Gustavo Paul
Brasília
DEU EM O GLOBO
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Às vésperas do Real, BC estocou 130 milhões de cédulas de R$ 100 temendo inflação
Lançado há 15 anos, em 1º de julho de 1994, o Plano Real entrou para a história como o mais bem sucedido plano brasileiro de estabilização econômica. Mas essa certeza foi sendo forjada apenas ao longo dos anos, no gerenciamento diário das medidas. Antes de ganhar as ruas, o Real era um celeiro de ideias e dúvidas. Durante o período de preparação do plano, o Banco Central comandado por Pedro Malan, temia um fracasso total, com a inflação voltando, em pouco tempo, a disparar.
Para se precaver de um possível aumento da procura por papel-moeda, a direção do BC encomendou, discretamente, a impressão de 130 milhões de cédulas de 100 reais na véspera do lançamento da moeda no mercado, em 1º de julho de 1994.
Segundo revela, uma década e meia depois, o então presidente da Casa da Moeda, Tarcísio Jorge Caldas Pereira, ter cédulas em estoque para colocar na praça foi uma estratégia preventiva, que tinha como base o insucesso de seis planos anteriores: — Para o Banco Central, poderia faltar troco na economia, mas tinha de haver papel-moeda circulando.
Mas os preços não dispararam e por isso, até 2006, o Banco Central não encomendou novas cédulas de R$ 100.
Segundo João Sidney de Figueiredo Lima, atual chefe do Departamento do Meio Circulante do BC, o grande volume de cédulas produzidas, assinadas pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique, foi suficiente para abastecer o mercado por anos: — As autoridades foram prudentes, pois não se sabia o que podia acontecer. E as cédulas duraram até 2007! Ficamos sem fazer cédulas de R$ 100 por 12 anos.
Mesmo sem ser o titular da Fazenda quando o Real foi lançado — ele passou o cargo a Rubens Ricupero em 30 de março — Fernando Henrique estampava sua assinatura nas notas pois os modelos foram aprovados pelo presidente Itamar Franco quando ele ainda comandava a equipe econômica.
A linha de produção da Casa da Moeda deixou prontas outras levas entre 100 mil e 200 mil notas de R$ 100. Ficaram armazenadas, sem assinaturas.
Por isso, diz Lima, ainda em 1994 foram impressas algumas milhares de notas com a assinatura de Ricupero, que ficou no cargo pouco mais de cinco meses. Malan, ministro a partir de 1995, também assinou alguns milheiros.
O processo de confecção das cédulas começou muito antes do fechamento dos detalhes do plano. Logo no início de dezembro de 1993, quando a Fazenda anunciou ao país os detalhes do plano de estabilização — com a criação da Unidade Real de Valor (URV), que faria a transição entre o cruzeiro real e a nova moeda —, FH encomendou à Casa da Moeda estudos sobre novas moedas e cédulas. Segundo um assessor direto do ex-ministro, ele não chegou a apresentá-los a Itamar e demais membros da equipe, ainda inseguros quanto aos prazos de implantação da nova moeda.
Fernando Henrique queria ter tudo adiantado para pôr o real em circulação o quanto antes. Em janeiro, os esboços da nova família de moedas estavam prontos e foram aprovados. A produção começou em março. Durante os quatro meses seguintes, a equipe da Casa da Moeda trabalhou em dois turnos de 12 horas, para produzir as novas cédulas e moedas e ainda para abastecer o mercado com cruzeiros reais. Faltou até aço inoxidável para dar conta da produção.
— Em cinco meses produzimos o que normalmente faríamos em um ano.
Até funcionários já afastados foram chamados — conta Caldas Pereira.
Assustado com o primeiro prazo colocado pelo governo para o Real — 1º de maio — o BC decidiu reforçar a produção das notas de menor valor e abriu em março uma licitação internacional.
Segundo Lima, empresas de Alemanha, Inglaterra e França produziram 10% das cédulas que circularam no início do real. Até o fim de 1994, 260 milhões de notas de R$ 5, R$ 10 e R$ 50 vieram do exterior. Hoje, são exemplares de colecionador.
