerável violência, mas com a ajuda dos seus compatriotas. O principado assim constituído podemo-lo chamar civil, e para alguém chegar a governá-lo não precisa de ter ou exclusivamente virtude [virtù] ou exclusivamente fortuna, mas, antes, uma astúcia afortunada. Pois bem, a ajuda nesse caso é prestada pelo povo ou pelos próceres locais. É que em qualquer cidade se encontram estas duas forças contrárias, uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo. Destas tendências opostas surge nas cidades, ou o principado ou a liberdade ou a anarquia.

O principado origina-se da vontade do povo ou da dos grandes, conforme a oportunidade se apresente a uma ou a outra dessas duas categorias de indivíduos: os grandes, certos de não poderem resistir ao povo, começam a dar força a um de seus pares, fazem-no príncipe, para à sombra dele terem ensejo de dar largas aos seus apetites; o povo, por sua vez, vendo que não pode fazer frente aos grandes, procede pela mesma forma em relação a um deles para que esse o proteja com a sua autoridade”

*Nicolau Maquiavel (1469-1527) filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política. O Principe (1515), Capitulo lX, p. 45. Editora Martins Afonso, 2014.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

O GLOBO nos próximos 100 anos

O Globo

Muito mudou em um século. Mas a paixão pelo Brasil e pelo jornalismo que nos guia continua a mesma

Quando saiu a primeira edição do GLOBO, há exatos 100 anos, o Brasil era outro país. Com 33 milhões de habitantes, a população era quase um sétimo da atual. Mais de 80% ainda viviam no campo, e algo como 70% eram analfabetos. A expectativa de vida mal chegava a 35 anos. De mil crianças que nasciam, mais de 160 morriam ainda bebês, antes de completar 1 ano. A escravidão, encerrada havia menos de quatro décadas, estava fresca na memória de muitos. A indústria engatinhava, e, numa economia essencialmente agrícola, o PIB per capita — US$ 2.400 em valores de hoje— não alcançava um sétimo do americano. O sistema político era oligárquico, as mulheres não votavam, fraudes e voto de cabresto eram endêmicos. Foi no Rio de Janeiro, então capital federal com perto de 1,2 milhão de habitantes, que Irineu Marinho decidiu lançar seu novo vespertino, dedicado “à defesa das causas populares” e a contribuir “para o futuro esplêndido a que nossa pátria tem direito”.

A cabeça de Trump - Merval Pereira

O Globo

O presidente americano se considera com poderes de transferir seus problemas e ideias pessoais para negociações internacionais

O governo dos Estados Unidos está fechando acordos tarifários com diversos países e impondo condições draconianas à maioria deles. Foi assim com a União Europeia, o Japão, as Filipinas, a Indonésia. Anunciou que todos os países que não fecharem acordo até 1º de agosto serão tarifados entre 15% e 20%. Mas e o Brasil? Nenhum aceno moderador recebeu resposta, muito menos os ataques. O presidente Lula vive um período complicado, se equilibra entre o palácio e o palanque, como definiu com precisão o comentarista do Estúdio i da GloboNews Octavio Guedes.

Um dia é o populista que recupera prestígio junto a seu público atacando os Estados Unidos; no outro, é o estadista que chama Trump para uma negociação de alto nível. O desacordo com os Estados Unidos demonstra não a importância do Brasil para a economia americana, mas sim nossa desimportância. Claro que alguns setores da economia, como o agropecuário e o da indústria americana, sofrerão e devem estar fazendo pressão interna a nosso favor.

No mundo dos acordos tristes - Míriam Leitão

O Globo

Acordos com ares de rendição, como os que têm sido firmados por Trump não

A Europa não gostou. Mas sinceramente ninguém sai feliz de uma conversa com Donald Trump. Que tempo é esse em que o presidente americano ataca países aliados, o sistema de comércio e, no nosso caso, a própria democracia e sai contando vantagem? Houve, ontem, uma série de declarações de chefes de Estado da Europa criticando o acordo fechado entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A Europa tem um superávit de mais de US$ 200 bilhões por ano com os Estados Unidos e ela admitiu que é preciso cortar. Mas a que custo?

