A PRIORIDADE DA FAXINA NO CENTRO DO RIO
Villas-Bôas Corrêa
Villas-Bôas Corrêa
A ampla cobertura da chocha campanha para a eleição de prefeitos e vereadores no primeiro domingo de outubro alterna alguns exemplos de áspera rivalidade municipal, que se dissolvem na pasmaceira que lembra as velhas preliminares dos antigos campeonatos de futebol. O mandato de prefeito baixou à categoria de escada para o pódio do governador do Estado.E daí, o vôo para o infinito.
No Rio, o exemplo calça como uma luva na maioria dos municípios. Com algumas curiosas extravagâncias a denunciar que, da penca de candidatos, muitos não conhecem a ex-Cidade Maravilhosa. Não é necessário identificar os pilotos que voam acima nas nuvens das mazelas que infernizam o cotidiano do morador do Rio, pois todos parecem empenhados em salvar a cidade com obras fantásticas na periferia, sem sequer olhar para o antigo centro político, ad- ministrativo, cultural, econômico e artístico condenado à decadência do desmazelo, do abandono na longa penitência que começa com a mudança da capital para Brasília em obras, em 21 de abril de 1960.
Iludiu-se com o engodo do Estado da Guanabara e mergulhou de cabeça no declínio com a calamitosa fusão com o Estado do Rio de Janeiro. De lá para cá, nem o governador do Estado cuida da cidade e muito menos prefeitos dispõem de recursos e prestígio político para falar grosso com os hóspedes com mandato de donos do mundo do Palácio do Planalto, do Palácio Alvorada e da Granja do Torto. Mas se a consolidação de Brasília não sustentou o prestígio do Congresso, ora engolfado na crise ética que respinga nos três poderes, também não justifica o abandono da área mais nobre da cidade fundada por Estácio de Sá em 1º março de 1565.
O Centro do Rio, que se percorria a pé a qualquer hora do dia e da noite sem qualquer risco é uma vasta área sem limites precisos para a serventia dos que nele moram, trabalham ou freqüentam. Mas da Praça Mauá ao Monroe ligados pela Avenida Rio Branco e da Praça 15 de Novembro ao Campo de Sant"Ana, na Praça da República ainda é o Centro do Rio. E que, em poucos anos, virou uma imensa lixeira, com detritos amontoados nas praças, ruas, calçadas. A catinga é insuportável.
Neste cenário de miséria comparável aos piores flagrantes do calvário de infelizes dizimados pela fome e a violência nas manchas da África e da Ásia, uma população errante pede esmolas ou um prato de comida, cata papéis, enquanto gangues de marmanjos e menores maltrapilhos furtam os incautos que ousam passar pelas áreas de risco. Durante o dia, a limpeza urbana garante condições de higiene razoáveis no miolo da cidade. E a presença da polícia reduz o numero de roubo dos trombadinhas que arrancam as bolsas das senhoras, os relógios e celulares dos distraídos.
O candidato a prefeito do Rio logicamente deve procurar solução para todos os problemas da cidade. E aproveitar as facilidades da campanha para o debate das mazelas de cada bairro, até de cada rua. Com o salvo-conduto dos líderes do tráfico da favela, subir o morro para ouvir as queixas dos moradores e buscar o alívio possível. Promessas o vento leva. Duplicação de avenidas, alargamento de ruas, policiamento em cada esquina, redução da carga de impostos, o fim da novela da roubalheira da recuperação da baía de Guanabara não enganam nem as crianças de colo. O eleitor quer ser tratado com respeito. E quem quiser entrar na corrente para usar o voto como protesto, deve usar a arma para a renovação moralizadora.
Quem não sabe escolher o seu candidato, não merece ser eleitor.
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