Lançado há 15 anos, em 1º de julho de 1994, o Plano Real entrou para a história como o mais bem sucedido plano brasileiro de estabilização econômica. Mas essa certeza foi sendo forjada apenas ao longo dos anos, no gerenciamento diário das medidas. Antes de ganhar as ruas, o Real era um celeiro de ideias e dúvidas. Durante o período de preparação do plano, o Banco Central comandado por Pedro Malan, temia um fracasso total, com a inflação voltando, em pouco tempo, a disparar.
Para se precaver de um possível aumento da procura por papel-moeda, a direção do BC encomendou, discretamente, a impressão de 130 milhões de cédulas de 100 reais na véspera do lançamento da moeda no mercado, em 1º de julho de 1994.
Segundo revela, uma década e meia depois, o então presidente da Casa da Moeda, Tarcísio Jorge Caldas Pereira, ter cédulas em estoque para colocar na praça foi uma estratégia preventiva, que tinha como base o insucesso de seis planos anteriores: — Para o Banco Central, poderia faltar troco na economia, mas tinha de haver papel-moeda circulando.
Mas os preços não dispararam e por isso, até 2006, o Banco Central não encomendou novas cédulas de R$ 100.
Segundo João Sidney de Figueiredo Lima, atual chefe do Departamento do Meio Circulante do BC, o grande volume de cédulas produzidas, assinadas pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique, foi suficiente para abastecer o mercado por anos: — As autoridades foram prudentes, pois não se sabia o que podia acontecer. E as cédulas duraram até 2007! Ficamos sem fazer cédulas de R$ 100 por 12 anos.
Mesmo sem ser o titular da Fazenda quando o Real foi lançado — ele passou o cargo a Rubens Ricupero em 30 de março — Fernando Henrique estampava sua assinatura nas notas pois os modelos foram aprovados pelo presidente Itamar Franco quando ele ainda comandava a equipe econômica.
A linha de produção da Casa da Moeda deixou prontas outras levas entre 100 mil e 200 mil notas de R$ 100. Ficaram armazenadas, sem assinaturas.
Por isso, diz Lima, ainda em 1994 foram impressas algumas milhares de notas com a assinatura de Ricupero, que ficou no cargo pouco mais de cinco meses. Malan, ministro a partir de 1995, também assinou alguns milheiros.
O processo de confecção das cédulas começou muito antes do fechamento dos detalhes do plano. Logo no início de dezembro de 1993, quando a Fazenda anunciou ao país os detalhes do plano de estabilização — com a criação da Unidade Real de Valor (URV), que faria a transição entre o cruzeiro real e a nova moeda —, FH encomendou à Casa da Moeda estudos sobre novas moedas e cédulas. Segundo um assessor direto do ex-ministro, ele não chegou a apresentá-los a Itamar e demais membros da equipe, ainda inseguros quanto aos prazos de implantação da nova moeda.
Fernando Henrique queria ter tudo adiantado para pôr o real em circulação o quanto antes. Em janeiro, os esboços da nova família de moedas estavam prontos e foram aprovados. A produção começou em março. Durante os quatro meses seguintes, a equipe da Casa da Moeda trabalhou em dois turnos de 12 horas, para produzir as novas cédulas e moedas e ainda para abastecer o mercado com cruzeiros reais. Faltou até aço inoxidável para dar conta da produção.
— Em cinco meses produzimos o que normalmente faríamos em um ano.
Até funcionários já afastados foram chamados — conta Caldas Pereira.
Assustado com o primeiro prazo colocado pelo governo para o Real — 1º de maio — o BC decidiu reforçar a produção das notas de menor valor e abriu em março uma licitação internacional.
Segundo Lima, empresas de Alemanha, Inglaterra e França produziram 10% das cédulas que circularam no início do real. Até o fim de 1994, 260 milhões de notas de R$ 5, R$ 10 e R$ 50 vieram do exterior. Hoje, são exemplares de colecionador.
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