A fome em Gaza - Pedro Doria

O Globo

Ele está conduzindo uma guerra bárbara que o Exército e a sociedade israelense rejeitam

Quando enfim a guerra terminar, e ela terminará um dia, as fronteiras de Gaza se reabrirão. Uma onda de jornalistas e ativistas entrará na Faixa. No mesmo dia, o número de imagens à nossa disposição será imenso. Que imagens veremos? Incontáveis prédios destruídos, isso é certo. Prédios reconstroem-se. Mas e as pessoas, como estarão? O relatório da Organização Mundial da Saúde divulgado no domingo aponta que 74 pessoas morreram por desnutrição aguda neste ano. Delas, mais de 63 se foram agora em julho. Um trabalho mais profundo, do IPC, prevê que até setembro haverá 470 mil pessoas com fome em nível 5. O estudo é de abril. O IPC, um painel formado por especialistas e financiado por inúmeros países, tem uma escala para medir fome. Esse nível, o 5, é o pior deles. Chamam de “catástrofe”. Mas é uma previsão, não sabemos ainda se será concretizada. Fome assim dá em corpos esqueléticos, longilíneos, as costelas saltando contra a pele, a cavidade torácica afundada, bochechas ausentes, olhos opacos flutuando sobre círculos negros no meio do rosto. Se o IPC estiver correto, essas serão as imagens de que nos lembraremos da guerra em Gaza.

Contagem regressiva para o tarifaço estressa o mercado - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Nada complica mais as negociações sobre as tarifas de 50% do que fator político-ideológico dessa crise: o apoio declarado de Trump a Bolsonaro

A contagem regressiva para o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos mergulhou empresários, diplomatas e investidores em clima de incerteza e estresse sobre o futuro das relações comerciais e diplomáticas entre os dois países. A poucos dias da entrada em vigor da medida, marcada para 1º de agosto, as pontes de diálogo permanecem frágeis e periféricas.

O Itamaraty mantém o chanceler Mauro Vieira em Nova York, pronto para seguir a Washington caso haja abertura de negociações, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin prepara-se para viajar para buscar uma interlocução de alto nível com a Casa Branca. Nada indica, até o momento, que Trump esteja disposto a recuar.

Casa Branca não reage a tentativa de contato Lula-Trump - Assis Moreira

Valor Econômico

Trabalho de bastidor continua para retomar diálogo com a Casa Branca antes de sanção de 50%

Enquanto Donald Trump não der sinal claro aos negociadores sobre o que fazer com o Brasil, o governo brasileiro continuará trabalhando nos bastidores para retomar diálogo sobre as tarifas.

Essa é a mensagem que o Itamaraty vem dando, com o ministro Mauro Vieira em Nova York pronto para ir a Washington para tentar atenuar os estragos da imposição da chamada 'Tarifa Bolsonaro''.

O governo brasileiro aciona vários canais, oficiais, com interlocutores com acesso à Casa Branca, empresariado, etc. Tudo nos bastidores, sem revelar nomes e pistas que a esta altura só atrapalhariam, notam observadores.

Tem havido muita conversa sobre um possível telefonema entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas primeiro falta uma reação da Casa Branca se efetivamente quer retomar a negociação, na visão brasileira. O trabalho de bastidor é para ter essa reação, que continua sem vir.

Tarifa é arma política do poder sem freio de Trump, diz Levitsky

Por Luiza Palermo / Valor Econômico

Coautor de ‘Como as Democracias Morrem’ vê risco em 2º mandato de republicano

 — De São Paulo - O segundo mandato de Donald Trump ameaça reduzir o nível da democracias no mundo, diferentemente do primeiro período do republicano na Casa Branca, segundo Steven Levitsky, professor de Ciência Política da Universidade Harvard e coautor - com Daniel Ziblatt - do best-seller “Como as Democracias Morrem” (Editora Zahar, 2018). Na década passada, apesar do colapso de instituições em países como Venezuela, Hungria, Turquia e Índia, por exemplo, o número de democracias no mundo se manteve relativamente estável.

Mas com o enfraquecimento institucional de Washington - derivado de um governo que, segundo ele, tem menos freios e se comporta de forma abertamente autoritária -, os EUA ameaçam irradiar instabilidade e influenciar negativamente outros países.

Levitsky exemplifica suas afirmações com o uso das tarifas por Trump - à frente de um governo movido por interesses pessoais - como arma política. Em vez de seguir uma lógica econômica consistente, a política comercial se tornou instrumento de intimidação e de pressão geopolítica, diz Levitsky, que cita o caso do Brasil como exemplo dessas ações.

Segundo Levitsky, a interferência de Trump no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro - réu em processo no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de ser o líder de uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023 - sinaliza a intenção do americano de influenciar as eleições brasileiras de 2026.

A seguir, os principais trechos da entrevista, por telefone, que Levistsky concedeu ao Valor.

Trump precisa refletir sobre importância do Brasil, afirma Lula

Agência O Globo / Valor Econômico

Presidente diz que espera que Brasil e EUA se sentem à mesa para uma negociação

 — De São João da Barra / RJ - A poucos dias do início da taxação de 50% dos produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que espera que o americano Donald Trump reflita sobre a importância do país e que ambos os países se sentem à mesa para uma negociação.

“Espero que o presidente dos Estados Unidos reflita a importância do Brasil. E eu vou fazer aquilo que, no mundo civilizado, a gente faz. Tem divergência? Tem. Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos tentar resolver. E não de forma abrupta, individual, tomar a decisão de taxar em 50%. Isso é o filho do coiso [em referência a Eduardo Bolsonaro] e o coiso [em alusão a Jair Bolsonaro] que estão pedindo para fazer.”

Às vésperas do tarifaço e sem negociação a vista, Lula recebe plano de contingência

Por Renan Truffi e Sofia Aguiar / Valor Econômico

Medidas já estão com presidente, diz Haddad, mas orientação ainda é buscar saída negociada

 — De Brasília - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou nessa segunda-feira (28) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um plano de contingência para socorrer as empresas que vierem a ser afetadas pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Apesar disso, segundo o ministro, a ordem no governo continua sendo a mesma: tentar costurar um acordo com as autoridades americanas para evitar que os produtos brasileiros sejam taxados em 50% a partir de 1º de agosto, sexta-feira.

Haddad falou à imprensa após se reunir com Lula e outros ministros no Palácio do Planalto. “Os cenários possíveis já são de conhecimento do presidente Lula, nos debruçamos sobre isso agora. O importante é que o presidente tem na mão os cenários todos que foram definidos pelos quatro ministérios”, disse, ao se referir aos ministérios da Fazenda, Mdic, Casa Civil e Itamaraty, diretamente envolvidos na formulação das medidas.

Senadores concluem que Trump só se satisfaz se humilhar Lula - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Como Lula não aceitará humilhação, é preferível acreditar que o Brasil viverá a guerra do fim do mundo

O primeiro dia de sua viagem aos Estados Unidos levou a comitiva de senadores a uma conclusão desoladora. Donald Trump precisará humilhar o presidente brasileiro para se sentir vitorioso, como fez com Volodymyr Zelensky. Foi isso que ouviram.

Não apenas. O Brasil caminha para ficar fora da vala comum dos 15% a 20% anunciados por Donald Trump e cair mesmo nos 50% de tarifa a partir de 1º de agosto. A questão Jair Bolsonaro é incontornável e Trump tem certeza de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não interfere no processo judicial porque não quer. O processo é definido como um “ponto irritante” da relação porque Trump se identifica com o que vê como uma “perseguição” a Bolsonaro.

A perda de brilho da estrela do progressismo ocidental - Edward Luce

Financial Times / Valor Econômico

Intolerância e falta de convicção são defeitos de caráter que trazem maus presságios para partidos de centro e centro-esquerda

As leis da hidráulica foram quebradas. O índice de aprovação de Donald Trump caiu para o menor patamar de seu segundo mandato, mas o do Partido Democrata caiu ainda mais. Os democratas deveriam estar em alta. Apenas um terço dos americanos os aprova. Praticamente o mesmo pode ser dito dos partidos de centro e centro-esquerda pelo Ocidente. A exceção é o Canadá. Isso porque o Partido Liberal, de Mark Carney, é o mais firme defensor da soberania canadense — a oposição estava apegada demais a Trump. O Canadá, entretanto, é uma exceção à regra. O progressismo ocidental ainda está em debandada.

Comércio mundial e o atalho perigoso - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

O fortalecimento da OMC reduziria, no futuro, o risco de surgimento de novos Trumps no comércio internacional

Bem, 1.º de agosto está aí. Falastrão, o presidente norteamericano, Donald Trump, em vários episódios, não conseguiu levar adiante suas ameaças grosseiras e destemperadas – precisou recuar. Mas há temor de que, no caso da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto, ele queira transformar o Brasil em caso exemplar de sua política externa e comercial. Embora um grupo de fanáticos de direita tente disseminar a falsa ideia de que Trump está salvando o Brasil, é difícil imaginar que brasileiros se beneficiem de uma decisão externa que, pelo método e pela truculência, para além de seu impacto econômico, desrespeita a soberania do País. Pesquisa recente mostrou que mais de sete entre dez pessoas acham que o melhor seria governo e oposição se unirem na defesa dos interesses nacionais. É igualmente difícil imaginar que isso possa ocorrer.